Mistérios
23/02/2024 às 06:30•2 min de leitura
O Irã teve uma importante descoberta divulgada neste mês de fevereiro: um antigo batom vermelho, encontrado por pesquisadores na província de Kerman, chama a atenção por se tratar de um produto que movimenta bastante a indústria de cosméticos até hoje.
Atualmente, o item faz parte do acervo do Museu Arqueológico de Jiroft, localizado no Irã. Produzido no início do segundo milênio a.C., há 3600 anos, o batom da Idade do Bronze, que também apresentava pequenas quantidades de chumbo, surpreende pela sua complexidade. Ao que tudo indica, esse item clássico é valorizado há mais tempo do que imaginamos.
(Fonte: Getty Images)
Em 2001, uma inundação atingiu antigos cemitérios iranianos e acidentalmente revelou alguns dos objetos enterrados na porção sudeste do país. Isso atraiu o interesse de moradores das áreas vizinhas, que saquearam muitos dos artefatos preciosos que lá se encontravam.
Enquanto alguns foram recuperados pelas forças iranianas mais adiante, outros se perderam para sempre. Ainda assim, o batom vermelho mais antigo do mundo foi encontrado. E, curiosamente, ele lembra bastante os que são produzidos atualmente, em frasco cilíndrico.
A amostra dos materiais remanescentes, no entanto, passou por análise e revelou uma mistura de diferentes minérios. A composição avermelhada que deu vida ao antigo batom é formada majoritariamente por hematita, manganita e braunita. E segundo estudiosos que participaram desse trabalho de investigação, isso conferiu ao produto uma tonalidade profunda, mais escurecida.
(Fonte: Scientific Reports/Reprodução)
Acredita-se que tal composição seja explicada pela posição geográfica favorável, numa região que tinha maior oferta de minerais disponíveis para exploração. Devido ao seu formato anatômico, de fácil aplicação, os pesquisadores acreditam que esse batom vermelho seria usado junto a outros acessórios, como um espelho.
O trabalho artesanal observado no frasco do batom deixa entrever que, além da padronização e comercialização das maquiagens já ocorrer naquele período, havia diferenciação dos objetos, facilitando a sua identificação. O estudo que abordou todos esses detalhes, publicado na Scientific Reports, ainda deixa uma outra pergunta pairando no ar: o batom teria sido mesmo inventado no antigo Irã, afinal de contas?
Imagem mostra o frasco em que o batom estava armazenado e os materiais analisados. (Fonte: Scientific Reports/Reprodução)
Apesar de muitos estudos se debruçarem sobre diferentes artefatos utilizados por antigos povos, os cosméticos acabaram sendo deixados de lado. Assim, há poucos detalhes disponíveis que tratam da produção e utilização deles no decorrer do tempo.
Mas sabemos que o uso da maquiagem, no passado, definitivamente não era restrito à boca. Linhas pretas ao redor dos olhos eram cuidadosamente delineadas, assim como bases e sombras eram aplicadas no rosto, possivelmente dotadas de muitos significados e associadas a rituais.
Isso porque pigmentos com finalidades semelhantes já foram encontrados em diversos locais, com destaque para o Egito, região da Anatólia (atual Turquia) e Mesopotâmia (Iraque). Mesmo na Ásia Central, cosméticos de tonalidade mais clara foram localizados, como menciona o próprio estudo.
Compostos por chumbo, eles teriam sido adotados na China, e mais adiante, deram origem a outras maquiagens usadas na Ásia em maior escala. Mas desta vez, pode-se dizer que esse batom vermelho representa a evidência mais antiga envolvendo o uso de pigmentos labiais já relatada — ao menos por enquanto.