
Ciência
31/05/2012 às 14:41•5 min de leitura
Stand 2nd Floor
A temporada de moda carioca não se resume apenas à apresentação das coleções para o verão 2013. A plataforma Fashion Rio Negócios inclui também o Rio-à-Porter, um salão de oportunidades que movimenta o mercado fashion brasileiro durante três dias.
A edição dessa temporada acabou no último dia 25 e tem motivos para comemorar. O aumento do número de compradores e lojistas em até 40%, previsto pela organização do evento, se confirmou - para a satisfação dos expositores. Segundo a divulgação do Rio-à-Porter, 119 marcas expuseram suas peças para a próxima estação, entre grifes que fazem parte do line up do Fashion Rio, outras escolhidas pela curadoria do salão e polos criativos.
As marcas participantes incluem Salinas, Tryia, Desirée Nercessian e a Poko Pano, que estreou nessa edição do evento. Outras estreias foram de nomes vindos de polos criativos de vários estados brasileiros, como Pernambuco, Ceará, Paraná, Distrito Federal, Mato Grosso, Pará, Goiás e Santa Catarina. Vale lembrar que o destaque desse Rio-à-Porter foi a moda praia.
A maior parte dos convidados a conferir o salão veio de São Paulo e Minas (com 21% e 12%, respectivamente), seguido por representantes do Paraná (10%). Mas entre as regiões, a com participação mais expressiva foi a Nordeste, maior interessada nas compras para o verão. Isso porque pelo menos 28% dos compradores eram de estados como Bahia, Piauí, Alagoas, Pernambuco e Sergipe.
Stand Auslander
Porém, não foram apenas os representantes brasileiros que vieram até o Rio-à-Porter em busca de oportunidades de negócio. Compradores internacionais também prestigiaram o evento para conferir os lançamentos de beachwear. A maioria veio dos Estados Unidos, mas há também buyers da Alemanha, Bélgica, Emirados Árabes, Espanha e Uruguai.
Entre os visitantes vindos do exterior, destaque para os da Seaside Luxe e da Gone Bananas, duas multimarcas de luxo da Califórnia. A primeira é a responsável pelas boutiques de alguns resorts de luxo, como o Four Seasons Hualali e o Terrana, que enviou como representantes a compradora sênior e a gerente de merchandising do grupo.
Já a Gone Bananas veio ao Brasil pela segunda vez para ver as novidades do salão. A multimarcas é especializada em moda praia e foi criada em 1975 em São Diego.
Arara da Filhas de Gaia
Ciclo de palestras Economia de Moda
O Rio-à-Porter vai além do salão de negócios e oferece também espaço para palestras para lojistas e profissionais de moda. Nessa edição de verão, os encontros começaram com uma apresentação da estilista do Senai Moda Design, Carol Fernandes, que mostrou o conteúdo do “Preview de Inverno Caderno Perfil 2013”.
A publicação fala sobre as macrotendências para a moda e o design que estarão em alta na próxima temporada fria. Assim, empresários do setor podem identificar os perfis de compradores, traduzindo as correntes de comportamento e ampliando oportunidades com coleções atraentes ao consumidor.
No segundo dia, foi a vez da diretora de tendências do bureau internacional Stylesight, Camila Toledo, falar um pouco da importância da internet na divulgação e disseminação da moda de rua. Nesse contexto, as mulheres conhecidas como “it-girls”, que influenciam o mundo fashion com seu estilo pessoal, se tornam celebridades nas capitais.
A palestrante analisou o perfil desse público e identificou as brasileiras que exercem esse papel hoje no mercado nacional. Outro foco da conversa foi como as marcas podem se beneficiar do fenômeno de imagem dessas influenciadoras.
Coleção da Nica Kessler em exposição no evento
No último dia, a gerente de novos negócios do WGSN, Clarissa Araújo, apresentou as principais tendências para Visual Merchandising em 2013, além de contar sobre as melhores práticas e estratégias dos varejistas ao redor do mundo. A intenção era gerar inspiração para o mercado nacional.
Ainda no terceiro dia do Rio-à-Porter, aconteceu um workshop realizado pela editora do site FFW, Camila Yahn, e pelo editor de moda da revista FFW Mag, Paulo Martinez, com gestores de polos criativos de diversas regiões do Brasil. O encontro faz parte do convênio entre o Instituto de Moda e Design e o Sebrae Nacional para valorizar a produção dos pequenos empresários de todo o país.
Camila falou sobre o funcionamento do mercado de moda e ofereceu dicas de leitura e de filmes nacionais e internacionais para que os empresários pudessem se inspirar. Entre as sugestões estão os jornais The New York Times e o longa “O Quinto Elemento”, que mostra o trabalho do estilista Jil Sander.
Segundo a divulgação do evento, a editora ressaltou a importância de estudar sobre os grandes nomes da área, buscar atualização diária e estar de olho nas redes sociais, que funcionam como um termômetro das preferências dos consumidores.
A apresentação de Paulo Martinez focou no trabalho de curadoria do evento para garimpar peças de vários expositores para um editorial na revista FFW Mag. A edição especial deverá ser publicada após a temporada nacional. Ele ressaltou que ficou feliz com o que viu nas araras e que ter ousadia é fundamental. “É muito ruim quando a gente vê um trabalho de um brasileiro muito parecido com o de um estilista internacional”, explicou. Para ele, a moda deu e sempre vai dar mais valor para quem é autêntico e ousado.
