Estilo de vida
20/08/2015 às 11:23•7 min de leitura
Há alguns dias, postamos uma matéria aqui no Mega Curioso na qual falamos um pouquinho a respeito de alguns dos soldados mais destemidos da História — e você pode acessá-la através deste link. Pois vários leitores participaram nos comentários, sugerindo diversos heróis militares sobre os quais eles gostariam que a nossa equipe falasse em um novo artigo.
Alguns dos nomes mencionados já apareceram em outras de nossas matérias, como é o caso de Simo Häyhä e Vasily Zaytsev e até de Chris Kyle, de quem falamos bem brevemente. No entanto, outros tantos militares listados nos comentários — entre eles até alguns brasileiros — ainda não haviam sido temas de nossos artigos.
Assim, atendendo aos pedidos dos nossos caros leitores, selecionamos entre os nomes sugeridos outros tantos soldados incrivelmente destemidos para você conhecer. Confira:
Membro da 352ª Divisão de Infantaria do Exército Alemão, Heinrich Severloh ficou conhecido como “A Besta de Omaha” graças à sua enlouquecida atuação durante a “Operação Overlord” — que marcou o início da invasão aliada à Europa durante a Segunda Guerra Mundial.
O alemão se encontrava em um posto privilegiado — o WN62 — situado a 25 metros de altura na praia de Omaha com uma metralhadora MG 42 e duas carabinas Mauser Kar 98k quando, por volta das 6 da manhã, o horizonte começou a se tornar negro com a aproximação de embarcações aliadas que vinham em direção à areia. Apavorado, Severloh recebeu ordens de só atirar depois que os adversários estivessem com a água pelo joelho e, em vez de correr para as colinas, ele obedeceu.
Depois que os norte-americanos se aproximaram o suficiente, Severloh, então, pôs o dedo no gatilho e abriu fogo — e continuou metralhando qualquer alma que saltasse na areia até as três horas da tarde, ou seja, a Besta mandou bala pra todo lado durante nove horas seguidas. No total, o alemão disparou 12 mil projéteis com a KG 42 e outros 400 com as carabinas e foi responsável por matar um número estimado entre mil e 2 mil soldados norte-americanos.
Manfred von Richthofen, como você deve saber, foi um habilidoso piloto de caça alemão que atuou durante a Primeira Guerra Mundial. Ele ficou conhecido como “Barão Vermelho” e até hoje é considerado um ás dos ases da aviação militar, contando com 80 vitórias confirmadas no currículo.
Logo que ingressou para a Luftstreitkräfte, a divisão aérea do Exército Imperial Alemão, Richthofen foi apontado comandante de seu próprio esquadrão de elite, o Jasta 11 — também chamado de “Circo Voador” por conta das cores vivas das 14 aeronaves do grupo e porque elas costumavam ser transportadas em comboios de um local a outro como se fosse parte de um circo. Aliás, a opção de pintar os aviões com cores vibrantes era uma clara demonstração de autoconfiança e até de certa arrogância!
Os militares britânicos desejavam desesperadamente derrubar o ilustre Barão Vermelho e, quando finalmente conseguiram durante uma batalha aérea em abril de 1918 — quando Manfred tinha 25 anos —, o piloto abatido foi tratado como herói pelos inimigos. Acredita-se que o responsável pela morte do aviador tenha sido um soldado australiano que se encontrava em terra e disparou um tiro que acertou Richthofen no peito.
O Barão Vermelho teve um enterro com todas as honras militares que ele merecia. Seu corpo foi levado para um hangar da Força Aérea Real britânica e coberto de flores, e centenas de pilotos compareceram ao funeral. O caixão de Richthofen foi carregado por seis capitães britânicos durante o enterro e um pelotão formado por 14 soldados que dispararam três salvas de tiros em sua homenagem. Veja um vídeo da época:
Apesar de Manfred von Richthofen ser o piloto de caça mais famoso da História, ele não foi o aviador com o maior número de vitórias. Quem detém esse título é Erich Alfred Hartmann, outro soldado alemão que também recebeu um apelido carinhoso dos adversários soviéticos: “O Diabo Negro”.
