Artes/cultura
16/09/2023 às 12:00•2 min de leitura
Desde as antigas histórias do Conde Drácula, passando por Crepúsculo e séries como True Blood e Castelvânia, os vampiros sempre desempenharam um curioso papel em nossa cultura, por meio de histórias sangrentas que alinham romance, violência e morte. Um dos maiores “dogmas” desses contos diz que os vampiros podem ser afastados por uma simples réstia de alho.
A planta bulbosa, do gênero Allium, é considerada um repelente eficaz contra os vampiros desde que as histórias desses monstros, baseadas na mitologia e folclore europeus, começaram a chegar até nós. Mas de onde veio essa superstição?
(Fonte: Getty Images)
Embora existam várias teorias sobre os supostos motivos pelos quais os mortos-vivos sugadores de sangue fogem do alho, uma das mais populares remete a uma doença real, a porfiria. A condição é causada pelo acúmulo de substâncias chamadas porfirinas no corpo. Isso ocorre devido a uma deficiência de enzimas que deveriam transformar essa substância em heme, um importante componente da hemoglobina do sangue.
Em excesso nos tecidos, as porfirinas se tornam tóxicas e produzem diversos sintomas, como retração gengival (fazendo os dentes parecerem mais longos), pele pálida, hipersensibilidade à luz solar e intolerância a alimentos com alto teor de enxofre (como é o caso do alho). Ocorre também um desejo por sangue, para repor o suprimento de hemoglobinas, proteínas presentes nas células vermelhas (hemácias).
Como se vê, o conjunto de sintomas da doença é muito parecido com a descrição de Drácula feita pelo escritor irlandês Bram Stoker em 1897, no romance de mesmo nome. O próprio termo "porfiria" vem da palavra grega que significa "pigmento púrpura", aparentemente referindo-se à cor roxa avermelhada dos fluidos corporais dos pacientes da doença.
(Fonte: New Line Cinema/Divulgação)
Outra teoria sobre a sensibilidade de vampiros ao alho vem de alguns relatos científicos, que ligam a lenda do vampirismo a uma epidemia de raiva humana (hidrofobia) ocorrida na Hungria em 1720. As pessoas são infectadas por essa doença aguda infecciosa grave após terem sido arranhadas ou mordidas por um animal portador do Lyssavirus.
Os sintomas clássicos da raiva incluem: agressividade e vontade de morder, insônia com deambulação noturna, pavor à água e uma hipersensibilidade que provoca reações adversas a espelhos, luz solar e plantas com odores fortes, como o alho.
Dessa forma, é possível afirmar que o emprego do alho na proteção das populações pode ter se baseado no conceito da homeopatia, o sistema de medicina que opera com o princípio "semelhante cura semelhante". Assim, qualquer substância que cause sintomas em uma pessoa pode ser usada em doses diluídas para provocar a sua cura. Precavidas, as pessoas não só portavam o alho, mas o penduravam nas portas, janelas e chaminés.