Gertrude Baniszewski: o 'monstro da tortura'

12/02/2021 às 15:004 min de leitura

Gertrude Baniszewski era um monstro e nem mesmo seu próprio advogado discordava disso.

Em 1965, com seus 37 anos, a mulher morava sozinha em Indianápolis, no estado de Indiana (Estados Unidos) com seus 7 filhos, frutos de 3 relacionamentos fracassados, e vivia de uma pensão que recebia de seu primeiro marido, John Stephan Baniszewski, um ex-policial que a agrediu muito durante o tempo em que ficaram juntos. Às vezes, Gertrude cozinhava para seus vizinhos, costurava e fazia trabalhos domésticos para faturar mais, principalmente quando não recebia os cheques de John.

Medindo 1,68 metro e pesando 45 quilos, a mulher sofria de depressão por sua vida arruinada e asma por anos entupindo os pulmões com a fumaça tóxica do cigarro que não tirava da boca. No entanto, nem todo mundo conseguia enxergar além de sua aparência esquálida e macilenta, e foi por isso que, em junho de 1965, Lester Likens pediu para que a mulher cuidasse de suas duas filhas.

“Como se fossem minhas”

(Fonte: All That's Interesting/Reprodução)
(Fonte: All That’s Interesting/Reprodução)

A família Likens trabalhava em parques de diversão itinerantes, por isso era comum que viajassem demais, e naquele ano não foi diferente. Lester pediu para que Gertrude cuidasse de suas filhas, Sylvia e Jenny Likens, uma vez que sua esposa Betty Frances ainda estava presa depois de cometer um furto em uma loja, enquanto ele trabalhava ao longo da Costa Leste.

As garotas conheciam as filhas mais velhas da mulher, Paula e Stephanie Baniszewski, ambas de 17 e 15 anos, respectivamente, porque estudavam juntas na Arsenal Technical High School. Após estabelecer um pagamento semanal de US$ 20, Gertrude tranquilizou Lester dizendo que cuidaria das garotas “como se fossem suas próprias filhas”, e que havia espaço o suficiente para elas em sua casa na rua 3850 East New York Street. Contudo, se Lester tivesse entrado, veria que não havia camas suficientes e que os filhos da mulher dormiam em colchões sujos e velhos que fediam a urina.

Em 5 de julho daquele ano, as duas garotas foram deixadas pelo pai na porta da casa de Gertrude depois que seus irmãos mais novos ficaram aos cuidados de seus avós. Ele prometeu que voltaria para buscá-las em novembro.

Paula Baniszewski. (Fonte: USA Today/Reprodução)
Paula Baniszewski. (Fonte: USA Today/Reprodução)

As garotas tiveram que dividir o quarto com Marie (11), Shirley (10) e Jimmy Baniszewski (8), revendo-se para dormir em um único colchão de casal esfarrapado com todos eles. Apesar disso, as duas primeiras semanas das irmãs na casa foram bem acolhedoras, divertidas e sem muitas regras.

Elas passavam a maior parte do tempo cantando Beatles e fofocando curiosidades sobre garotos com as filhas mais velhas de Gertrude. Sylvia Likens, então com 16 anos, era a mais comunicativa e confiante, com seus cabelos castanhos longos e jeito contagiante. Jenny Likens, por outro lado, era mais tímida e quieta por causa das consequências da poliomielite, que a deixou com uma de suas pernas mais fraca.

Três meses de dor

Sylvia Likens. (Fonte: Investigation Discovery/Reprodução)
Sylvia Likens. (Fonte: Investigation Discovery/Reprodução)

Tudo mudou a partir do momento em que o pagamento pela estadia das Likens começou a chegar fora da data combinada, geralmente 1 ou 2 dias depois. Isso foi o suficiente para despertar a fúria que havia em Gertrude, que resolveu descontá-la nas hóspedes. Ela começou cuspindo na cara de Sylvia, levando-a para o quarto e a espancando.

Depois da primeira vez, os ataques se tornaram um hábito – e, mais tarde, um modo de recreação. Gertrude batia nas garotas com um cinto de couro e um remo pesado e alternava as sessões de porradas com sua filha Paula quando estava cansada demais. Logo o sofrimento físico de Jenny foi substituído pelo emocional: ela era obrigada a ver a irmã ser torturada diariamente e a todo momento.

