Ciência
27/10/2017 às 03:37•2 min de leitura
Quem nunca viu a imagem de Che Guevara pensativo, com o olhar perdido e usando sua icônica boina? A foto foi registrada pelo fotógrafo cubano Alberto Korda no dia 5 de março de 1960, quando o revolucionário atendia — juntamente com outros líderes da Revolução — ao funeral de 136 pessoas que haviam perdido suas vidas na explosão de uma embarcação francesa que navegava com destino a Havana.
De acordo com Steve Meltzer, do portal Imaging Resource, Che Guevara tinha 31 anos de idade na época, e Korda fez o registro enquanto o revolucionário encarava a multidão do alto de um palanque montado durante a triste ocasião. O fotógrafo capturou apenas dois cliques — um na horizontal e o outro na vertical — de Che, e as imagens ficaram esquecidas em seus arquivos durante mais de 7 anos.
Quando Korda fez a foto de Che, ele estava cobrindo o funeral como fotógrafo para o jornal Revolución, mas a publicação optou por usar imagens de Fidel Castro para ilustrar a notícia sobre o evento. A imagem só foi revelada ao público 7 anos mais tarde, no início de 1967, depois de Korda ceder o retrato ao editor e ativista político italiano Giangiacomo Feltrinelli, que publicou um livro sobre Che.
A partir daí, a icônica imagem começou, pouco a pouco, a aparecer por todas as partes. Primeiro, a foto foi publicada — sem qualquer menção ao autor do clique — em uma revista francesa chamada Paris Match em agosto de 1967, e ninguém sabe como ela foi parar lá. Em seguida, o artista irlandês Jim Fitzpatrick usou o registro para criar um pôster e, segundo ele, a figura havia sido cortesia de um grupo anarquista holandês chamado “The Provos”.
O grupo, por sua vez, revelou que havia conseguido a foto com Jean-Paul Sartre, que, curiosamente, estava presente no funeral, mas não sabia quem tinha sido o autor do registro. Então, em outubro de 1967, Che Guevara foi capturado e executado na Bolívia, gerando uma onda de protestos ao redor do mundo — e Feltrinelli aproveitou a oportunidade para produzir milhares de reproduções da foto e vendê-las como pôsteres.
O retrato de Che Guevara acabou sendo batizado de Guerrillero Heroico e, em 1968, uma versão artística foi criada pelo artista Paul Davis para a edição de fevereiro da revista Evergreen Review. Na época, o desenho estilizado apareceu em cartazes de publicidade espalhados pelas estações de metrô de Nova York — e foi a partir daí que a fotografia do revolucionário viralizou mundo afora.
O mais curioso é que, como Fidel Castro jamais reconheceu a Convenção de Berna — que se refere à proteção dos direitos autorais de obras literárias e artísticas entre países soberanos —, Korda jamais recebeu um único centavo sequer pelas bilhões de reproduções da fotografia, nem a família de Che Guevara, que foi o “modelo” que, sem querer, acabou por ilustrar uma das imagens mais icônicas de todos os tempos.
*Publicado em 25/02/2016