Marcas estreantes
Várias marcas tiveram pela primeira vez a oportunidade de expor no Rio-à-Porter. Esse é o caso da Muv Custom Shoes, de Brasília, que foi convidada a participar pelo Sebrae. Ela é especializada em tênis customizados para venda online. O cliente entra no site da marca, escolhe o modelo, a estampa e a cor do cadarço. Os pares custam entre 189 e 270 reais, com prazo de entrega de até 10 dias. Hoje, a grife contabiliza em média 3 mil acessos em seu e-commerce por mês, mas, com a participação no salão, a expectativa é a de que até o fim do ano ela abra um espaço no Rio de Janeiro.
Interface do site da Muv. Fonte: Divulgação - Muv
A UQBAR também estreou nessa edição do salão. Ela oferece camisetas de malha customizadas com aplicações de devorê, fusão e sublimação. As peças possuem paetês, estampas exclusivas, coleções fortes e características bem brasileiras, com linhas inspiradas na caipirinha e no Senhor do Bonfim. Apenas no primeiro dia de exposição, a grife bateu a meta para todo o evento.
“A partir de hoje, todos os estados brasileiros revendem a nossa marca. Agora sim, nos preparamos para trabalhar o mercado internacional. A partir de agosto, estaremos presentes nas cidades de Nova York, Paris e Las Vegas”, contou a gerente de marketing da malharia, Fernanda Parlato.
A moda plus size também ganhou mais espaço no evento. As marcas Marri Gatô (Niterói) e Frilange (Friburgo) apresentaram suas coleções para o público, com peças tendo tamanhos maiores. A primeira oferece looks para o dia a dia, trabalho e noite, com mais de 25 opções. Já a segunda tem modelos de renda mais ousados, como lingeries. Ambas buscavam a expansão dos negócios nos dias de salão.
O Pará também foi bem representado no Rio-à-Porter. As marcas paraenses AND COR, Celeste Heitmann e Vivi Moda Exclusiva apresentaram suas coleções de verão no espaço. Destaque para as bolsas de mão feitas de coadores de café e assinadas por Celeste. O material passou por um tratamento especial e ganhou estamparia com acabamento de camurça.
Sustentabilidade em alta
Vários expositores apostaram em peças com pegada sustentável para conquistar os compradores. Entre elas está a Natural Cotton Color, que pode ser encontrada na multimarcas americana Seaside Luxe. A grife trabalha com algodão naturalmente colorido, desenvolvido pela Embrapa, e com conceitos de reaproveitamento de materiais e combate ao desperdício.
Um exemplo dessa preocupação é que as roupas da marca não precisam ser passadas, o que representa economia de energia. Além disso, a matéria-prima vem do trabalho de 60 agricultores familiares, localizados em um assentamento perto da capital carioca.
Colar Silvia Blumberg. Fonte: Divulgação/Rio-à-Porter
Os materiais reaproveitados viraram não apenas roupas no salão, mas também jóias. Esse foi o caso da designer Silvia Blumberg ,que usou resíduos de sucos de morango e maracujá misturados a pedras preciosas, prata reciclada e materiais de canteiros de obras em suas coleções. Até a tampa de caneta Bic ganhou utilidade estampando anéis, cordões e brincos.
Colar de Elisa Paiva. Fonte: Divulgação/Rio-à-PorterA estilista Elisa Paiva usou microlâmpadas de lanternas de carros para as peças que levou ao Rio-à-Porter. Elas se transformaram em pingentes e colares inusitados, que prometem fazer sucesso no mercado.
Ainda na área de joias, a carioca Márcia Mór também apostou no reaproveitamento para sua coleção. Um exemplo é o anel Escargot, feito com a concha do caracol, que é coletada em restaurantes e bistrôs do Rio. O preço da peça é de 460 reais, em média.
Para a linha de verão da JS, assinada pela designer Julieta Sandoval, foi usado papel reciclado. Os acessórios possuem detalhes de dourado, azul, silk exclusivo e jeans tricotado que dão origem a bolsas e carteiras customizadas. Essa é a primeira vez que a marca aposta na mistura de materiais e texturas junto ao seu silk próprio.
Para o Rio-à-Porter, a designer Monica Krexa apostou no dourado sem deixar a sustentabilidade de lado. Assim, brincos, anéis, braceletes e adereços de cabeça são feitos de alumínio ecologicamente tingido. As bolsas e carteiras, por sua vez, são feitas de couro sintético e ecológico, com detalhes de pedras.
Entre a moda praia também não faltaram coleções com pegada sustentável. A Azaí Biquínis usou lycra cirré, que modela as curvas com efeito de couro, mas também fibras de bambu para saídas de banho. Alguns conjuntos ainda possuíam detalhes e alças de papel reciclado.
A fibra de bambu também foi utilizada pela ONNG, do Mato Grosso, para sua coleção de 20 camisetas. Além desse tecido, a marca também usou outros materiais feitos de garrafas PET recicladas, algodão orgânico e fibra de bambu.
Sapatos Comparoni. Fonte: Divulgação/Rio-à-Porter
Outro exemplo de coleção sustentável é a da Comparoni, da Paraíba, que levou para o salão uma linha de sapatos produzida com algodão ecológico. Essa matéria-prima já nasce naturalmente colorida e por isso elimina a necessidade de usar aditivos e corantes. Além do aspecto sustentável , a marca também contribui para a economia local. Isso porque o trabalho artesanal contribui para o sustento das famílias da região.
Assim, não faltaram opções para quem gosta de estar por dentro das tendências, mas sem prejudicar o meio ambiente.