Ciência
31/10/2017 às 03:00•3 min de leitura
Apesar de normalmente associarmos a guilhotina às multidões enlouquecidas que se reuniam durante a Revolução Francesa para ver cabeças rolando em praça pública, a verdade é que essa eficiente máquina de morte foi usada para executar criminosos na França até bem recentemente! Aliás, é da última pessoa a ser decapitada publicamente com o uso da guilhotina no país que vamos falar agora: Eugen Weidmann, em 1939.
Eugen não era francês, mas sim alemão, e foi condenado à morte depois de uma longa carreira de crimes — e de ter admitido ser o responsável pelo assassinato de seis pessoas. Ele começou a roubar quando ainda era menino, após perder a família na Primeira Guerra Mundial e, com o tempo, a gravidade dos delitos foi aumentando, rendendo a ele uma estadia de cinco anos em uma prisão na Alemanha.
Durante o cumprimento de sua pena, Eugen acabou fazendo amizade com Roger Million e Jean Blanc — que também não eram "flor que se cheire" —, e os três se tornaram companheiros de crime. Quando saíram da cadeia, eles decidiram que sequestrar turistas ricos era uma forma fácil de dinheiro, mas sua primeira tentativa foi um fiasco, já que a vítima, um rapaz jovem, lutou tanto que eles não tiveram outro remédio senão deixar o cara escapar.
Eugen Weidmann
Aliás, logo ficaria evidente que o trio não tinha muito talento para os sequestros, pois, pouco tempo depois, no verão de 1937, Eugen e seus comparsas decidiram raptar uma jovem socialite de Nova York chamada Jean de Koven que estava em Paris visitando familiares. A moça tinha 22 anos, mas acabou sendo assassinada pelos criminosos antes que o pagamento do resgate fosse realizado.
Depois da turista norte-americana, o trio matou outras cinco pessoas nos arredores de Paris, e todos os crimes também aconteceram em 1937. As vítimas incluíam uma mulher chamada Jeanine Keller, que respondeu a um anúncio de emprego para uma vaga de governanta, o motorista de táxi Joseph Couffy, o produtor teatral Roger LeBlond, um alemão chamado Fritz Frommer, que Eugen havia conhecido na prisão, e Raymond Lesobre, um agente imobiliário.
Eugen sendo julgado em Versailles
Apesar de a ideia inicial ser de que o trio se dedicasse aos sequestros, eles simplesmente roubavam o dinheiro de suas vítimas e, segundo algumas fontes, a soma total que os delinquentes conseguiram acumular foi de pouco mais de 14 mil francos. Uma ninharia, quando pensamos que seis pessoas foram assassinadas por dinheiro.
As autoridades chegaram a Eugen porque ele, descuidado, esqueceu um cartão de visita no escritório de Raymond Lesobre, e os investigadores simplesmente seguiram a pista. Só que ele não se entregou facilmente, não! O alemão era extremamente agressivo e somente foi capturado depois de trocar tiros com os policiais e levar algumas marteladas na cabeça.
Eugen com a cabeça enfaixada por causa das marteladas
Após a prisão, Eugen confessou ter assassinado as seis vítimas e foi julgado juntamente com seus comparsas por uma corte em Versailles. No fim, Jean Blanc e Roger Million escaparam da pena de morte e foram sentenciados à prisão perpétua — e Eugen foi o único a ser condenado a ser executado em praça pública na guilhotina.
Na verdade, a intenção era de que a decapitação pública servisse de exemplo e desencorajasse a criminalidade na França. No entanto, as autoridades subestimaram a sede de sangue da multidão, pois, no dia da execução, 17 de junho de 1939, o que se viu foi as pessoas indo à loucura diante do espetáculo (bárbaro)! Aliás, o alvoroço foi tão grande, que o local da sentença teve que ser alterado e seu cumprimento, adiado em várias horas.
Primeiro local escolhido para a execução de Eugen
Mas essas medidas não foram suficientes acalmar a multidão. A guilhotina foi montada diante da prisão Saint-Pierre, em Versailles e, enquanto Eugen era conduzido até ela, as pessoas não pararam de gritar, assoviar e clamar para o criminoso. Além disso, diversas fotos foram clicadas da ocasião, e inclusive existem filmes do momento da execução.
Como se fosse pouco, de acordo com testemunhas que assistiram à execução, depois de Eugen perder a cabeça, muitas mulheres esperaram até que os policiais saíssem do local para molhar lenços com o sangue do criminoso.
Nesse vídeo que você pode ver abaixo é possível ter uma melhor noção da quantidade de pessoas que compareceram à execução:
Nos dias seguintes ao ocorrido, a imprensa francesa fez críticas duras ao comportamento histérico da população. Além disso, o presidente da época, Albert Lebrun, ficou horrorizado com o espetáculo que se formou em Versailles — e proibiu que as execuções públicas fossem realizadas no país.
Registro da guilhotina no momento da execução de Eugen
Mas vale lembrar que a guilhotina não foi aposentada depois disso! A última pessoa a ser condenada à morte por decapitação na França foi o assassino de origem tunisiana Hamida Djandoubi, em setembro de 1977, e a pena capital só se tornou ilegal no país em 1981.
*Publicado em 21/09/2016