Comer insetos pode fazer bem para a saúde e para o meio-ambiente

24/04/2020 às 12:045 min de leitura

O ato de consumir insetos, cujo nome técnico é entomofagia, é uma prática que existe há vários séculos. Ela é incorporada em diferentes hábitos culinários em todo o mundo, incluindo países da América Latina, Ásia e África. Mesmo assim, ainda é vista como algo horripilante na cultura ocidental, normalmente sendo apresentada em reality shows que levam seus participantes ao extremo.

Mas não precisa ser tão assustador assim. Os insetos fazem parte da alimentação de muitos animais, e além de serem extremamente ricos em nutrientes (incluindo proteínas e todos os nove aminoácidos essenciais para o ser humano), eles também podem ser uma iguaria deliciosa.

Eu imagino que muita gente torceu o nariz com a frase acima, pensando em um prato de salada com uma aranha no meio, ou uma grande porção crocante de grilos, porém, não é necessário introduzi-los na sua dieta dessa forma (mas também está liberado, se for o que você curte!). Existem vários especialistas que oferecem dicas sobre como assimilar os insetos no cardápio, e de várias formas diferentes. Para saber mais, é só continuar lendo essa matéria!

(Fonte: Pixabay/Reprodução)(Fonte: Pixabay/Reprodução)

Bons para o ambiente e altamente nutritivos

A realidade é que os seres humanos precisam começar a repensar o modo como produzimos nossos alimentos e o que escolhemos consumir. Estes dois fatores são muito importantes não só para ajudar no controle das mudanças climáticas, mas também para a segurança alimentar.

A criação do gado exige muito espaço e água disponíveis, o que diminui a quantidade de árvores, afetando assim a capacidade natural do planeta de processar dióxido de carbono.  E nos últimos dez anos, a indústria global de carne foi considerada como responsável por, pelo menos, 20% das emissões de gases de efeito estufa, sendo considerada uma prática insustentável.

Além disso, uma coisa que vocês provavelmente não querem saber sobre seus futuros bifes, é que vacas e outros ruminantes são extremamente flatulentos, então por mais que sejam saborosos, não podem ser considerados uma forma muito ecológica de nutrição.

Ainda assim, a carne ainda serve como principal fonte de proteína para muitas pessoas, por ser facilmente acessível e não tão cara. E é aí que os insetos provam sua eficiência.

(Fonte: Pixabay/Reprodução)(Fonte: Pixabay/Reprodução)

Em 2013, um relatório publicado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) atestou os benefícios da entomofagia e como pode ser a resposta que a humanidade tanto procura. 

O documento apontou o rico conteúdo nutricional dos insetos, que, embora possa variar de uma espécie para outra, ainda contém até o dobro da quantidade de proteína que a carne bovina e 1,5 vezes a quantidade de proteína de peixes e aves. 

O tamanho pequeno também é vantajoso. Andrea Liceaga, professora associada de ciência de alimentos na Faculdade de Agricultura da Universidade de Purdue afirmou que “Os insetos estão definitivamente na extremidade inferior do impacto ambiental. Eles não precisam de muita água, nem muito espaço ou comida, e a taxa de avanço/crescimento é quase 1 para 1”. 

Este valor é tecnicamente conhecido como conversão alimentar, sendo a dos insetos mais eficiente que a proporção de 2 para 1 das aves, e bem melhor que a de 6 para 1 do gado.

Ocupam pouco espaço e podem ser aprimorados

Além disso, existem muitas bocas para alimentar na Terra. Em 2018, já havíamos atingido 7,5 bilhões de pessoas em todo mundo, e segundo a OMS e a FAO, 815 milhões delas sofriam de desnutrição crônica. A ONU estima que até 2050, a população mundial chegará a 9,8 bilhões, tornando necessário quase dobrar nossa produção de alimentos. E se considerarmos o fato que já estamos ficando sem espaço para cultivar nossos alimentos, e com a taxa de desnutrição aumentando, os insetos provam ser mais uma vez uma ótima alternativa.

(Fonte: SatyaPrem/Pixabay/Reprodução)(Fonte: SatyaPrem/Pixabay/Reprodução)

Eles também possuem outra vantagem importante: sua genética pode ser alterada para aumentar ainda mais seu conteúdo nutricional. Pesquisadores experimentam há muito tempo moer insetos para misturá-los melhor com outros ingredientes, como carboidratos e gorduras. Isso torna a quitina (principal composto dos exoesqueletos dos insetos) solúvel e permite que a proteína se ligue melhor a outros ingredientes.

Superando o “nojinho”

Para introduzir insetos como uma forma válida de alimentação, o primeiro passo envolve uma mudança cultural. Não importa o quanto a ciência prove os benefícios, se as pessoas não quiserem comê-los, não tem como forçá-las.

Pesquisas apontaram que as culturas ocidentais não têm opiniões positivas sobre a entomofagia, rotulando-a como uma espécie de último recurso, que só deve ser considerada quando alimentos tradicionais são escassos.

