Ciência
17/02/2021 às 15:00•4 min de leitura
ATENÇÃO: esse texto pode trazer conteúdos sensíveis por abordar um caso real.
“Viva rápido, morra jovem e tenha um cadáver bonito. Eu vou ser tão bonito que eles vão ter que me cimentar no caixão”, disse James Dean para seus amigos certa vez quando perguntaram a ele sobre o que escreveria na sua lápide. Em 2016, John Gilmore, jornalista e amigo íntimo do astro, revelou essa informação em uma entrevista à revista Life, como parte da biografia James Dean: A Rebel’s Life in Pictures.
A emblemática frase é uma paráfrase de uma das falas do ator John Derek no filme O Crime Não Compensa (Knock On Any Door), lançado em 1949, e um dos preferidos de Dean. Por incrível que pareça, “Viva rápido e morra jovem” se transformaria na personificação da história de vida dele.
Afinal de contas, velocidade e juventude foram duas palavras que definiram a carreira astronômica de James Byron Dean. Após a sua 1ª aparição na televisão aos 20 anos, em um comercial da Pepsi em 1951, logo depois de largar a Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) para seguir seu sonho de ser ator, ele começou a se tornar o símbolo adolescente que marcaria gerações para sempre. Por meio de sua beleza incomum e olhar marcante, ele ganhou o estrelato de vez quando protagonizou o famoso filme East of Eden, em 1955, seguido por Rebelde Sem Causa, que o colocou na lista de Melhores Atores da Era de Ouro de Hollywood.
Em 1954, para fugir do estresse das câmeras dentro e fora dos sets de gravação, dos estúdios fotográficos e também da histeria de uma legião de jovens que queriam ter contato com um galã em plena ascensão, Dean desenvolveu uma paixão por automobilismo.
Entre 26 e 27 de março de 1955, um pouco antes do início das filmagens de Rebelde Sem Causa, depois de já ter comprado vários carros, incluindo um Porsche 356, ele competiu em seu 1º evento profissional, em Palm Springs, na Califórnia. Dean chegou em 1º lugar na classe de novatos e em 2º na corrida principal. No mês seguinte, em Bakersfield, ele chegou na 1ª posição em sua classe e na 3ª no evento principal, ele estava esperançoso para disputar as 500 milhas de Indianápolis.
No entanto, um contrato com a Warner Bros. para estrelar o filme Giant o proibiu de participar das competições ou de correr durante as gravações, por isso ele teve que colocar sua paixão de lado por um tempo. Nesse ínterim, Dean trocou seu Porsche 356 pelo deslumbrante Porsche 550 Spyder 1955, um modelo muito mais rápido e considerado um dos “queridinhos” da época.
Ele o apelidou de “Little Bastard” e decidiu personalizá-lo para ficar mais parecido com o seu estilo, portanto chamou George Barris para acrescentar assentos tartan, duas listras vermelhas nas rodas traseiras e o número 130 nas portas, no capô e na tampa do motor. O mecânico Rolf Wütherich também foi convocado pelo astro para otimizar e preparar o carro para as corridas que ele estava prestes a disputar, uma vez que o filme já estava em pós-produção e ele já estava liberado a voltar a correr.
Até que em 23 de setembro de 1955, algo de esquisito aconteceu. Dean se encontrou com o notório ator Sir Alec Guinness e o levou para ver seu Little Bastard. Guinness se sentiu mal e disse que o carro tinha uma “aura sinistra” e ainda acrescentou: “Se você entrar nesse carro, você será encontrado morto a esta hora na semana que vem”. Dean apenas riu da situação.
Na sexta-feira de 30 de setembro daquele ano, o plano inicial era levar o Porsche até o local da corrida, na cidade de Salinas, na Califórnia, porém Wütherich aconselhou o astro a ir dirigindo para que ele se acostumasse com o motor do carro novo. Com Dean ao volante e o mecânico ao seu lado, eles seguiram com Bill Hickman, dublê contratado pelo ator para ajudá-los, em um trailer logo atrás.
Perto de Bakersfield, a polícia chegou a parar o comboio por excesso de velocidade e a multá-los, porém isso não foi o suficiente para fazer o famoso James Dean parar. Às 17h45, Dean acelerava pela Rota 46, em uma velocidade de aproximadamente 130 km/h, quando foi de encontro ao Ford Tudor do jovem estudante Donald Turnupseed, que decidiu fazer uma curva repentina para a Rota 41.
Incapaz de parar a tempo, Dean colidiu com a lateral do automóvel, bem do lado do passageiro. Wütherich foi lançado do Porsche, enquanto Dean quebrou o pescoço e sofreu vários ferimentos fatais pelo corpo. Ele chegou às 18h20 no War Memorial Hospital, mas foi declarado morto antes que pudesse ser retirado da ambulância.
A seguradora declarou perda total do Little Bastard, mas vendeu seus destroços por US$ 2,5 mil para o Dr. William Eschrich, que já havia competido contra Dean várias vezes. Ele despiu o carro de suas partes mecânicas, instalou o motor em seu carro de corrida Lotus IX e emprestou outras peças ao seu amigo Troy McHenry.
Em 1956, em um evento de carros esportivos em Pomona (Califórnia), Eschrich quase morreu em uma colisão, enquanto McHenry não teve tanta sorte e acabou encontrando a morte naquela mesma corrida ao bater em uma árvore.
A bizarra coincidência dos dois acidentes espalhou pela comunidade automobilística e mídia a teoria de que as peças do Little Bastard eram amaldiçoadas.
George Barris, que havia customizado o carro para o ator, adquiriu os destroços completos de Eschrich. Ele vendeu dois pneus do Porsche, que explodiram no meio da estrada, causando um acidente quase fatal ao seu novo proprietário. Devido à notícia da má fama do Little Bastard ter ganhado força, a garagem de Barris foi invadida por dois ladrões que tentaram levar o automóvel. Contudo, um deles teve o braço rasgado tentando arrancar o volante, e o outro se feriu quando foi remover o assento ainda manchado pelo sangue de Dean.
Diante desses eventos, Barris decidiu esconder o veículo, porém foi convencido pela Patrulha Rodoviária da Califórnia a alugá-lo para uma exibição de conscientização sobre segurança nas estradas. No mesmo dia em que o Little Bastard foi transportado para outra garagem para ser preparado, o local pegou fogo e foi totalmente destruído. Ironicamente, o carro permaneceu intacto.
Uma escola secundária na cidade de Sacramento, na Califórnia, alugou a carcaça para um evento em homenagem ao ator, porém a exposição terminou em desgraça quando o carro despencou da armação e atingiu um aluno que estava próximo.
Então, em 1960, depois que Barris voltava de um evento de exibição do carro em Miami, o carro simplesmente desapareceu do caminhão que o transportava. No entanto, como o homem havia-se transformado em uma espécie de showman que gostava de se promover por meio da imagem do “carro assassino”, muitos acreditam que ele tenha inventado essa história para que o mistério ao redor do Little Bastard permanecesse, visto que a própria mídia já havia perdido interesse nele.
Até hoje ninguém sabe qual é o paradeiro do Little Bastard.