Ciência
15/10/2020 às 15:00•3 min de leitura
Há história por trás de toda estátua ou monumento. Alguns deles, às vezes, são apenas símbolos que carregam uma mensagem, enquanto há aqueles que servem de marco histórico ou os que são apenas uma homenagem a algo ou alguém.
Até hoje existem milhares de estátuas que são sobre pessoas comuns que se tornaram importantes para a cultura local depois de causarem algum impacto na sociedade da época. Em Vallecas, na cidade de Madrid, a estátua da “vovó roqueira” se tornou um símbolo no bairro operário onde o heavy metal foi popular entre os jovens da década de 1980. Ángeles Rodríguez Hidalgo ganhou um busto no bairro em sua homenagem depois que ela acompanhou seu neto a um show de rock aos 70 anos e teve sua vida transformada pelo estilo musical.
A partir daí, ela nunca mais perdeu um show e se tornou uma figura adorada e influente, chegando a conquistar a própria coluna na revista Heavy Rock e fazer colaborações em programas de rádio e TV. A mulher teve até a sua foto como capa oficial do álbum Toca Madera da banda Panzer.
Entretanto, nem todas as estátuas que existem pelo mundo têm boas e reais histórias como essa, e a de Octavia Hatcher é um triste exemplo disso.
Hatcher nasceu Octavia Smith, filha de Jacob e Pricey Smith, em 21 de maio de 1870. Naquela época, seu pai era um comerciante muito rico da região, tanto que possuía aproximadamente US$ 7 mil em bens imobiliários, o que era uma grande fortuna naquele tempo, pelo menos o suficiente para fazer dele um homem mais bem-sucedido do que qualquer um de seus vizinhos.
Em meados de 1889, quando Hatcher possuía 19 anos, ela se casou com James Hatcher, de quem absorveu o famoso sobrenome. Aos 18 anos, Jim, como o homem era chamado pelas pessoas, abriu o próprio negócio depois de anos trabalhando como balconista em pequenas lojas de sua cidade natal.
A partir disso, não levou muito tempo até que ele se tornasse um dos empresários mais bem-sucedidos do Kentucky. Ele trabalhou explorando mineração, madeira e outros empreendimentos que apenas adicionaram “mais zeros” em sua fortuna.
Foi durante a primavera de 1890 que Hatcher engravidou de seu primeiro filho, o qual nomeou Jacob. Em 4 de janeiro de 1891, a jovem deu à luz a seu filho, porém a criança veio a óbito poucas horas após o nascimento. Devastada pela perda precoce, Hatcher sucumbiu a uma profunda depressão.
Em abril, Hatcher ficou doente a ponto de entrar em coma, sendo declarada morta em 2 de maio de 1891. Ela foi enterrada no cemitério de Pikeville ao lado do túmulo de seu bebê recém-nascido. Contudo, a sua história não parou por aí.
A maioria das pessoas acreditava que Hatcher tinha morrido de tristeza por causa da perda de seu filho, embora ela tenha ido simplesmente dormir quando entrou em coma, sem ter apresentado nenhum sintoma físico. No entanto, quando outras pessoas da cidade começaram a entrar em coma enquanto dormiam e, depois de semanas ou até meses acordavam, a família da mulher se desesperou.
Estaria Octavia Hatcher apenas dormindo profundamente quando foi declarada morta? Estaria ela viva quando foi enterrada? Essa “doença do sono”, como chamaram na época, poderia ser o primeiro traço da Epidemia do Sono que aconteceu depois, em 1915.
De acordo com uma espécie de lenda que surgiu ao longo dos anos ao redor do incidente, é dito que a família desenterrou Hatcher e se deparou com o forro do caixão rasgado e a madeira arranhada. A aparência do cadáver da mulher era de puro desespero e horror, confirmando que ela de fato teria sido enterrada viva.
Por outro lado, não existe nenhum registro que possa comprovar a veracidade dessa parte da história. Levando em consideração a fama e a influência da família, era impossível que nenhum veículo de mídia escrevesse nada sobre Hatcher ter sido enterrada viva, ainda mais em um momento em que tantas pessoas estavam sofrendo do mesmo problema que aquela mulher.
Acredita-se que essa possibilidade tenha surgido a partir de um erro de interpretação das pessoas, que foi sendo carregando ao longo das décadas até que adquirisse um caráter factual. Em 1956, Henry P. Scalf publicou um artigo no Floyd County Times falando que Jim Hatcher nutria uma paixão pelos relatos das terras por onde morou, especificamente pela história de uma mulher e de seu bebê que assombravam uma estrada de Ivy Creek depois de terem sido mortos por uma rocha que rolou da montanha em direção à estrada.
De alguma maneira, as pessoas passaram a associar esse relato fantasmagórico e trágico com a morte de sua esposa, como se o homem estivesse fazendo uma espécie de projeção de seus sentimentos.
Desde então, isso alimentou as antigas e supostas aparições do fantasma de Octavia Hatcher ao redor de sua estátua – erguida no cemitério de Pikeville em 1892, a pedido de Jim em homenagem à sua esposa.
Por outro lado, Everett Johnson, curador do Big Sandy Heritage Center de Pikeville, mantém-se convicto de que a mulher de fato foi enterrada viva: “Acho que há evidências anedóticas suficientes para dizer que isso realmente aconteceu”, ele declarou.
Aparentemente, muitos encontraram apoio dessa tese com a morte de Jim Hatcher, em 1939. Quando ficou muito doente, temendo que pudesse ser enterrado vivo, o homem encomendou um caixão personalizado que possuía uma escotilha de escape e pediu para que fosse enterrado em um mausoléu, o que facilitaria a sua fuga.
As pessoas associaram isso à morte de Octavia Hatcher, mas, no final das contas, talvez fosse apenas o medo predominante de acordar da morte (que existia muito no século XIX), exatamente como era descrito nas obras obscuras de Edgar Allan Poe.