Ciência
17/09/2022 às 05:00•2 min de leitura
Talvez, você até possa imaginar que um peixe com cabeça transparente seja algo incomum. Mas, quando se trata das profundezas dos nossos mares, o que mais existe são seres com características bizarras. O problema é estudá-los, especialmente devido à dificuldade extrema de serem encontrados, dado o habitat onde vivem.
No final do ano passado, o Monterey Bay Aquarium Research Institute California (MBARI) conseguiu uma proeza até então inimaginável. Os pesquisadores do instituto não somente conseguiram encontrar um peixe olho-de-barril (Macropinna microstoma), como também fizeram ótimas filmagens de seus olhos tubulares e de sua cabeça transparente.
(MBARI/Monterey Bay Aquarium Research Institute/Reprodução
Para uma ideia mais clara do quanto é difícil encontrar esse animal, basta considerar que os veículos controlados remotamente pelo MBARI fizeram mais de 5.600 mergulhos, resultando em cerca de 27.600 horas de gravações. E em meio a isso, o peixe olho-de-barril foi visto apenas nove vezes!
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Esse animal tem cerca de 15 centímetros e prefere viver em águas profundas do oceano, especialmente no norte do Pacífico, nas proximidades da costa da Califórnia (EUA). No entanto, ele também existe nos oceanos Atlântico e Índico. Pesquisadores também já encontraram esse peixe nas águas profundas que se estendem da Baixa Califórnia, ao Mar de Bering e Japão.
(Fonte: MBARI/Monterey Bay Aquarium Research Institute/Reprodução)
O olho-de-barril vive entre 600 e 800 metros de profundidade devido aos seus olhos tubulares, muito sensíveis à luz. E aqui já começa as particularidades incríveis desse animal.
Se você olhar atentamente para os olhos de um Macropinna microstoma, existe uma grande possibilidade de estar observando o seu nariz. Os pequenos objetos redondos situados logo acima de sua boca, na verdade, são seus órgãos olfativos.
Os olhos são as semi-esferas de coloração esverdeadas localizadas no topo da cabeça. Aliás, seu nome vem do formato tubular de seus olhos. O olho do Macropinna microstoma também consegue girar dentro de sua cabeça: para trás, para a cima ou para frente, possuindo uma ultra-sensibilidade que lhe permite encontrar silhuetas de presas no alto.
As cabeças alienígenas do peixe olho-de-barril são compostas por uma espécie de escudo e fluido que protege tudo o que está lá dentro. Ele pode tranquilamente girar seus olhos sem ter a visão afetada por essa proteção. Aliás, essa capacidade era uma dúvida de décadas, sanada graças as observações do MBARI.
Através da cúpula transparente do Macropinna microstoma, além dos olhos, é possível ver suas terminações nervosas e até o cérebro. Embora seja tudo muito incrível, o escudo com fluido é extremamente frágil e nas vezes em que foi possível trazer o animal das profundezas para ser pesquisado, essa parte acabou danificada.
Os registros históricos apontam que o peixe olho-de-barril foi descoberto em 1939. No entanto, ninguém sabia que sua cabeça era transparente ou que seus olhos podiam girar. Isso porque os espécimes encontrados foram capturados por redes de pesca e estavam mortos. E quando mortos, a característica da transparência de seu crânio desaparece. É por isso que se pensava que ele só conseguia olhar para frente.
Até 2004, o peixe olho-de-barril não era uma espécie confirmada. E como de lá para cá poucos exemplares foram vistos e estudados em seu habitat, ainda não sabemos muito sobre seu tempo de vida ou qual o tamanho de sua população nos oceanos.