Ciência
23/03/2017 às 05:01•5 min de leitura
Olhe para os seus pés agora. O que há ali? Digamos, entre a sola deles e o chão? A menos que você seja algum naturista ou algo que o valha — ou esteja refestelado no sofá —, é provável que exista ali um par de tênis, de chinelos, de pantufas... Em suma, um sapato.
Os calçados figuram entre as mais antigas invenções da humanidade. Na verdade, o fato de que muita gente não presta muita atenção neles talvez já mostre o quanto estamos acostumados a essa comodidade. Bem, mas onde exatamente começa a história dos sapatos?
De acordo com os cientistas, a utilização de sapatos pela raça humana teve início entre 40 mil e 26 mil anos atrás. Nesse período, é possível perceber uma considerável alteração anatômica nos ossos dos pés. Basicamente, ao proteger suas solas naturais, os seres humanos tornaram artelhos flexíveis e fortes menos necessários.
Sapatos de couro com 5.500 anos, encontrados na Armênia Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
Entretanto, a primeira evidência concreta da utilização de sapatos data de 15 mil anos atrás. A imagem pintada em uma caverna na Espanha não deixa dúvidas: os povos da época realmente gostavam de manter os pés protegidos.
Alguns dos primeiros sapatos confeccionados pelo homem eram feitos de couro curtido — fosse uma superfície ampla ou apenas um cordão que revestia todo o pé. Além de couro de animais, há relatos de ancestrais nossos que utilizavam sapatos fabricados com outros materiais, tais como folhas de plantas específicas — talvez o único sapato na História a durar menos do que alguns tênis chineses, portanto.
Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
Mas, em tempos relativamente mais recentes, é possível perceber que diferentes povos e culturas passaram a ostentar suas próprias formas de proteger os pés. Entre elas:
Do símbolo de poder para os romanos, os sapatos entraram para a Idade Média, onde passaram a ganhar, lentamente, o formato que conhecemos hoje. No século XV, por exemplo, entrava em cena o primeiro par de sapatos de salto alto. Apenas para mulheres? Não mesmo. Todo fidalgo, fosse do sexo que fosse, poderia ostentar seu salto de 7 ou 8 polegadas em lugares como Veneza. Ao povo menos abastado, é claro, restava andar descalço.
O hoje tradicional cadarço, entretanto, apareceria apenas em 1790 — incluindo já os orifícios trespassáveis no corpo do calçado. Já no início do século XIX, alguém percebeu que poderia ser uma boa ideia ter sapatos específicos para o pé direito e o pé esquerdo (até então, ambos eram iguais, incluindo apenas algumas pequenas soluções anatômicas). A ideia seria finalmente abraçada pela indústria apenas em 1850.
Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
Bem, mas e a produção industrial? Apesar daquela famosa revolução ocorrida ao final do século XVIII, fato é que os sapatos confeccionados por máquinas não seriam o padrão antes de 1846 — e, mesmo assim, com grande resistência por parte dos consumidores.
A ideia só vingaria mesmo pela necessidade: com boa parte dos sapateiros enviados para guerras, passaram a faltar calçados, tanto para civis quanto para soldados. Aí foi preciso apelar para as máquinas. Foi também nessa época que surgiu o primeiro sapato diferenciado por gênero: a Rainha Victória ganharia em 1840 botas especialmente confeccionadas.
Embora, originalmente, a ideia de colocar algo sob os pés deva ter relação direta com uma forma de proteção — como os sapatos utilizados por beduínos para evitar ter os pés queimados pela areia escaldante —, hoje não é preciso ir muito longe para perceber que a utilização de sapatos (e afins) vai muito além daquele funcionalismo básico.
Não, ninguém usaria um sapato assim só para proteger os pés. Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
Embora usar ou não sapatos não represente mais um diferencial — ao contrário dos portadores ilustres de tamancos na Veneza do século XV, portanto —, certamente questões como “Onde você comprou?”, “De que material é feito?” e, sobretudo, “Quanto pagou?” continuam mantendo os calçados como símbolos quase inequívocos de status (ou, vá lá, de poder aquisitivo).
Ok, agora você poderá voltar a simplesmente usar os seus sapatos — afinal, essa é a ideia —, destinando a atenção para qualquer outra coisa. Mas, antes disso, que tal conferir algumas curiosidades sobre esse adereço vital para o desenvolvimento humano?
Os sapatos usados pela atriz Judy Garland, em "O Mágico de Oz", são os mais caros do mundo. Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons
*Publicado originalmente em 31/7/2013.