Ciência
19/11/2020 às 15:00•4 min de leitura
Foi em 17 de janeiro de 1888 que o médico Julius Mount Bleyer sugeriu a injeção letal como método de execução, por ser mais barata e humana, depois de 7 anos da criação da cadeira elétrica para penas de morte.
No entanto, sua ideia não foi usada até o final do século XX, apesar da ampla divulgação de sua eficácia, principalmente na Alemanha nazista durante o genocídio causado com a Ação T4 de Karl Brandt.
Em 1982, o estado do Texas, nos Estados Unidos, foi o primeiro a inserir a injeção letal como substituta da cadeira elétrica. Ao longo dos anos, conforme os governos foram aprovando o novo método, muitas empresas farmacêuticas que fabricam as substâncias usadas no coquetel das injeções entraram na justiça para impedir que os estados usassem suas drogas dessa maneira. Devido a isso, muitos laboratórios governamentais passaram a produzir a própria droga.
O midazolam é um medicamento usado por vários estados norte-americanos para causar um efeito de sedação no condenado. Em 2017, no Alabama, o prisioneiro Thomas D. Arthur entrou com um recurso na Suprema Corte para ter o direito de ser executado por um pelotão de fuzilamento, alegando que o midazolam apenas prolongaria a tortura. Entretanto, o juiz negou o recurso, e Arthur foi executado pela injeção letal naquele mesmo ano.
Em estados como Arkansas, a injeção letal é formada por 500 mg de midazolam (sendo que 10 mg já é suficiente para nocautear uma pessoa), como sedativo; 100 mg de brometo de vecurônio, para causar a paralisia dos músculos; e o cloreto de potássio, para parar o coração. Cada medicamento é administrado em doses para matar o preso, porém, como cada substância apresenta alguma desvantagem, o coquetel com as três serve para diminuir qualquer possibilidade de efeito colateral.
Na sala de execução, o prisioneiro tem a cabeça presa com um cinto assim como o quadril junto com os antebraços e as pernas. Geralmente, o processo leva de 15 a 20 minutos. Desde a invenção da injeção letal, aproximadamente 46 condenados foram executados através dela por ano. Metade dessas pessoas eram brancas, um terço delas era afro-americanas e o restante pertencia a outras raças. Os homens são a maioria dos mortos, enquanto as mulheres figuram apenas 1% nas estatísticas, de acordo com o Centro de Informações sobre Pena de Morte, o Escritório de Estatísticas da Justiça e o NAACP Legal Defense Fund. Em todos esses anos, apenas 75 pessoas escaparam da injeção letal.
Nascido em 4 de junho de 1956, Romell Broom poderia ter sido só mais um dos milhares de criminosos norte-americanos de Ohio que cometeram assaltos e roubos desde muito jovem, mas sua história foi parar em noticiários do mundo todo em 2009.
Em meados de 1984, o homem foi acusado e condenado por sequestrar e matar a estudante Tryna Middleton, de 14 anos, que voltava para casa após um jogo de futebol em East Cleveland, na pequena Ohio. Além de raptá-la, ele teria a estuprado antes de assassiná-la e largar seu corpo em um subúrbio da região. Após a perícia no cadáver e testes de DNA que encontraram sêmen nas genitálias e fragmentos de pele sobre as unhas, os investigadores chegaram até Broom.
No ano seguinte, ele foi condenado pelos crime e teve a pena de morte por injeção letal como sentença. No entanto, além de ter que esperar no extenso corredor da morte, Broom também deu entrada a um recurso de apelação contra a condenação. Muitos juízes também só adiaram a confirmação da execução devido à abundância de provas inconclusivas relacionadas a sua participação no crime.
Em 2002, o advogado de defesa de Broom entrou com o pedido de um novo teste de DNA, que seria um bem mais moderno e tecnológico do que o usado na década de 1980. O relatório do exame mostrou que a probabilidade de ele ser o doador era de 1 em 2,3 milhões, mostrando que 8 ou 9 homens negros no país poderiam ter a mesma sequência genética que correspondia aos vestígios encontrados no cadáver de Tryna.
Apesar disso, o juiz Gregory L. Frost definiu que a pena de Broom, então com 59 anos, também era levada em consideração pelos reincidentes criminais e a tentativa de sequestro de Melinda G., de 11 anos, além do possível assassinato de Gloire Pointer, de 14 anos. Portanto, Frost negou todos os pedidos e agendou a data definitiva para a execução do preso.
Em 15 de setembro de 2009, na penitenciária Southern Ohio Correctional Facility, em Lucasville, às 14h, o diretor Phillip Kerns leu a sentença de morte de Romell Broom após a equipe médica tê-lo prendido na maca.
O que era para ser um procedimento de 15 minutos, demorou mais de 2 horas. Nenhum médico e enfermeira conseguia encontrar uma veia para aplicar a injeção letal no homem. Ele foi picado 18 vezes, com a agulha chegando a atingir até um dos ossos de seu tornozelo durante uma das tentativas. O time chegou a fazer uma pausa de 45 minutos, deixando Broom gritando de dor, antes de tentarem de novo, mas falharam.
Uma enfermeira intitulada “Membro da Equipe de Execução 9” saiu correndo da sala chorando após deixar o braço do homem esguichando sangue, enquanto ele sofria com as dosagens dos medicamentos em seu corpo. “De tamanha agonia, em dado momento, Broom tentou ajudar as 15 pessoas a encontrar um ponto de acesso”, revelou o ex-governador de Ohio, Ted Strickland. Por isso, ele decidiu interromper a execução na 18ª tentativa.
Naquele momento, Broom se tornou a primeira pessoa nos EUA a ter sua execução adiada por não terem conseguido injetar a solução mortal em sua corrente sanguínea.
O caso voltou para os tribunais e reabriu debates sobre as penas de morte no país, que é mantida em 31 dos 50 estados americanos, embora o apoio popular seja de 50% — o nível mais baixo desde 1972. A defesa de Broom deixou claro a crueldade que seria submetê-lo ao processo novamente, além de que a 5ª e a 14ª emendas da Constituição Americana preveem que a mudança de execução seria mais cruel ainda, além de violar a decisão judicial unânime e imutável.
Após vários recursos de apelação, o Estado ainda manteve a execução de Broom, porém sem confirmá-la, apenas adiando há 32 anos desde o veredito. Com os detalhes do caso no documentário The Second Execution of Romell Broom e no livro Survivor on Death Row, escrito pelo próprio condenado, atualmente a morte de Broom está marcada para 16 de março de 2022. Ainda não se sabe como ela será realizada.