Artes/cultura
29/06/2022 às 09:00•2 min de leitura
É bem provável que você saiba como é sentir dor. Mas já parou para pensar se um gato ou um cão sentem dor da mesma forma que você? Ou um polvo? E que tal uma lagosta?
Robyn J. Crook é um biólogo evolucionista que há algum tempo deu algumas perspectivas sobre esse assunto em um vídeo do TED-Ed (que você pode conferir ao final deste artigo com legendas em português).
Para Crook, é fundamental que continuemos tentando entender a dor animal, afinal, eles estão presentes em nossas vidas como bichos de estimação, em testes de novos medicamentos e em nossa alimentação.
(Fonte: Shutterstock)
Em seu vídeo, Crook explica que até mesmo os animais com sistemas nervosos básicos sentem, por meio dos nervos da pele, que existe algo prejudicial. Então, comunicam essa informação de ameaça à medula espinhal. Por sua vez, os neurônios motores causam os movimentos de fuga da ameaça. Esse processo é chamado "reconhecimento físico do dano", ou nocicepção.
Mas, além disso, ainda existe o reconhecimento consciente do dano. Crook diz que nos seres humanos isso ocorre quando neurônios sensoriais em nossa epiderme fazem uma espécie de segunda ativação das conexões da medula espinhal para o cérebro.
Em nós, o reconhecimento consciente da dor é algo muito complexo. Por exemplo, pode estar relacionado com o estresse, pânico e medo. E nós podemos comunicar isso às outras pessoas.
O jornalista científico Ed Yong, em seu livro An Imense World, aponta ser algo extremamente difícil dizer como um animal sente dor. Ele destaca alguns aspectos importantes nesse sentindo.
Por exemplo, um animal pode experimentar a realidade física da dor de uma forma completamente diferente dos humanos: campos elétricos, cheiros e até mesmo correntes de água. Ou seja, a percepção de dor de um animal é moldada pelos sentidos que ele desenvolveu no ambiente em que habita.
Já Crook ressalta em seu vídeo do TED que na natureza os animais feridos costumam se cuidar, se isolar e até emitem barulhos sobre sua angústia.
O biólogo também cita que animais como ratos e galinhas aprendem a administrar em si mesmos analgésicos em testes de laboratório quando estão sofrendo. Já outros animais, tendem a evitar situações que geraram dor anteriormente.
No entanto, a maioria desses comportamentos está associado a animais vertebrados. Com os animais invertebrados, muitos dos quais possuem complicados sistemas nervosos, a situação é ainda mais difícil de ser entendida.
O polvo, um animal invertebrado e considerado um dos mais inteligentes da Terra, quando machuca um de seus braços o enrola para protegê-lo.
(Fonte: Shutterstock)
No entanto, ele usa esse mesmo braço ferido se precisar para capturar uma presa. Nesse caso, Crook diz que esse comportamento sugere que alguns animais podem fazer julgamentos de valor sobre o ponto de entrada dor (o machucado) em vez de somente reagir de forma reflexiva ao dano.
Embora saibamos pouco sobre a dor nos animais, algumas descobertas já ajudam (ou tentam) a causar menos sofrimento a eles. Em alguns países, comer polvo vivo já se tornou proibido. Outros têm regras sobre o consumo de caranguejos e lagostas: apesar de não sabermos exatamente como eles sentem dor, devem ser atordoados com eletricidade ou esfaqueados (mortos) antes de irem para a panela para que, teoricamente, não sintam tanta dor ao serem fervidos.