Ciência
17/03/2021 às 12:30•3 min de leitura
Na década de 1960, o desaparecimento de uma socialite estrangeira estampou a capa de quase todos os jornais brasileiros. Nascida em 4 de maio de 1921 na extinta Tchecoslováquia, Dana Edita Fischerova chegou ao Brasil aos 30 anos de idade após já ter vivido três casamentos notórios.
Vinda de uma família judia muito rica, Dana nunca precisou trabalhar e vivia com o dinheiro familiar, o qual pagava a presença nas festas da classe alta brasileira. Até hoje, seu sumiço é um dos maiores mistérios que as páginas criminais nacionais já noticiaram.
(Fonte: O Globo/Reprodução)
O bom relacionamento de Dana com membros ricos da sociedade europeia lhe rendeu três casamentos marcantes. Na primeira tentativa, casou-se com o militar e político fascista Ettore Muti na Itália. Foi durante esse matrimônio que ela conheceu seu segundo marido, o célebre dentista espanhol Alberto Diaz de Lope Díaz, com quem noivou após se separar de Muti.
Cansada do estilo de vida europeu, a jovem tcheca se apaixonou pelo jornalista mexicano Carlos Denegri e decidiu largar a Europa para viver na América do Sul. Porém, nem um dos três casamentos foi relevante quando comparado aos fatos que a trouxeram ao Brasil.
Dana achou que o território brasileiro seria um ótimo destino para dedicar um tempo para si mesma após três relacionamentos fracassados. Não demorou muito para que ela passasse a ser notada pela imprensa nacional e virasse uma figura popular nas festas de artistas.
Nesse ambiente, acabou conhecendo o piloto automobilístico e diplomata Manuel de Teffé, seu quarto marido. Foi então que decidiu virar Dana de Teffé, nome que acabou mantendo mesmo após a separação. Entretanto, esse divórcio teve um lado mais sombrio que os demais.
(Fonte: O Globo/Reprodução)
Para lidar com a quarta separação, Dana contratou o advogado Leopoldo Heitor, figura com uma reputação não muito positiva. Antes de assumir o caso, ele havia sido acusado de praticar peculato e estelionato e acabou ganhando o apelido de "Advogado do Diabo". Mesmo assim, tinha a plena confiança da aristocrata.
De acordo com os tabloides brasileiros, Dana e Leopoldo teriam desenvolvido uma suposta relação amorosa durante o processo. Além disso, seria justamente com ele que ela teria sido vista pela última vez antes de desaparecer durante uma viagem de carro do Rio de Janeiro para São Paulo em 1961.
Durante as investigações, o Advogado do Diabo chegou a apresentar três versões para a polícia sobre o sumiço da moça. No dia seguinte ao caso, ele teria dado entrada em um hospital com um ferimento de bala na perna. Para piorar a situação, Leopoldo utilizou um nome falso e pediu discrição ao médico.
(Fonte: Folhapress/Reprodução)
A estranha situação de Leopoldo fez que ele passasse a ser cogitado como principal suspeito do possível assassinato de Dana — ou pelo menos mandante do crime. Após a bizarra história no hospital, o advogado se mudou para o apartamento da socialite com a mulher, Verinha, e os filhos dias após o desaparecimento.
Como Leopoldo tinha uma procuração em nome da cliente que lhe dava o direito de vender, alugar e receber por todos os bens dela, aproveitou-se para negociar o apartamento. A venda rendeu cerca de R$ 500 mil. Na época, levantou-se a suspeita de que ele teria matado Dana para ficar com o dinheiro dela.
Em declaração para a polícia, Leopoldo afirmou que Dana havia saído do país com um passaporte falso e ligado para pedir que sua partida não fosse comentada com ninguém. O corpo dela nunca foi encontrado.
(Fonte: O Globo/Reprodução)
Em 31 de março de 1962, Leopoldo Heitor foi preso pelo assassinato e pelo ocultamento do cadáver de Dana, mas terminou fugindo em outubro do mesmo ano. Capturado 10 dias depois no Mato Grosso, ele foi julgado e condenado em fevereiro de 1963 a 35 anos de reclusão, dos quais cumpriu apenas 8.
Em 1964, o Tribunal de Justiça do Rio De Janeiro anulou a primeira decisão do juiz Ulysses Salgado e enviou Leopoldo para um novo julgamento. Dessa vez realizando a própria defesa, o Advogado do Diabo conseguiu ser absolvido por falta de provas materiais, fato que inclusive impediu que o Supremo Tribunal de Justiça reabrisse o processo.
Depois de sair da cadeia, Leopoldo se casou mais duas vezes e escreveu dois livros, sendo o principal deles A Cruz do Advogado do Diabo (1966). Ele morreu, aos 78 anos, em 2001.