Estilo de vida
21/05/2020 às 13:00•4 min de leitura
Quando o assunto é sobre os acontecimentos durante o famoso período do Velho Oeste norte-americano, é inevitável não pensar nos confrontos policiais entre cowboys, indígenas, garimpeiros, empresários e outros "peões" históricos que compuseram um dos momentos de maior avanço daquele tempo.
Então, o xerife representava o figurão das empoeiradas cidades, cujo único objetivo era manter a ordem e capturar uma das piores "ervas daninhas" daquela época: os ladrões.
O museu de Carbon County, situado em Rawlings, no estado do Wyoming, é responsável por ser a "prateleira" de diversos artefatos que mantêm viva a memória do Velho Oeste norte-americano. No local, há um item que ilustra bem como funcionava, naquela época, a lei do povo quando as autoridades perdiam o controle da situação. No canto do museu, atrás de uma parede e dentro de uma redoma de vidro, está o primeiro par de sapatos feito de restos humanos.
Entre a retrospectiva do impacto que as estradas de ferro causaram na região e as imagens da visita de Thomas Edison ao local em 1878, o repulsivo par de sapatos é considerado o símbolo mais significativo de como era a realidade naqueles áridos tempos.
(Fonte: Prairie Rose Publications/Reprodução)
Ele só era um entre os milhares que percorriam os quatro cantos do Velho Oeste. Provavelmente nascido em 20 de março de 1834, George Parrott era um homem de muitos nomes, porém de uma face incomparável. Dono de um nariz enorme, ele era conhecido em muitos lugares, e principalmente pelas autoridades, como "Big Nose" George, "Big Bick" Parrott, George Manuse e George Warden.
Parrott e sua gangue atuavam geralmente na região censitária de Powder River, no Wyoming, roubando carroças, remessas de dinheiro, passageiros e cavalos. No dia 16 de agosto de 1878, eles arquitetaram um plano mais ambicioso do que nunca: assaltar o vagão de um trem que transportava todo o dinheiro da companhia de estradas férreas Union Pacific Railroad. O plano era manipular os trilhos na seção próximo ao rio Medicine Bow para que o trem descarrilasse e eles agissem.
No dia do assalto, a gangue se escondeu em arbustos perto dos trilhos e aguardaram até que o comboio passasse. No entanto, para o azar dos homens, funcionários de inspeção da ferrovia apareceram e notaram o dano proposital nos trilhos. Logo, um dos guardas alertou o maquinista e impediu que o trem continuasse a viagem. Um dos membros da gangue quis matá-lo, mas foi impedido por Parrott.
Com o plano frustrado, o bando partiu do local e encontrou refúgio no Canyon de Rattlesnake, em Elk Mountain. O xerife Robert Widdowfield e o policial Henry Vincent rastrearam os bandidos e chegaram até o esconderijo. No entanto, os policiais foram emboscados pelos ladrões, sendo baleados e mortos. Depois disso, a Union Pacific Railroad aumentou os esforços para encontrar a gangue e até ofereceu uma recompensa de 20 mil dólares para quem os capturasse.
(Fonte: Camisas e Manias/Reprodução)
Em fevereiro de 1879, Parrott migrou para o Miles City para assaltar um rico comerciante local chamado Morris Cahn, que sempre carregava o seu dinheiro para o leste a fim de comprar mercadorias. Com a ajuda de dois homens, o criminoso realizaria o ousado assalto mesmo com o comerciante sendo escoltado por uma frota de 15 soldados e 2 policiais. Incrivelmente, o roubo deu certo, e os homens fugiram com um valor de 14 mil dólares.
Em 1880, em um bar em Miles City, os criminosos beberam demais e acabaram se gabando de seus feitos, incluindo o assassinato dos homens da lei. Alguém acabou escutando e ligou para o xerife James Rankin, do Condado de Carbon. Parrott e seus colegas foram presos no local e transferidos de volta ao território do Wyoming. Naquela época, o clima de tensão social devido às mortes e aos roubos dos homens já havia atingido níveis alarmantes na região de Rawlings.
No dia 2 de abril de 1881, George Parrott foi condenado à forca. Dez dias antes de sua execução, ele tentou escapar da prisão local usando um canivete para desparafusar os rebites da barra onde as suas algemas estavam presas, fazendo o mesmo com a fechadura de sua cela. Parrott golpeou o carcereiro antes de seguir em direção à entrada da prisão, porém foi impedido pela esposa do xerife Rankin, que fechou as portas antes que o homem as alcançasse. Para acuá-lo, a mulher atirou para o alto e várias pessoas surgiram para saber o que estava acontecendo.
(Fonte: Amusing Planet/Reprodução)
Uma multidão de 200 pessoas se formou na frente da prisão, e Parrott foi arrancado de lá. Amarraram as mãos dele nas costas, colocaram uma corda em seu pescoço, prenderam a outra ponta da corda em um poste de telégrafo e o forçaram a subir em uma escada de 4 metros de altura. Parrott implorou para que atirassem nele, mas os civis simplesmente puxaram a escada e assistiram-no agonizar até a morte.
Não havia ninguém para reivindicar o corpo, tampouco quem se preocupasse em removê-lo da corda quando esfriou. Os médicos Dr. Osborne e Dr. Thomas Maghee recolheram o cadáver de Parrott para estudo. Maghee examinou o cérebro do homem para tentar descobrir alguma alteração estrutural que justificasse organicamente a sua índole criminosa. Ele cortou o nariz do homem e presenteou Lilian Heath, que o fez de cinzeiro.
(Fonte: My Wyoming Adventure/Reprodução)
Osborne, por outro lado, simplesmente esfolou toda a pele do rosto, das coxas e do peito de Parrott e usou para confeccionar um par de sapatos de baile, que usou no dia de sua eleição como o primeiro governador democrata do Wyoming. O cadáver ainda foi explorado ao longo de 1 ano até que fosse enterrado em um barril de uísque e descoberto por trabalhadores somente em 1950.
Em 1995, o antropólogo George Gill e o arqueólogo Mark Miller fizeram uma análise comparativa entre o crânio e a pele no par de sapatos encontrados de Osborne e confirmaram a relação de um com o outro.
Parrott entrou para a história dos Estados Unidos como o primeiro a ser transformado em um par de sapatos e não por ter se tornado uma espécie de Clyde do faroeste.