(Fonte: Jonathan Beckman/Unsplash/Reprodução)(Fonte: Jonathan Beckman/Unsplash/Reprodução)

Joseph Yoon é chef e fundador da Brooklyn Bugs, uma empresa de buffet e plataforma educacional em Nova York que serve um menu inteiro composto de insetos. Segundo ele, “A verdadeira adoção em massa tem que começar com 'Isso tem um gosto delicioso'. Como você vai fazer as pessoas comerem, se não for gostoso?".

Além de testar novas receitas como o ceviche de formiga preta, o chef viaja pelo país explicando para as pessoas - e até crianças - sobre como comer insetos. 

Yoon diz que seu público sempre parece curioso sobre a prática, especialmente quando oferece amostras. Mas passar de pequenos grilos para escorpiões inteiros demora um pouco, explicou; e muitos nem conseguem chegar neste ponto.

Mesmo assim, o chef entomófago, acredita que observar pessoas vencendo seu medo (e em muitos casos, nojo) é altamente gratificante.

Como começar?

(Fonte: Pixabay/Reprodução)(Fonte: Pixabay/Reprodução)

Como qualquer alimento, o primeiro passo para comer insetos é adquirir alguns. Mas o mercado daqueles considerados comestíveis ainda é bem pequeno, e as opções podem ser mais caras e limitadas do que outras fontes tradicionais de proteína.

Porém, isso pode mudar em um futuro próximo: o crescimento global planejado para este setor deve atingir 47% até 2026. Até isso acontecer, não tente comprar insetos em qualquer canto (ou sair por aí pegando uns no quintal, eles podem ter sido expostos a pesticidas!).

Então, onde eu compro?

(Fonte: buecax/Deposit Photos/Reprodução)(Fonte: buecax/Deposit Photos/Reprodução)

É nesse momento que pode contar mais uma vez com a magia da internet! É possível encontrar uma variedade de produtos online que irão saciar todos os seus desejos e curiosidades sobre insetos, como: proteínas em pó e farinhas, petiscos e até mesmo insetos frescos. Inclusive, dá até para encontrar em alguns sites famosos, como a Amazon!

Uma dica muito importante: nunca se esqueça de ler bem o rótulo e informações do produto. Caso contrário, em vez de comprar grilos adequados para o consumo humano, pode gastar seu dinheiro com alimento para iguana (e você provavelmente nem tem uma).

O que tentar comer primeiro

Não é preciso começar com uma tigela de grilos fritos ou salgadinho de formigas. Você pode optar por alternativas menos chocantes, como produtos feitos de proteínas de insetos (farinhas, pós e pastas) que não envolvem várias pernas ou antenas.

A farinha de grilo e de larva são muito comuns, e podem ser utilizadas para fazer biscoitos de gengibre ou de chocolate (uma alternativa bem interessante, não?).

(Fonte: Pixabay/Reprodução)(Fonte: Pixabay/Reprodução)

Para os mais aventureiros, o chef Yoon aconselha polvilhar insetos assados e prontos para o consumo em pratos que você gosta, do mesmo jeito que utilizaria alcaparras ou croutons.

Outra recomendação do chef é testar maneiras diferentes de preparar os insetos. Assim como tem gente que prefere mais o frango frito do que o cozido, o mesmo pode acontecer com esses bichinhos. Então vale refogar, fritar e até transformar em sopa para descobrir qual é o seu estilo favorito.

Inspire-se e tente combinações simples de sabor

Se ainda não sabe como começar, pode sempre procurar algumas receitas e vídeos online. Mas se não souber exatamente o gosto ou textura dos insetos, pode ser difícil imaginar como encaixá-los direitinho em uma receita. Então aqui estão algumas dicas de especialistas.

(Fonte: Pixabay/Reprodução)(Fonte: Pixabay/Reprodução)

Segundo Yoon, o grilo é um dos insetos mais versáteis que podemos encontrar, incorporando o sabor dos outros ingredientes utilizados no prato. Se você comprá-los congelados ou já assados, dá para refogar com óleos mais aromáticos, como o de gergelim, e apostar nas especiarias para conseguir um gosto mais profundo e interessante.

Já as formigas possuem um gosto mais definido, afinal sua forma de defesa contra predadores envolve ácido fórmico, que também é encontrado no limão. “Acho que eles combinam muito bem com mariscos e guacamole - ou qualquer coisa que você queira acrescentar”, afirma Yoon.

(Fonte: Pixabay/Reprodução)(Fonte: Pixabay/Reprodução)

As larvas possuem um sabor terroso, semelhante a cogumelos ou beterrabas. O chef da Brooklyn Bugs diz gostar de combiná-las com sobremesas de chocolate, sugerindo incorporá-las em brownies e biscoitos.

Aventure-se e ajude o meio-ambiente

(Fonte: Pixabay/Reprodução)(Fonte: Pixabay/Reprodução)

A realidade é que não importa como você decida começar, consumir insetos com certeza pode ajudar a transformar o cotidiano em uma aventura empolgante. Seja no formato de farinhas ou um belo taco de grilos fritos, você estará contribuindo para a proteção do meio-ambiente. Então que tal deixar os preconceitos de lado e se surpreender com as iguarias que os insetos podem oferecer?

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