Johan de Witt: o primeiro-ministro holandês que foi devorado pela população em 1672

Nascido em 24 de setembro de 1625, em Dordrecht, na Holanda, Johan de Witt já estava destinado a ser um líder bem-sucedido. Seu pai era um prefeito respeitado por ser distinto e ter hombridade, características que passou a Witt logo cedo.

O jovem foi bem-educado e mostrou desde cedo sua capacidade com os números, escrevendo um dos primeiros livros didáticos de geometria analítica. No final da década de 1640, Witt entrou para a política, usando seus conhecimentos matemáticos para lidar com as questões financeiras e orçamentárias da república. Assim como seu pai, ele se manteve fiel à política anti-Casa de Orange-Nassau, a família nobre que desempenhou um papel significativo na história dos Países Baixos na Europa.

Inteligente e eloquente, Witt aos poucos conquistou o povo e se tornou o governante da Holanda. Aos 28 anos, em 1653, foi nomeado conselheiro pensionista, o líder político. Foi nesse período que desempenhou um papel crucial nas políticas internas e externas do país, trazendo prosperidade econômica, expansão marítima e militar.

Diante de um histórico desses, é impossível imaginar o que pode ter dado errado a ponto de Johan de Witt, o primeiro-ministro holandês, ter sido devorado pelo próprio povo.

Da ascensão à queda

Johan de Witt. (Fonte: Hulton Archive/Getty Images)

A Idade de Ouro Holandesa, um período conhecido por tornar o império holandês uma das maiores potências da Europa, só aconteceu graças à perspicácia de Witt. Nessa época, Amsterdã estava no centro do comércio mundial e a Companhia Holandesa das Índias Orientais dominava as rotas comerciais asiáticas tão bem a ponto de tornar a nação muito rica.

Com esse sucesso todo, não é para menos que o líder político foi reeleito ao cargo por três vezes, em 1658, 1663 e 1668. Witt garantiu a manutenção da paz com outros países europeus, como também conseguiu colocar os inimigos da República, os ingleses e franceses, um contra o outro, tirando a Holanda do seu radar.

Com isso, por muito tempo, Witt conseguiu manter a tensão que possuía com a Inglaterra sob controle, devido à competição marítima que travavam, até mesmo em 1665, quando a situação escalou ao nível de guerra. Mas em 1672, nem todo o jogo de cintura de Witt foi capaz de impedir o caos que se seguiu quando Luís XIV da França repentinamente declarou guerra a República Holandesa.

A conhecida Guerra Franco-Holandesa de 1672 se tornou o cadafalso político de Witt, quando a Holanda foi invadida em massa pelos britânicos e franceses. O exército holandês sofreu derrota nas mãos dos franceses porque o governo sempre priorizou a marinha holandesa.

Perseguido e devorado

Irmãos Witt. (Fonte: Wikimedia Commons)

Como consequência, Witt foi culpado pelos holandeses por sua negligência ao exército terrestre do país, e muitos protestaram por uma liderança mais forte. Rapidamente, Guilherme III da Casa de Orange-Nassau, um dos arqui-inimigos da história familiar e política de Witt, cresceu no gosto popular. Cornelius, irmão de Witt, chegou a ser torturado e preso por traição por conspirar contra o desejo holandês de eleger Guilherme.

O ódio da população foi tão forte que resultou na renúncia de Johan de Witt ao poder, em 4 de agosto de 1672, antes de visitar seu irmão em Haia. Com isso, formou-se uma turba de linchadores, revoltados com a gestão e comportamentos conspiratórios de Witt contra Guilherme. Do lado de fora da prisão, as pessoas aguardavam com armas de fogo, marretas, facas e espadas, prontas para tirar uma gota de sangue do político.

Sem guardas por perto, a multidão invadiu a prisão e arrastou para fora os irmãos e os esfaquearam de múltiplas formas. Não contentes, os linchadores penduraram os dois pelos pés para que as pessoas pudessem arrancar filetes dos seus corpos e vender pela cidade.

(Fonte: Getty Images)

Apesar dos detalhes serem incertos, acredita-se que o povo tenha realmente devorado Johan de Witt e seu irmão. O novo governante, Guilherme III, no entanto, não fez nada para processar os agitadores do linchamento, deixando claro que estava satisfeito com o que aconteceu.

Atualmente, existem três estátuas de Witt na Holanda, todas construídas no século XX.