Artes/cultura
10/07/2014 às 07:12•2 min de leitura
Ao longo dos anos, muitas teorias surgiram tentando explicar por que sorrisos são tão raros em fotografias antigas. Até certo momento, a crença vigente era a de que as pessoas não sorriam em fotografias antigas porque elas estavam escondendo seus dentes podres — ou a ausência deles —, situação comum até a chegada da odontologia moderna.
Acontece que isso não é bem verdade, uma vez que havia indivíduos com dentição fabulosa e que ainda assim mantinham suas bocas fechadas ao serem fotografados. Além do mais, como ter dentes feios eram algo tão comum, eles não era vistos necessariamente como algo tão desagradável. Uma prova disso é que Lord Palmerston, o Primeiro Ministro Britânico de 1855, foi considerado um sujeito muito bonitão, mesmo com a falta de vários dentes em sua boca.
Com o descartar dessa teoria, a próxima coisa que se pensou é que ninguém sorria porque as câmeras precisavam de tempos de exposição inacreditáveis para capturar uma foto — podia variar de 5 a 30 minutos. Seria muito desconfortável e talvez impossível forçar um sorriso e ficar com ele aberto por tanto tempo.
A ideia faz sentido, mas não explica por que as pessoas eram raramente retratadas sorrindo em pinturas antigas ou porque elas não começaram a mostrar os “móveis brancos” da boca em 1840, quando o tempo de exposição requerido era menos de um minuto.
A verdade é que, enquanto esses problemas podem ter impedido algumas pessoas de se mostrarem sorridentes, a razão verdadeira para a seriedade é que a maioria das pessoas achava que sorrir faria com que elas parecessem ridículas. A maioria dos indivíduos simplesmente não queria ser imortalizada na História com um sorriso pateta no rosto.
Mark Twain, autor de “As Aventuras de Tom Sawyer” e “As Aventuras de Huckleberry Finn”, disse: “Uma fotografia é um dos documentos mais importantes que se tem e não há nada mais condenável para a posteridade do que um tolo e idiota sorriso capturado e fixado para sempre.”
De acordo com Nicholas Jeeves, que escreveu um longo artigo sobre o assunto, no século 17, “era algo bem estabelecido que quem sorria abertamente, na vida e na arte, era somente o pobre, o libidinoso, o bêbado, o inocente e quem trabalha para entreter a outros”.
João Batista de La Salle escreveu no livro “Regras do Decoro e Civilidade Cristã” (“The Rules of Christian Decorum e Civility”) de 1703 o seguinte trecho: “Há algumas pessoas que levantam seus lábios superiores tão alto que seus dentes ficam quase completamente visíveis. Isso é completamente contraditório ao decoro, que proíbe que você descubra seus dentes, uma vez que a natureza nos deu lábios para escondê-los”.
Nos dias atuais, nós sorrimos em fotos para mostrar felicidade ou calor, mas antigamente isso soava para eles de forma parecida como que a “cara de pato” (duck face) soa para a maioria das pessoas hoje em dia: uma aparência pouco respeitável.
As fotografias evoluíram e tornaram-se comuns, as pessoas não tinham que escolher uma única expressão para servir de memória através das eras, o que abriu possibilidades para uma série de expressões diferentes em fotos. Ainda assim, é de se pensar o que nossos antepassados pensariam se vissem as centenas de milhares de fotos que tiramos a cada minutos, com nossos “sorrisos tolos”, photobombs e selfies comprometedoras.