Ciência
04/05/2023 às 10:00•2 min de leitura
Estima-se que o governante Naram-Sin de Akkad tenha reinado durante algum momento entre os anos 2218 e 2255 a.C., embora as datas exatas de duração do seu reinado ainda estejam sujeitas a pesquisas. Mas, o que se sabe, é que ele foi o primeiro governante a se autodeclarar divino. Conforme a própria inscrição de sua tumba, o próprio povo mesopotâmico desejava que ele fosse o deus de sua cidade.
Esse pode ter sido o princípio da concepção do direito divino dos reis, que ganhou força na Europa medieval do século XVI e se estendeu por todo o período em que as monarquias prevaleceram. Conforme essa teoria, os monarcas derivam sua autoridade de Deus e não podem ser responsabilizados por suas ações por meios humanos, ou seja, nunca podem ser julgados.
Ela também acompanhava a norma de que nenhum membro real poderia ser tocado. Portanto, foi assim que garotos foram empregados para apanhar no lugar dos futuros monarcas, uma profissão conhecida como "whipping boy".
(Fonte: Wikimedia Commons)
Assim como os faraós, os monarcas europeus, especialmente os ingleses, eram vistos como governantes por direito divino, nomeados por Deus, e além de suas ações não poderem ser contestadas, também eram intocáveis. Ninguém podia chegar perto de um monarca sem a sua permissão, tampouco tocá-lo, caso contrário podendo ser submetido a severas punições e até mesmo à morte.
Portanto, tutores, treinadores e outros encarregados de toda a estrutura educacional do príncipe não podiam açoitar ou puni-lo fisicamente quando ele se comportasse mal. Para isso, um garoto foi encarregado de receber a punição física em seu lugar.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Embora a evidência seja um pouco circunstancial, os historiadores creem que esse trabalho, por assim dizer, realmente existiu. Os meninos geralmente integravam a aristocracia, bem-nascidos em casas nobres menores que almejavam ascender nas fileiras sociais – afinal, todos queriam estar próximos a um monarca, não é para menos que limpar a bunda do rei era o trabalho mais disputado da Era Tudor.
Em outros casos, no entanto, o menino poderia ser de rua ou escravo, cuja família não tinha condições de mandá-lo para escola e via nessa oportunidade uma maneira de ele ter a melhor educação.
Uma vez que o garoto era escolhido, ele se juntava à corte real, se tornando um companheiro íntimo do rei. Ele seria educado como um nobre aluno e compartilharia de uma série de privilégios na realeza. Era o trabalho dos sonhos de qualquer um naquela época.
(Fonte: Getty Images)
Em alguns dias nenhum castigo físico era necessário, mas em outros o garoto era chicoteado nas costas, na bunda e nas palmas das mãos várias vezes. Ele também poderia ser obrigado a se ajoelhar no milho ou levar tapas nas bochechas. Vale ressaltar que os professores, comparados com um membro da realeza, estavam em um nível muito baixo na escala social, chegando a ser até inapropriado para eles punir alguém.
Acredita-se que a psicologia por trás de punir o menino no lugar de um futuro monarca estava na ideia de fazer com que alguém importante para o jovem sofresse caso não mantivesse uma boa conduta, esperando moralidade, compaixão e piedade do nobre.
Mas nem sempre isso funcionava, principalmente dependendo da natureza e disposição do príncipe. No caso do jovem Luís XV da França, o garoto chicoteado era filho de um sapateiro, e o futuro rei negligenciou ao máximo seus estudos para que o pobre garoto sofresse nas mãos de seus tutores, sem conseguir tirar nenhum proveito daquela vida que ele não fazia parte.