3 fatos perturbadores sobre o namoro no século XX

04/03/2024 às 20:004 min de leituraAtualizado em 04/03/2024 às 20:00

Há séculos que as pessoas se relacionam, mas o encontro e o namoro são invenções sociais historicamente recentes. A literatura aponta que o conceito surgiu devido a um influxo de mulheres nas grandes cidades em busca de trabalho na virada do século XX. A palavra dating, que no inglês significa "sair em um encontro romântico" em tradução livre, ou date, como é falado atualmente pelos brasileiros, apareceu pela primeira vez na coluna de George Ade, no Chicago Record, em 1896.

A estrutura da monarquia permeou muitos aspectos sociais com sua manutenção da hierarquia de poder e o tipo de linhagem por meio da união de casais. Portanto, era importante que os príncipes se unissem a duquesas e imperatrizes que tivessem posses e sangue real de relevância.

(Fonte: GettyImages/Reprodução) (Fonte: GettyImages/Reprodução)

No século XVII, por exemplo, o governo francês chegou a lançar um sistema formal de cortesãs para garantir que a aristocracia tivesse um grupo adequado de parceiras para escolher. Em outros lugares da Europa, os casamentos arranjados se tornaram cada vez mais populares, visto que as razões eram baseadas em preocupações financeiras em vez de motivações românticas, criando uma espécie de indústria de "corretores de casamento", que eram mediadores entre famílias que tentavam arranjar parceiras para seus filhos.

Foi nos Estados Unidos da década de 1960 que surgiu o primeiro sistema que mais se assemelhava ao namoro moderno. Os jovens saíam nas noites de sexta ou sábado e se encontravam em esquinas específicas pelas cidades para conhecer alguém atraente o suficiente para iniciar uma conversa. Se o papo fosse bom, trocavam números de telefone e informações pessoais antes de finalmente decidirem se queriam iniciar um relacionamento fora desse local de encontro casual.

Foram essas circunstâncias que deram origem a rituais de namoro e outras tradições estranhas. Esses são 3 fatos perturbadores sobre o namoro no século XX.

1. Tabuleiro ouija

(Fonte: GettyImages/Reprodução) (Fonte: GettyImages/Reprodução)

Ainda hoje, a sociedade ocidental é permeada por diversas influências célticas que se enraizaram na nossa cultura. Procurar um amor sempre foi um deles, tanto quanto recorrer a métodos que envolviam a adivinhação. Vários conceitos sociais tiveram os deuses, as estrelas, e as forças espirituais como objeto de tomada de decisões, compreensão do futuro e orientação.

Sempre existiu a ideia que o mundo está repleto de forças espirituais e que a adivinhação é a maneira de comunicar e obter vislumbres sobre eventos futuros, questões importantes e até cotidianas, como encontrar um amor.

Enquanto olhar para um espelho segurando uma vela, supostamente, garantia que a pessoa veria como era o rosto do seu "amor verdadeiro" em uma rápida aparição acima do seu ombro esquerdo em uma noite de Halloween, o uso dos famosos e infames tabuleiros ouija também poderia ter uma função "romântica".

(Fonte: GettyImages/Reprodução) (Fonte: GettyImages/Reprodução)

No imaginário popular, esses tabuleiros invocatórios sempre foram vistos como um mecanismo para contatar forças sobrenaturais para comunicação, visando saber sobre o futuro, finanças ou sobre a própria vida. Essa, no entanto, sempre foi a versão banalizada que a mídia e as peças de entretenimento criaram ao redor do instrumento espiritual, mas nem sempre foi assim.

Apesar de os vitorianos terem contribuído em certa escala para disseminar essa imagem ruim do tabuleiro ouija por fazerem um culto excessivo à morte, eles também foram fascinados pelo espiritualismo a ponto de contagiar outras culturas.

