Ciência
23/10/2020 às 15:00•4 min de leitura
Nascida em 31 de dezembro de 1956, na cidade de Eugene, no Oregon (Estados Unidos), Colleen J. Stan tinha apenas 20 anos quando aceitou pegar uma carona, era dia 19 de maio de 1977. Afinal de contas, na década de 1970, a prática de pegar carona era extremamente comum para a sociedade da época, tanto entre jovens e adultos quanto entre as crianças. O sequestro ainda não havia atingido uma taxa expressiva para ser considerado um problema de segurança pública.
Colleen queria ir para o aniversário de um amigo que morava no norte da Califórnia, mas o seu problema era a falta de um carro para uma viagem de aproximadamente 600 km. Portanto, sem saída, ela passou a avaliar as caronas em potenciais, recusando duas delas até que uma van azul parasse no acostamento: ao volante estava Cameron Hooker, de 23 anos, com sua esposa Janice Hooker, de 19 anos, e as duas filhas no colo.
A jovem enxergou ali apenas uma jovem família comum e resolveu aceitar a sugestão de carona, embarcando no automóvel. Esse foi o maior erro de sua vida.
Quando a van parou em um posto de gasolina para abastecer durante o trajeto, Colleen resolveu ir ao banheiro. “Uma voz me disse para correr e pular pela janela e nunca mais olhar para trás”, confessou Colleen no tribunal. “Mas eu me acalmei, calei meus medos e voltei para o carro”.
O que a garota não sabia, porém, era que Cameron nutria uma doentia fantasia com escravidão sexual e enxergou nela uma oportunidade de concretizá-la. Sendo assim, Janice não o impediu quando ele saiu da estrada e seguiu para uma área remota. Uma vez lá, Cameron ameaçou Colleen com uma faca em seu pescoço para que ela colocasse a cabeça dentro de uma caixa de madeira que impedia a entrada de ar, luz e qualquer som.
Então, ele dirigiu até chegar na cidadela de Red Bluff, localizada no extremo norte do Vale Central da Califórnia, onde Colleen foi arrastada até o porão da casa e brutalmente estuprada por Cameron. Vendada, ele a pendurou pelos pulsos em ganchos no teto, espancou, eletrocutou, chicoteou e a queimou. Logo em seguida, Cameron e Janice tiveram relações sexuais diante do corpo suspenso da garota enquanto ela gritava de dor.
No momento em que a família se mudou para um trailer, o inferno de Colleen piorou. Ela passou a ser mantida 22 horas por dia em um caixão de madeira que o casal deixava embaixo de sua cama. As duas filhas deles sequer sabiam que a jovem estava sendo mantida ali contra a sua vontade, tampouco que ela morava na casa, visto que ela aparecia apenas por uma ou duas horas por dia para limpar o local e cuidar delas.
Uma hora antes de sair para o mundo, Colleen tinha que “concordar” em ser violentada por Cameron para poder se alimentar. Em meados de janeiro de 1978, o homem ofereceu a jovem o benefício de passar mais tempo fora da caixa se ela concordasse em ser sua escrava sexual para o resto de seus dias. Colleen não teve muita escolha, visto que era forçada a olhar por horas a fio a fotografia de Marie Elizabeth Spannhake, a vítima antes dela cujo corpo jamais foi encontrado.
Cameron alterou o nome de Colleen para K. Cameron Hooker, a proibiu de chamá-lo de qualquer nome além de “mestre” e passou a submetê-la a horas de brutais sessões de sadomasoquismo que chegavam a arrancar sangue das genitálias dela. Em troca, Colleen pôde passar mais tempo ao ar livre, muito embora isso dependesse do bom humor do rapaz.
O abuso psicológico feito por Cameron também foi fundamental para diluir qualquer sentimento de fuga que surgisse em Colleen. Ele dizia frequentemente que fazia parte de uma seita satânica chamada “A Companhia”, que vigiava sua família a todo o momento para caso ela tentasse fugir.
O controle foi tanto ao longo dos anos que Cameron até permitiu que ela visitasse os próprios pais em sua companhia. Ela não conseguiu contar nada, e os familiares tampouco descobriram.
Cameron tirou uma foto deles em meio a paisagem bucólica onde moravam para que a família dela acreditasse que a jovem estava envolvida com algum tipo de culto, por isso não se comunicava regularmente nem pedia por dinheiro. Temendo que ela se afastasse para sempre, eles apenas concordaram em deixar as coisas como estavam.
Após 7 anos de todos os tipos de violência, em agosto de 1984, Cameron Hooker decidiu que tornaria Colleen sua segunda esposa, o que não agradou em nada Janice. Sendo assim, foi ela que contou a Colleen que A Companhia não existia, dando forças a ela para poder escapar de sua vida em cativeiro e pegar um ônibus de volta para casa.
A princípio, Janice implorou para que Colleen não denunciasse seu marido, pois acreditava que ele pudesse ser reabilitado. No entanto, quando ela mesma percebeu que o caso de Cameron não tinha jeito, denunciou-o em pessoa para a polícia.
Janice confessou que foi torturada e submetida a lavagem cerebral desde o dia em que eles se conheceram, e que ela desenvolveu técnicas de negação e compartimentou vários aspectos de sua vida, sendo apenas conivente com tudo o que Cameron fazia por pura inativação emocional.
Em audiência realizada em 1985, Cameron Hooker foi acusado de agressão sexual e sequestro com faca, sendo condenado a 104 anos de prisão após o depoimento de Janice Hooker. Em 2015, o juiz negou sua liberdade condicional e decretou que ela só seria considerada novamente depois que o criminoso cumprisse mais 15 anos de prisão.
Apesar dos problemas crônicos e de todo o estresse psicológico, Colleen Stan seguiu com sua vida, formou-se em contabilidade, casou, teve uma filha e é comprometida em ajudar mulheres em situação de abuso. Sua trajetória foi descrita por Stephen Kemp em 2016 no filme A Garota na Caixa.
Em entrevista à revista People sobre como ela aguentou os 7 anos, Colleen Stan disse: “Eu aprendi que poderia ir a qualquer lugar em minha mente. Você apenas se retira da situação real que está acontecendo e vai para outro lugar. Você vai a um lugar agradável, perto das pessoas que você ama. Qualquer coisa que te faça feliz”.