Artes/cultura
04/09/2020 às 15:00•3 min de leitura
Filha do corretor de imóveis Mauricio Gebara e da advogada Lizette Farah, Paulette Gebara Farah nasceu em 20 de julho de 2005 no município de Huixquilucan, no México. Ela tinha uma deficiência física e distúrbio de linguagem, por isso sempre teve duas babás para auxiliá-la — na época eram Ericka e Martha Casimiro.
Na fatídica noite de domingo, 21 de março de 2010, Paulette voltou para o apartamento onde morava depois de uma viagem com o pai e a irmã até Valle de Bravo. A mãe tinha viajado com o amante, a amiga Amanda de la Rosa e vários outros homens.
Antes de dormir, Lizette esperou a chegada das filhas para colocá-las na cama. Às 8h de 22 de março, a babá Ericka entrou no quarto para acordar Paulette, mas a garota havia desaparecido da cama.
Assim que os pais foram informados do sumiço da garota, fizeram uma busca pelo condomínio. No apartamento, não havia sinal de entrada forçada, roubo ou luta. Nenhuma janela tinha sido quebrada ou alterada. Os dois cachorros da família não latiram durante a noite, tampouco o casal se queixou de ter ouvido algum barulho estranho.
As câmeras de vigilância não mostravam a garota deixando a propriedade carregada por alguém, tampouco a entrada ou a saída de pessoas incomuns. Paulette não podia andar sozinha, então como ela desapareceu da própria cama no meio da noite sem que os pais percebessem?
Na tarde daquele dia, a primeira controvérsia do caso começou com o envolvimento do procurador-geral do Estado, Alberto Bazbaz, após ele ter lançado uma verdadeira força-tarefa em busca da garota. A mídia noticiou que o homem só tomou parte do caso porque Paulette era de uma família rica, pois milhares de crianças sumiam todos os dias e as autoridades não se empenhavam para encontrá-las.
À noite, Lizette entrou em rede nacional para mandar uma mensagem para o suposto sequestrador da filha, implorando para que a devolvesse. Na manhã seguinte, o rosto da criança estampava transportes públicos e outdoors e aparecia a todo instante em anúncios televisivos no que se tornou um verdadeiro "circo midiático", como definiu o LA Times.
Em 29 de março de 2010, Bazbaz anunciou que as babás e os pais de Paulette foram presos devido à narrativa inconsistente que alimentavam para o público e a mídia. Segundo um relatório da CNN, Lizette foi a primeira suspeita depois que investigadores encontraram uma gravação na qual ela dizia para a outra filha não admitir nada para a polícia. Em sua defesa, a mãe disse que a fala foi tirada de contexto.
A primeira sugestão foi de que, devido às condições físicas de Paulette, a garota teria se tornado um fardo financeiro muito grande, por isso os pais recorreram ao assassinato como solução, apesar de isso ser um argumento incompatível com a folha salarial do casal.
Às 2h de 31 de março de 2010, durante uma varredura dos investigadores atrás de provas no apartamento, o cadáver de Paulette foi encontrado no chão do próprio quarto, no vão entre a cama e a parede. No vídeo feito pelos investigadores e divulgado ao público, alguém disse que a menina tinha marcas profundas de espancamento, porém Bazbaz alegou que ela morreu por asfixia que obstruiu as vias respiratórias e comprimiu o tórax.
A autópsia indicou que a morte de Paulette foi um acidente. Aparentemente, ela havia rolado da cama e caído no vão. Ficou definido que a posição em que ela foi encontrada foi a mesma em que morreu, então o corpo não teria sido movido por ninguém. Havia hematomas nos joelhos e cotovelos, porém nenhum sinal de abuso físico ou sexual. Não havia substâncias tóxicas em seu organismo e ela teria comido 5 horas antes de morrer. Ficou estabelecido que o óbito ocorreu entre 5 e 9 dias antes da análise, ou seja, ela poderia estar morta desde o desaparecimento. Não foi revelado o horário exato da morte.
Durante a busca, a polícia usou cães farejadores pela casa, e mais de 100 pessoas estiveram no quarto de Paulette, segundo a BBC. O Union Tribune relatou que os familiares e pais dormiram no quarto da garota e em sua cama e não notaram algo incomum. A única explicação, tanto deles quanto da polícia, é que havia roupas de cama e cobertores suficientes para "abafar" o cheiro de decomposição durante os 9 dias em que ela ficou desaparecida.
Entretanto, em depoimento, Ericka e Martha Casimiro alegaram que olharam embaixo da cama e em todo o quarto, mas a garota não estava lá. Quem estava mentindo?
Os pais se viraram um contra o outro, culpando-se pela morte da filha. O casal admitiu que o casamento já havia desmoronado antes de tudo acontecer. Bazbaz suspeitava de Lizette, mas não tinha provas suficientes para prendê-la; já o público estava inclinado a acreditar nas babás, principalmente depois que elas alegaram que os patrões tinham dinheiro suficiente para fazer o corpo da filha desaparecer e reaparecer como quisessem. Em adição a isso, a maneira como o caso foi investigado pelas autoridades ergueu uma suspeita de envolvimento obscuro.
Em entrevista ao Boston.com, Mauricio afirmou: "Eu tenho certeza de que não foi um acidente". O marido suspeitava da mulher. Em entrevista à Televisa, Lizette disse que não entendia o motivo de o marido desconfiar dela e acreditava que os investigadores o manipularam.
Em maio daquele ano, Bazbaz abandonou o cargo de procurador-geral devido à maneira como a investigação foi conduzida, deixando a nação ainda mais intrigada. Em maio de 2017, o corpo de Paulette foi cremado.
A série The Search da Netflix documentou o caso, mas a maior pergunta ainda persiste: quem matou Paulette Farah?