Ciência
16/11/2022 às 09:15•4 min de leitura
Pouco antes das 8 da manhã do dia 30 de junho de 1908, mais precisamente às 7h13min, uma explosão maciça destruiu uma vastidão de árvores localizadas em uma região bastante remota ao longo do Rio Tunguska, no leste da Sibéria, Rússia.
Batizado de “o evento de Tunguska”, a explosão em si, foi tão potente que derrubou 80 milhões de pinheiros em poucos segundos, abrangendo uma área com cerca de 2 mil quilômetros quadrados.
A partir daí, criou-se um mistério que intrigaria cientistas de todo o mundo por mais de um século.
(Fonte: Shutterstock)
Quase tudo aquilo que não tem uma explicação clara abre espaço para uma série de ideias bizarras e teorias da conspiração. Com Tunguska não foi diferente.
Por exemplo, Alexander Kazantsev, um renomado escritor de ficção científica, deu sua opinião escrevendo uma estória afirmando que o evento de Tunguska foi causado pela explosão de um gerador nuclear de uma espaçonave oriunda de Marte.
Curiosamente, alguns "cientistas" russos não apenas corroboraram a narrativa de Kazantsev, como foram além, afirmando terem encontrado evidências de uma possível civilização alienígena.
Mas a teoria conspiratória mais famosa envolveu o cientista Nikola Tesla e seu “raio da morte”. Na época, começou a circular uma história de que Tesla havia testado um dispositivo que disparou o tal raio causando a explosão. Mais tarde, ao descobrir o que tinha ocorrido, ele tratou de se livrar do equipamento. De fato, ele estava fazendo experimentos com eletricidade e torres, mas nada que sugerisse uma tecnologia tão avançada e com poder de destruição tão grande.
(Fonte: Shutterstock)
Hoje, sabemos que Tesla foi responsável por apresentar ao mundo as bases para a maneira como aplicamos a energia elétrica em nosso dia a dia e as ondas de rádio, sem contar as suas diversas “previsões” e ideias que se confirmaram com o passar das décadas.
Mas, em 1908, além de ser pouco respeitado, Nikola Tesla tinha que conviver com a fama de ser taxado como um cientista maluco apenas por ter uma mente a frente de seu tempo e um olhar clínico para o futuro.
(Fonte: AP/REX/Britannica/Reprodução)
Embora o evento de Tunguska tenha ocorrido em 1908, o local remoto onde da explosão somente começou a ser investigado entre os anos de 1927 e 1930, com as expedições de Leonid Alekseyevich Kulik, cientista soviético.
Ao chegar ao local exato da explosão, Kulik observou que as árvores queimadas e lascadas estavam caídas de forma radial por uma área que se estendia de 15 a 30 km. Por ali, nada havia restado, tudo estava queimado e devastado, e mesmo passados cerca de 20 anos do evento, pouca coisa tinha crescido na região.
O epicentro foi relativamente fácil de ser encontrado, pois todas as árvores caídas apontavam para longe do lugar. A equipe de Kulik observou que naquele local específico havia um pântano, mas nenhum sinal de uma cratera.
Árvores caídas no evento de Tunguska - 1927. (Fonte: Soviet Academy of Science/ Wikipedia/ Reprodução)
Com o passar das décadas, novos estudos e pesquisas foram feitas. Alguns mais antigos até se baseavam nos registros históricos sobre o surgimento intenso de nuvens noctilucentes (nuvens que brilham à noite) nos céus da Sibéria e parte da Europa após ocorrida a explosão.
Com isso, surgiram algumas suposições científicas para explicar a causa do evento. Uma das mais aceitas era a colisão de um cometa ou asteroide com moléculas e átomos da atmosfera terrestre. Em média, a cada algumas centenas de anos um objeto do tamanho certo para causar esse tipo de evento vem em direção ao planeta.
Os cientistas estimam que a explosão ocorreu a uma altitude entre 5 e 10 km, daí o motivo de não haver sinais de impacto, sendo que seu poder pode ter atingido 15 megatons de TNT. Em termos comparativos, isso é mil vezes mais potência que a bomba atômica que destruiu Hiroshima, no Japão.
Também existe a hipótese de que a explosão, ou melhor, a sua energia radiante incendiou as árvores das florestas, no entanto, a onda vinda logo depois teria apagado as chamas, deixando os pinheiros carbonizados, mas não totalmente queimados.
Outras investigações foram feitas na região por cientistas da antiga União Soviética entre os anos de 1958 e 1961. Mais recentemente, uma nova expedição para essa área remota da Sibéria ocorreu em 1999.
Se feito de ferro, o objeto espacial não deixaria vestígios no epicentro da explosão. (Fonte: Fedor Daryin/ The Siberian Times/ Reprodução)
Nos últimos anos pesquisadores criaram uma teoria bastante interessante que ajuda a explicar a misteriosa explosão na Sibéria. Segundo os cientistas, neste caso, por pouco o planeta escapou de uma catástrofe ainda maior.
O pesquisador Daniil Khrennikov, da Universidade Federal da Sibéria (Rússia) e sua equipe, desenvolveu um modelo que sugere que a explosão foi resultado de um asteroide que roçou nosso planeta. Ou seja, o objeto entrou na atmosfera em ângulo raso e, depois, escapou novamente para o espaço.
Khrennikov e seus colegas também concluíram que não era um corpo gelado, pois se fosse, "dificilmente poderia consistir em gelo, já que o comprimento da trajetória de tal corpo na atmosfera antes da perda completa de sua massa seria menor que o comprimento de sua trajetória estimada com base em observação de dados". Sendo assim, a explosão teria, então, sido provocada por um meteorito de ferro com as dimensões de um estádio de futebol.
(Fonte: Shutterstock)
Nesse cenário, o objeto teria passado pela atmosfera superior, se aquecido rapidamente e depois seguiu seu caminho para o Sistema Solar. A onda de choque resultante dessa trajetória é que seria a responsável por derrubar e incendiar as árvores no evento de Tunguska.
Essa teoria sugere que qualquer ferro vaporizado seria condensado em poeira, sendo indistinguível no solo. Por isso, nenhum vestígio ficaria para trás para ser analisado. Ela também ajuda a entender os relatos de nuvens brilhantes durante a noite e a poeira na alta atmosfera da Europa após o evento.
Trilha de vapor foi capturada a cerca de 200 quilômetros do evento do meteoro Chelyabinsk.
Muitas pessoas não sabem, mas o evento de Tunguska meio que aconteceu de novo em 15 fevereiro de 2013, embora em uma escala bem menor e, novamente, na Rússia, sobre a cidade de Chelyabinsk.
Aliás, foi esse evento que ajudou os cientistas a entender melhor o que teria ocorrido em 1908. Conforme a NASA, as novas evidências foram fundamentais para solucionar parte do mistério de Tunguska.
Como essa bola de fogo foi muito documentada, ela garantiu uma oportunidade única para cientistas usarem técnicas de modelagem computacional avançadas para explicar o que foi sentido, visto e ouvido no evento de Tunguska, tal como a pesquisa citada anteriormente.
Obviamente, que ainda restam muitas dúvidas. Por exemplo, as reais dimensões do objeto ou se ele era feito mesmo de ferro. Ou ainda, como algo parecido poderia gerar uma catástrofe que afetaria o mundo inteiro.