Poon Lim: o chinês que ficou à deriva e acabou chegando ao Brasil

27/08/2020 às 15:003 min de leitura

Desde pequeno, Poon Lim sempre foi apaixonado pelos mares, mas nunca imaginou que o seu destino seria mudado por conta dele. Nascido em 8 de março de 1918, em Hainan, na China, ele conseguiu frequentar a escola graças ao dinheiro que seus irmãos enviavam mensalmente, oriundo de seus empregos em fábricas. Devido às condições financeiras, não era comum que garotos de sua idade frequentassem escolas.

Aos 19 anos, Lim quis entrar no Exército de Libertação Popular da China para trabalhar como marinheiro. Depois de ter sido tratado feito lixo, ele decidiu que nunca mais colocaria os pés em um navio, decidindo seguir carreira como engenheiro.

Durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa, em 1941, o exército japonês avançava de modo implacável sobre a China. Temendo que o filho fosse convocado para servir e acabasse morto, o pai de Lim implorou para que ele fosse trabalhar em algum navio britânico, pois achava que estaria mais seguro. Naquela época, a Marinha Real Britânica sofria com as baixas de marinheiros devido aos ataques de torpedos alemães, por isso lançou uma campanha para reunir esforços com jovens de outras nações. E, a contragosto, Lim aceitou.

Explosão em alto-mar

(Fonte: Denvistorii/Reprodução)(Fonte: Denvistorii/Reprodução)

Em meados de 1942, Lim trabalhava como segundo comissário no navio mercante britânico SS Ben Lomond, que havia saído da Cidade do Cabo em 10 de novembro daquele ano e atravessava o oceano Atlântico a caminho do Suriname. 

O Ben Lomond era conhecido por ser um navio "vagabundo”, pois não possuía horários fixos. Ele também costumava viajar sozinho, muito diferente de outros navios mercantes que sempre iam em comboios.

No fatídico 23 de novembro de 1942, a embarcação havia-se desviado de sua rota original por causa de condições meteorológicas que não foram previstas. Carregado de armas e se movendo lentamente, alguns historiadores acreditam que isso tenha contribuído para que o navio chamasse a atenção dos alemães que estavam a bordo do submarino U boot-172.

(Fonte: Uboat.net/Reprodução)(Fonte: Uboat.net/Reprodução)

Por volta das 11h30 daquele dia, o submarino nazista atingiu o SS Ben Lomond com dois torpedos. Demorou menos de dois minutos para que a embarcação afundasse levando a vida de 56 homens, sendo 24 deles britânicos e 22 chineses.

Antes que as caldeiras do navio explodissem, Poon Lim conseguiu apanhar um colete salva-vidas e pular nas águas. Ele se considerava um péssimo nadador, então o colete certamente foi a melhor ideia em meio à iminência da morte. Lim ainda foi visto pelos inimigos nazistas enquanto se afastava do navio que naufragava e poderia ter sido morto, mas foi poupado porque eles sabiam que ele não teria nenhuma chance.

Naquela manhã, Poon Lim foi o único sobrevivente.

À deriva

(Fonte: Diply/Reprodução)(Fonte: Diply/Reprodução)

Lim ficou flutuando pelo oceano por aproximadamente duas horas até que encontrou uma jangada de madeira de 2,5 metros quadrados. Com um telhado parcial feito de lona, a jangada possuía algumas latas de biscoito, dois sinalizadores, um saco de açúcar, uma lanterna, um pedaço de lona, uma corda e um cantil com água doce.

Na primeira semana, ele sobreviveu bem com as provisões. Ele usou a lona que tinha para completar o teto de sua embarcação, pois já sofria de insolação, e também para canalizar água da chuva até o seu cantil.

Em duas semanas, Lim já estava quase morrendo de fome sem ter o que comer. Ele decidiu pegar a mola da lanterna, a corda e um prego que arrancou de uma das tábuas da jangada para criar uma linha de pesca. O jovem sobreviveu com os peixes que pescou, porém ele só conseguia capturar um ou dois por dia. Assim que pegava, ele abria o peixe com uma faca improvisada a partir do metal da lata de biscoito e o deixava para secar em um varal improvisado.

Com o sol muito forte, pouca alimentação e sem beber água há mais de três dias, Lim achou que morreria. Por várias vezes ele desmaiou e acordou horas depois ainda mais fraco. Temendo cair no oceano e morrer afogado, ou pior, perder a embarcação, ele amarrou uma ponta da corda ao pulso e outra na balsa.

Quando um pássaro pousou na lona, em um ato de extremo desespero, Lim arrancou-lhe a cabeça para poder beber de seu sangue. Logo ele notou que os pássaros eram atraídos pelos peixes que ele deixava secando e viu nisso uma oportunidade para saciar a sua sede.

O perigo na água

(Fonte: The Daily Telegraph/Reprodução)(Fonte: The Daily Telegraph/Reprodução)

Lim só não contava que as carcaças dos animais fossem atrair diversos tubarões. Mais faminto do que os próprios animais, ao invés de fugir deles, ele começou a caçá-los.

Usando a carcaça de um pássaro como isca e um gancho afiado, Lim lutou com um dos tubarões até que conseguisse matá-lo. Arrastou-o para cima da jangada, abriu o seu fígado e sugou todo o sangue dele. Há dias sem água, foi isso que saciou a sua sede. Ele ainda cortou as barbatanas do tubarão e secou-as ao Sol para comer.

A princípio, Lim achou que seria resgatado em breve quando percebessem que o SS Ben Lomond não havia atracado em seu destino, mas um mês depois ele já havia desistido dessa ideia. Quando um navio cargueiro e um esquadrão de aviões de patrulha da Marinha dos EUA passaram por ele sem oferecer ajuda, ele tinha certeza de que morreria ali.

Em 5 de abril de 1943, após 133 dias à deriva, Lim notou que a água do mar havia mudado de azul para verde. Ele havia atravessado todo o oceano Atlântico e chegado à costa norte do Brasil, na região do estado do Pará, em Belém.

Com 9 kg a menos, o jovem foi resgatado por três pescadores e levado para o hospital, onde ficou por mais quatro semanas internado. Quando voltou para a Inglaterra, ele foi condecorado com uma Medalha do Império Britânico, e a Marinha Real incorporou a sua história em manuais de técnicas de sobrevivência em alto-mar.

Antes de morrer, em 4 de janeiro de 1991, Poon Lim foi classificado como a única pessoa que sobreviveu por mais tempo sozinha à deriva no mar em um bote salva-vidas. Para isso, ele declarou: “Eu espero que ninguém jamais tenha que quebrar esse recorde”.

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