Hartmann foi um piloto de caça que tocou o terror durante a Segunda Guerra Mundial, conquistando 352 vitórias aéreas no decorrer de 1.404 missões e 825 combates.
Imagine a perplexidade — e o susto mesmo! — dos soldados inimigos que, durante a Segunda Guerra Mundial, se deparavam com um pelotão liderado por um comandante que, além da parafernália habitual, entrava em combate armado com arco e flecha e uma espada! Esse era o britânico Jack Churchill, que, não à toa, ficou conhecido como “Mad Jack” (ou “Jack Louco”, em tradução livre).
Olha o "Mad Jack" ali com a sua espada!
Por certo, além da espada e do arco e flecha, Jack também carregava uma gaita de fole — e usava esses apetrechos todos. Em uma ocasião, Churchill liderava uma emboscada a uma patrulha alemã na França e deu o sinal de ataque atingindo o sargento inimigo com uma flecha. Em outra, durante a invasão de uma fortificação nazista na Noruega, ele desceu pela rampa do barco tocando sua gaita de fole antes de começar a jogar granadas para todo lado e partir para a batalha.
Teve também a vez que Churchill recebeu a missão de liderar seu pelotão e capturar um ponto de observação alemão, e ele não só cumpriu a tarefa como capturou 42 soldados nazistas, incluindo um esquadrão de morteiros, com sua espada na mão. Mad Jack inclusive chegou a ser capturado e enviado ao campo de concentração de Sachsenhausen, de onde escapou. Ele foi recapturado e mandado a outro campo, mas saiu de lá também.
Jack caminhou cerca de 150 km da Alemanha até a Itália, onde encontrou tropas norte-americanas. E, enquanto a Guerra do Pacífico prosseguia, Churchill foi enviado à Birmânia para lutar contra os japoneses. Porém, antes de ele chegar, os americanos já haviam bombardeado Hiroshima e Nagasaki e acabado com a guerra — e dizem que Mad Jack reagiu reclamando que se não fosse pelos malditos ianques, a guerra poderia ter continuado por mais 10 anos.
Adrian Carton de Wiart começou sua carreira militar servindo o Exército Britânico na Guerra dos Bôeres, durante a qual foi ferido gravemente com um tiro no pulmão. Não contente em ter sobrevivido a um confronto sangrento, Wiart resolveu se alistar para participar de outro ainda pior: a Primeira Guerra Mundial.
Quando a guerra eclodiu, Wiart foi enviado à África para combater junto a uma força aliada na Somália. Pois durante o ataque a uma fortificação inimiga, o soldado perdeu o olho esquerdo e parte de uma orelha depois de levar dois tiros no rosto, mas não pense que isso o deteve. Não... Agora, equipado com um tapa-olho, Wiart seguiu para a França, onde se uniu ao frente ocidental — e foi ferido inúmeras vezes.
Foi tiro na cabeça, no tornozelo, no quadril, no abdome, na perna, na orelha... Até que um dia Wiart levou um tiro que destruiu a sua mão. Como o médico que o atendeu se recusou a amputá-la, ele resolveu arrancar os próprios dedos a dentadas para convencer o doutor! E isso não foi tudo. Depois da Primeira Guerra Mundial, o homem ainda participou de outros tantos combates e se alistou para a Segunda Guerra Mundial também.
Após participar de várias campanhas, Wiart — que nessa época já tinha seus sessenta e tantos anos — foi capturado por tropas italianas na Líbia após o avião no qual ele estava se acidentar no mar e ele ser obrigado a nadar mais de um quilômetro até a praia! E uma vez feito prisioneiro, o homem ainda escapou cavando um túnel com a única mão que tinha. Aliás, sabe o que ele disse ao descrever suas experiências? Que, honestamente, ele havia se divertido na guerra.
