Ciência
07/04/2024 às 12:00•2 min de leituraAtualizado em 07/04/2024 às 12:00
Que os pássaros são exímios voadores, todos nós sabemos, mas permanecer no ar durante dez meses seguidos, sem pousar nem por um momento é, com certeza, um recorde absoluto. E um estudo de outubro de 2016, publicado na Current Biology, autenticou o nome do campeão: o andorinhão-comum, ou andorinhão-preto (Apus apus).
Apesar de já ter sido proposta na década de 1970, pelo ornitólogo galês Ronald Lockley, a resiliência dos andorinhões-comuns durante os voos só foi testada quase meio século depois, por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Lund, na Suécia, que conseguiu comprovar a teoria do respeitado observador de aves.
Na verdade, nem todos os pássaros observados no estudo atingiram a marca de dez meses: a maioria fez pousos intermediários. E a diferença entre os que desceram e os que continuaram estava nas penas, segundo os pesquisadores. Os que pousaram não tiveram mudanças, enquanto os resilientes mudaram e ganharam penas novas em suas asas durante o voo.
Para testar as teorias de Lockley, os autores seguiram as trajetórias de 13 andorinhões-comuns adultos, marcando-os com pequenos registradores de dados equipados com acelerômetros (para medir a atividade de voo), além de sensores de nível de luz, para possibilitar sua localização. Algumas das aves estavam indo da Suécia para o sul do Saara durante o inverno, e retornando em seguida.
As observações comprovaram as hipóteses: as aves permaneceram no ar grande parte de suas vidas, ficando em terra firme por apenas dois meses, o suficiente para procriar. Só três andorinhões ficaram 100% do tempo no ar, mas, mesmo os que fizeram pousos eventuais, atingiram uma marca de 99,5% do tempo voando.
Os andorinhões-pretos foram seguidos pelos pesquisadores por vários anos durante o seu longo bate e volta, um feito impressionante tanto para quem voa como para quem observa, uma vez que se tratam de pequenas aves — com 40 gramas e 16 centímetros do bico à ponta da cauda.
Em entrevistas à Nature, o primeiro autor do artigo, Anders Hedenström explica o segredo da resiliência desses resilientes vodores: “Os andorinhões evoluíram para serem voadores muito eficientes, com formas corporais aerodinâmicas e asas longas e estreitas, gerando força de sustentação a baixo custo”.
Isso significa que os A. apus evoluíram para utilizar pouca energia durante os seus longos voos. Além disso, eles sempre conseguem obter um reabastecimento extra de calorias, consumindo pequenos insetos que encontram pelo caminho. Quanto ao sono, “eles podem agir como uma fragata e dormir enquanto planam”, especula Hedenström, em um comunicado.