Mistérios
26/03/2018 às 15:00•2 min de leitura
Imagine como seria cômodo para um “arqueólogo” fabricar suas próprias descobertas: aparentemente, James Meellart, falecido em 2012, usou essa estratégia durante muito tempo. Isso foi o que disse ao Live Science o geoarqueólogo Eberhard Zangger, presidente do Luwian Studies, fundação suíça que promove o estudo arqueológico do oeste da Ásia menor.
Área de escavações em Çatalhöyük, Turquia
James Meellart foi um arqueólogo inglês, conhecido pela descoberta do assentamento neolítico de Çatalhöyük, na Turquia. Sua história sempre foi cheia de polêmicas e atitudes suspeitas. Por exemplo, em 1964 foi proibido de continuar suas escavações na Turquia, após acusação de que estaria ajudando contrabandistas na venda de artefatos roubados.
Segundo Zangger, seu primeiro contato com Meellart foi em 1995, quando ele o procurou afirmando ter encontrado inscrições — supostamente de uma antiga vila Turca chamada Beyköy — em Luwian, língua antiga da região, e precisando de seu auxílio para publicação do estudo. Segundo ele, trechos já tinham sido traduzidos por outros arqueólogos, todos já falecidos naquele momento. Na época, a parceria não avançou, e nada relevante foi publicado sobre o assunto.
Após a morte de Meellart, Zangger encontrou no apartamento dele um bilhete dizendo que, se o material sobre Beyköy não tivesse sido publicado até a sua morte, outros cientistas deveriam fazê-lo. Zangger e Fred Woudhuizen, um pesquisador independente, resolveram retomar o projeto e publicar os achados como pedia o bilhete. Foi uma forma de divulgar um conhecimento que ficaria perdido; no entanto, após a publicação alguns acadêmicos apontaram que aquilo podia ser uma falsificação.
Suposto material encontrado por Meellart em Çatalhöyük
Zangger resolveu investigar se isso realmente era verdade e foi novamente ao apartamento de Meellart com a intenção de descobrir o que havia de errado com as inscrições. O que ele encontrou foi decepcionante, pois Meellart não só conseguia ler na linguagem Luwian, como era um profundo especialista sobre o tema. Ainda foram encontradas peças de xisto gravadas com esboços iniciais de inscrições, que ele afirmava ter encontrado na Turquia — levando Zangger a crer que se tratavam de peças falsificadas também.
Além disso, havia correspondências mostrando que Meellart entrou em contato com outros arqueólogos para tentar fazer com que se interessasem em publicar as falsificações antes que ele morresse. Para Zangger, isso só prova que ele não tinha escúpulo algum, pois tentava validar suas falsificações às custas da carreira de outros arqueólogos.
Todos os materiais produzidos por Meellart, desde 1962, traziam somente desenhos das inscrições e nunca fotos das peças. Agora a comunidade científica não sabe dizer o que era real no que foi publicado.
Textos criado por Meellart como se fossem descobertas
Com todas essas descobertas, Zangger e Woudhuizen analisaram as inscrições a fundo, procurando falhas ou possíveis furos na história que confirmassem as falsificações, mas até a publicação dessa história pela Live Science tudo fazia sentido. Isso mostrou que James Meellart tinha muita capacidade e usou seu grande conhecimento para forjar um material histórico, fazendo um uso prejudicial de seu talento e causando um imenso problema nos estudos arqueológicos.