O piloto sorridente da imagem acima é, provavelmente, o aviador japonês mais famoso da Segunda Guerra Mundial. Chamado Saburo Sakai, ele não só abateu mais de 60 aviões aliados no decorrer de mais de 200 missões como quase mudou o rumo da História quando chegou perto de derrubar a aeronave que transportava o futuro presidente norte-americano Lyndon Johnson em 1942 — o que anos mais tarde levou os EUA à guerra contra o Vietnã.
Mas a atuação mais extraordinária de Saburo ainda estava por vir. Em uma batalha aérea, o piloto foi atingido por um inimigo, teve o lado esquerdo do corpo inteiro ferido e perdeu a visão do olho direito. Desorientado pelos machucados, o japonês mergulhou com seu avião — em uma manobra que, por sorte, ajudou a apagar o fogo que ameaçava engolir a cabine — e, convencido de que estava morrendo, começou a procurar um alvo para destruir ao melhor estilo kamikaze.
Contudo, Saburo mudou de ideia no meio do caminho e decidiu voltar para a base — e fez a viagem de 1.040 quilômetros até lá pilotando de cabeça para baixo para evitar que o sangue de seus ferimentos entrasse no olho que não estava machucado. Além disso, depois de chegar, ele recusou tratamento médico até concluir o relatório da missão. Assim, não é à toa que Saburo ficou conhecido como “Samurai dos Céus”.
Os nossos leitores reclamaram da falta de representantes brasileiros na seleção anterior de soldados destemidos — e com razão! Um dos heróis mencionados foi o sargento Max Wolf Filho, que se voluntariou para integrar a Força Expedicionária Brasileira e lutou bravamente na Segunda Guerra Mundial como integrante do 11° Regimento de Infantaria.
Sargento Max Wolf Filho
O brasileiro ganhou fama por sua coragem, audácia e altruísmo com respeito aos colegas de pelotão, já que ele sempre se oferecia para enfrentar as situações de perigo no lugar dos companheiros. Wolf participou de várias incursões em territórios inimigos, e sua contribuição foi fundamental em uma das vitórias brasileiras mais significativas da guerra, a tomada de Monte Castelo.
Tomada de Monte Castelo
Sua última missão ocorreu em abril de 1945, depois que o 11° Regimento recebeu a missão de fazer o reconhecimento da região de Biscaia e Monte Forte nas imediações de Montese — uma área conhecida como “terra de ninguém”. Wolf se ofereceu para liderar a patrulha composta por 19 soldados, mas, infelizmente, foi atingido no peito por uma rajada de tiros disparados pelos alemães e morreu no local.
Outros soldados brasileiros reconhecidos por sua bravura são Arlindo Lúcio da Silva, Geraldo Baeta da Cruz e Geraldo Rodrigues de Souza, que também integravam o 11° Regimento de Infantaria. O trio participou das batalhas de Montese e fazia parte de uma patrulha enviada para combater tropas alemãs em uma região montanhosa repleta de minas.
Em uma de suas incursões, os três se depararam com uma companhia composta por cerca de 100 soldados alemães e, apesar de receberem ordens para se render, os brasileiros se atiraram ao chão e abriram fogo contra os inimigos. Eles resistiram sob o fogo de metralhadoras até ficarem sem munição — quando se armaram com suas baionetas, se lançaram contra os nazistas e finalmente foram mortos.
Surpresos com a valentia do trio, em vez enterrar seus corpos em uma vala comum, os nazistas sepultaram os brasileiros com o respeito que mereciam e marcaram o local com uma cruz e a inscrição “Drei Brasilianischen Helden” ou “Três Heróis Brasileiros”. Com o fim da guerra, os restos mortais dos soldados foram levados para um cemitério na Itália e, anos depois, foram trazidos ao Brasil — e hoje se encontram no "Monumento aos Pracinhas" localizado no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro.
Além disso, a banda sueca de power metal Sabaton — que já compôs várias músicas sobre batalhas históricas — fez uma homenagem aos soldados brasileiros. Em seu sétimo álbum, “Heroes”, o grupo incluiu a canção “Smoking Snakes” (ou "Cobras Fumantes", que era como os pracinhas eram conhecidos), e a letra inclusive conta com um refrão em português.