Sylvia teve os dedos queimados por Gertrude após ser acusada de ter roubado. Em um domingo de igreja, a jovem foi forçada a comer diversos cachorros-quentes até que vomitasse, só para poder comer o próprio vômito depois. Outros filhos da mulher passaram de espectadores a protagonistas quando foram incentivados a abusar de Sylvia, que foi usada pelos meninos como um boneco de karatê que era lançado contra as paredes e recebia diversos chutes e socos, chegando até a ser jogada escada abaixo.

(Fonte: Low Key Deadly/Reprodução)
(Fonte: Low Key Deadly/Reprodução)

As crianças cortavam a pele de Sylvia, esfregavam sal nos ferimentos e a enfiavam em um banho fervente constantemente. Elas substituíam suas refeições por fraldas sujas de fezes que ela deveria limpar com a própria boca. Certa vez, a jovem teve a vagina pisada e mutilada por Paula, isso quando não tinha que se masturbar com uma garrafa de Coca Cola para que todos vissem.

Em certo momento, devido aos episódios desenfreados e brutais de tortura, Sylvia acabou perdendo a capacidade de controlar a própria urina. Por vezes ela urinou ou defecou nas calças e, como punição, ela foi despida, amarrada e lançada para viver no porão da casa.

“Eu vou morrer”

(Fonte: Crime Time/Reprodução)
(Fonte: Crime Time/Reprodução)

Eventualmente, quando a tortura no âmbito familiar se tornou “desinteressante”, Gertrude convenceu crianças da vizinhança a machucar Sylvia, inventando que a garota havia maltratado as suas filhas e que precisava de ajuda para puni-la. Foi assim que ela fez Ricky Hobbs gravar na barriga de Sylvia a frase “Eu sou uma prostituta e tenho orgulho disso” com uma agulha quente e ajuda da filha da mulher, Marie, de 11 anos.

Em 24 de outubro, muito debilitada e mutilada, Sylvia disse à irmã que durante todo esse tempo foi espancada e hostilizada por todos para que não fosse até a polícia: “Jenny, eu sei que você não quer que eu morra, mas eu vou morrer. Eu sinto”. E foi por isso que Gertrude a obrigou a escrever uma carta na qual dizia aos pais que havia fugido com um grupo de garotos para os quais ela prestava favores sexuais, e que eles a deixaram naquele estado.

(Fonte: Pinterest/Reprodução)
(Fonte: Pinterest/Reprodução)

No dia seguinte, a garota tentou fugir, mas não conseguiu chegar até a porta de tão fraca. Ela teve a cabeça espancada com um trilho de cortina e depois pisada até que perdesse a consciência. Na manhã de 26 de outubro de 1965, Sylvia Likens foi encontrada morta no porão da casa devido a hemorragia cerebral, choque e desnutrição severa.

Foi Jenny quem honrou a morte da irmã puxando um policial de canto e dizendo que contaria tudo se ele a tirasse dali.

“Boas notícias”

(Fonte: Pinterest/Reprodução)
(Fonte: Pinterest/Reprodução)

O caso desnorteou as autoridades e as pessoas de todo o país. Kate Millet, uma autora e educadora que chegou a escrever um livro semificcional sobre o crime, disse que Gertrude parece ter feito o que fez como uma forma de justiça própria sobre “como é ser uma mulher”, baseando-se nos sofrimentos que ela mesma experimentou ao longo da vida.

Além de Gertrude e de suas filhas Paula e Stephanie, mais 3 garotos foram presos por assassinato, enquanto as outras crianças alegaram coerção. Gertrude Baniszewiski se declarou inocente das acusações, porém foi condenada à prisão perpétua em 19 de maio de 1966, quando seu advogado admitiu diante do juiz que ela deveria ser “queimada na cadeira elétrica”. Paula Baniszwski também foi sentenciada a mofar atrás das grades.

Após 20 anos, em 4 de dezembro de 1985, a assassina foi solta por bom comportamento por meio do recurso de liberdade condicional, apesar de um protesto massivo na frente da penitenciária. No entanto, a comemoração da mulher durou pouco – mais especificamente 5 anos.

Em 16 de junho de 1990, Gertrude morreu de câncer de pulmão na cidade de Laurel, em Iowa (EUA). Tudo o que Jenny Likens escreveu na carta que enviou à mãe foi: “Boas notícias. A maldita da Gertrude morreu”.

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