Ciência
24/02/2021 às 04:00•3 min de leitura
Foi em 1680 que o colono inglês John Danforth encontrou no Rio Taunton, na vila de Dighton (atual Berkley), em Massachusetts (EUA), uma pedra de 40 toneladas marrom-acinzentada, com aproximadamente 1,5 metros de altura, 2,9 metros de diâmetro e 3,4 metros de comprimento. No entanto, não foi a descoberta que surpreendeu o homem, mas sim os petróglifos e desenhos erodidos pela água e pelo tempo que marcavam um das faces do arenito.
Intrigado e incapaz de desvendar as inscrições, Danforth fez um desenho delas – que hoje está preservado no Museu Britânico –, gerando um clamor entre as pessoas que apostavam em origens místicas e cheias de superstições. Com o decorrer dos anos, vários estudiosos e até mesmo curiosos foram até à pedra para tentar decifrar o que nela está escrito.
Durante a Santa Inquisição, um dos períodos mais controversos e perturbadores do século XVI, o ministro puritano Cotton Mather estava em Salem para julgar qualquer ato que a Igreja entendia como “algo do diabo”, detalhando tudo em seu livro Memorable Providences. Em 1690, ele foi uma das pessoas a ser seduzida pelo mistério que a Pedra Dighton causava, documentando algumas reflexões em seu livro As Maravilhosas Obras de Deus Comemoradas:
“Entre as várias curiosidades acerca da Nova Inglaterra, temos uma imponente pedra perpendicular gravada com inscrições que nenhum homem vivo sabe como ou quando foram feitas. Repleta de personagens estranhos, a rocha sugere que existiam pensamentos peculiares nas pessoas que estavam aqui antes de nós…”.
Apesar dos esforços da comunidade histórica e científica, desde a época de Mather até atualmente, ninguém ainda foi capaz de determinar a origem da pedra.
Em meados de 1781, o conde Antoine Court de Gebelin, de Paris, disse que a apelidada “Pedra Dighton” retratava a jornada de boas relações que os marinheiros de Carthage, que viveram na baía Mount Hope, tiveram com os índios. Os desenhos, afinal, simbolizariam a representação de quando os líderes consultaram um oráculo para descobrir o melhor momento para a viagem de volta à Carthage.
Em adição à teoria de Gebelin, o educador Ezra Stiles, em 1807, declarou que conseguiu desvendar as palavras “rei”, “sacerdote” e “ídolo” em fenício cravadas ao longo da pedra. Cerca de 24 anos mais tarde, o professor Ira Hill sugeriu que as inscrições foram feitas no segundo mês do décimo ano do reinado do Rei Salomão, durante uma expedição de tírios e judeus, como a descrita no Antigo Testamento.
Em 1918, o psicólogo e pesquisador Edmund Delabarre ficou famoso em Portugal depois que descobriu a data “1511” inscrita na superfície da rocha. Através de uma pesquisa de quais europeus poderiam ter visitado a Nova Inglaterra naquele período, ele descobriu que em 1500 os irmãos Corte-Real desapareceram após uma viagem de exploração no Atlântico, que partiu da Ilha Terceira, nos açores de Portugal.
Juntando as informações, Delabarre interpretou alguns escritos como: MIGUEL CORTEREAL v[oluntate] DEI hic DUX IND[iorum] 1511, que ele traduziu para o português como: “Miguel Corte-Real pela vontade de Deus chefe dos índios 1511”.
O pesquisador ainda alegou que alguns desenhos lembravam cruzes e escudetes portugueses.
A interpretação repercutiu tão fortemente, que Delabarre foi condecorado em 1926 como “um verdadeiro herói português”. Atualmente, existe uma réplica da Pedra Dighton em exposição no Museu de Marinha, em Lisboa.
Em meio a tantas hipóteses de pessoas afirmando que as gravuras rupestres foram feitas por exploradores portugueses ou por vikings, o autor Gavin Menzies alegou que a Pedra Dighton havia sido esculpida por antigos marinheiros chineses. Em seu livro 1421: O Ano Em Que a China Descobriu o Mundo, ele traçou um paralelo com as inscrições da Pedra do Ingá, localizada na região oeste da Paraíba, no Brasil, e disse que o continente americano teria sido visitado por esses marinheiros chineses quase 100 anos antes de Cristovão Colombo.
A quantidade de tentativas e teorias de decifrar a Pedra de Dighton nunca foram suficientes. Em 1963, as autoridades estaduais de Massachusetts retiraram a pedra do rio e a instalaram em um museu chamado Dighton Rock State, em homenagem a descoberta.
Atualmente, a rocha está listada desde 1971 no Registro Nacional de Locais Históricos, e também estaria no “registro mundial de mistérios”, se existisse um.