Ciência
10/12/2023 às 04:00•2 min de leitura
A cidade murada de San Casciano dei Bagni, na Itália, parece ter saído de um conto de fadas: ruas estreitas somente para pedestres, passagens cobertas por pedras, um castelo imponente e uma praça repleta de cafés. No entanto, a paisagem atípica não é o que mais desperta atenção na região.
Logo abaixo da cidade, quase mil anos de história antiga, há muito tempo enterrados em lama rica em minerais, estão finalmente sendo revelados. A descoberta arqueológica dessa maravilha histórica está servindo para alterar completamente a compreensão acadêmica do período de declínio etrusco e ascensão romana.
(Fonte: Getty Images)
No sopé de uma colina, os carros dos visitantes de San Casciano param em um estacionamento improvisado. Com toalhas nas mãos, os visitantes caminham centenas de metros adiante na estrada para fazer algo que ficou muito conhecido na região: mergulhar nas águas termais da cidade que borbulham da terra há eras.
As banheiras rasas de pedra em que os turistas se encontram foram construídas em 1600, quando San Casciano dei Bagni fazia parte do Grão-Ducado da Toscana, governado pelos Medici. Um grande atrativo é que esses banhos termais são gratuitos, ao contrário das piscinas caras do resort de luxo mais próximo na região.
A água, que apresenta constantes temperaturas de 42 °C, oferece uma experiência reconfortante para todos, por mais rústico que o lugar seja. O que muitos não sabem, no entanto, é que o atual "spa público" é um antigo complexo termal que data do século III a.C., servindo como um local de reverência e cura antes de ser cerimoniosamente abandonado no século V d.C.
(Fonte: Getty Images)
Entre as descobertas impressionantes retiradas da lama termal de San Casciano estão 24 bronzes que datam do século II a.C. ao século I d.C., muitos dos quais são representações de partes do corpo ou pequenas estátuas de bebês, idosos e divindades. Essas estátuas eram dadas como oferendas aos deuses curativos adorados no local.
"É uma demonstração viva da resiliência destas águas termominerais. Esta paisagem sagrada, apesar das transformações nos ritos, cultos e práticas, sempre permaneceu ligada às suas águas", escreveu o diretor científico da escavação, Jacopo Tabolli, em comunicado oficial. Logo, é curioso notar que as fontes curativas da cidade permaneceram sendo de grande influência na região, mesmo séculos depois.
A continuidade da água e seu papel como portadora física e simbólica da vida é sentida para além do local da escavação. "Somos uma cidade que vive do turismo e a água sempre foi uma constante", destacou a prefeita de San Casciano dei Bagni, Agnese Carletti. Segundo Carletti, é impressionante que as pessoas continuem viajando até a cidade para se banhar pelos mesmos motivos que seus antepassados realizavam há 2,3 mil anos, o que mostra uma grande influência histórica das águas termais.
Como próxima etapa, um museu que abrigará os impressionantes artefatos da escavação arqueológica feita na região deve ser inaugurado em 2024.