(Fonte: GettyImages/Reprodução) (Fonte: GettyImages/Reprodução)

Nos Estados Unidos pós-Guerra Civil, a perspectiva de poder contatar aqueles que morreram no campo de batalha se tornou sedutora, sobretudo pelas mães e esposas abandonadas. Rapidamente, a empresa Kennard Novelty Company percebeu que poderia capitalizar em cima disso e foi assim que o tabuleiro foi parar em qualquer loja de conveniência e banca de jornal. 

Na década de 1920, durante a Era do Jazz, os tabuleiros começaram a ser usados pelas pessoas para que pudessem se tocar em público, ainda que minimamente, em uma época em que o contato físico era considerado tabu. Em festas e encontros, o tabuleiro ouija fazia homens e mulheres tocarem os dedos quando precisavam colocá-los sobre o ponteiro usado para indicar as letras.

2. As Charity Girls

(Fonte: GettyImages/Reprodução) (Fonte: GettyImages/Reprodução)

Quando as mulheres começaram a sair para encontros românticos, a estrutura social inteira se moveu, inclusive, em direção a elas. Uma vez que a ideia patriarcal era que mulheres precisavam se resguardar em todos os aspectos possíveis, na década de 1910, aquelas que iam a encontros casuais poderiam acabar na prisão. Isso porque, para o governo, elas não eram muito diferentes das prostitutas, podendo, portanto, serem presas pela prática de trabalho sexual.

As mulheres que queriam sair para namorar foram chamadas de Charity Girls ("garotas da caridade" em tradução livre), porque não aceitavam dinheiro, ou seja, "faziam o trabalho" de graça. Sair para namorar teve um impacto tão grande na cultura das metrópoles, como Nova York, que as próprias profissionais do sexo se ergueram para protestar contra as Charity Girls, alegando que elas estavam colocando em perigo a prostituição.

Enquanto o Estado impunha leis para tentar reduzir a incidência do namoro, empresários, como John D. Rockfeller Jr., se envolveram e financiaram investigações focadas em conter a tendência do namoro. Pior do que parar na prisão, as mulheres que queriam namorar podiam parar também em hospitais psiquiátricos ou nos famosos reformatórios.

3. Lavagem cerebral em propaganda

(Fonte: GettyImages/Reprodução) (Fonte: GettyImages/Reprodução)

Existe um mundo e uma sociedade antes e depois da Segunda Guerra Mundial. Apesar de todo o ônus humano que o conflito trouxe, é inegável o quanto o panorama social de todos os países foi alterado para sempre em todos os aspectos – para o bem ou para o mal.

O início da década de 1950 testemunhou um mar recheado de um novo conjunto de desafios, vistudes e obrigações nas quais os jovens se viram obrigados a navegar. Para isso, foram criados os "filmes de higiene mental", responsáveis por explicar como e de qual forma os jovens precisavam agir, inclusive na hora de namorar.

Olhando de fora, esses filmes até pareciam educativos, como o Dating Do's and Don'ts, lançado em 1949. Nele, uma situação hipotética apresentava um jovem encontrando um par de ingressos para um parque de diversão. O filme instruía sobre como o garoto deveria escolher sua parceria, como chamá-la para sair e como se comportar diante dela. Era salientado, inclusive, que em nenhum momento ele poderia ser muito insistente ou muito imparcial.

(Fonte: GettyImages/Reprodução) (Fonte: GettyImages/Reprodução)

Ken Smith, autor do livro Mental Hygiene: Better Living Through Classroom Films 1945-1970, em uma matéria ao The New York Times, comentou que centenas desses filmes foram feitos e que milhões de pessoas o assistiram. O que ninguém sabia, no entanto, era que os filmes foram feitos não com o intuito de criar jovens respeitosos que sabiam como cortejar uma mulher e levá-la a um encontro, mas ditar a maneira como deveriam viver no geral.

Os filmes eram presunçosos, dogmáticos e frequentemente brutais, pregando as alegrias da domesticidade e da uniformidade de uma maneira que mantinha a sociedade “como deveria ser aos olhos do Estado”. Isso teria ensinado os jovens a serem tão machistas quanto sem personalidade e opinião.

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