Ciência
02/07/2014 às 08:49•8 min de leitura
Lendas, mitos ou qualquer outro tipo de “história fantástica” são parte da fundação da história das sociedades. A partir do momento em que um sistema de símbolos se engendrou e formou, então, um tipo primitivo de linguagem, o universo florido fruto da imaginação dos homens logo tomou forma: desde os sensíveis deuses gregos até o “jediísmo” (movimento religioso não-teísta baseado na filosofia dos jedis de Star Wars), todas as doutrinas têm sido contadas por meio de um ou outro costume.
Mas como contar histórias mirabolantes em tempos em que basta fazer uma busca junto ao Google para “descobrir” a veracidade de um relato? É neste contexto que surge o estilo literário online conhecido como “creepypasta” – expressão esta nascida a partir adaptação do termo “copypasta” (que se refere a textos que são copiados, colados e replicados rede afora). Escritos de forma a deixar qualquer internauta no mínimo encucado, os contos creepypasta encontram-se assumidamente em meio ao limbo: não se sabe até que ponto os relatos são verdadeiros ou falsos.
Mas isso pouco interessa, certo? Afinal, tudo não passa de “apenas outra história horripilante”. Justamente: os contos pertencentes a este estilo de texto são majoritariamente inspirados por temas de horror e suspense. Atividades comuns a quem faz uso das tecnologias atuais, por exemplo, são constantemente mencionadas pelas histórias. Uma TV amaldiçoada ou um jogo capaz de deixar qualquer pessoa fora de si são alguns dos assuntos que dão forma às lendas. Episódios perdidos de seriados, versões distorcidas de games e notas escritas por quem presenciou certo evento preenchem também o estilo creepypasta.
Abaixo, sete contos que propagaram-se internet afora com certo grau de notabilidade. Vale dizer que as lendas listadas a seguir não possuem fonte originária sólida – muitos deles têm versões alternativas, títulos e personagens diferentes e até desfechos que variam; prepare-se para conhecer alguns dos contos virais mais aterrorizantes que rodam pela grande rede!
Escritos por internautas de forma anônima ou até mesmo de modo colaborativo, os creepypastas podem rapidamente se tornar virais. E um dos casos mais conhecidos foi a explosão do mito de Slender Man. Idealizado por participante de um concurso promovido pelo site Something Awful em 2009, o “homem esguio” tem protagonizado uma série de dimensões: produções audiovisuais, mais contos acerca do esquálido e pálido homem e até um jogo de horror baseado no personagem são alguns dos produtos que este viral foi capaz de produzir.
Há, naturalmente, diversas variações de versão acerca desta lenda. Mas alguns aspectos são comuns em todas as histórias contadas: um homem de alta estatura sem rosto, de pele toda branca e com braços demasiadamente longos seria capaz de perseguir sua vítima, fazê-la ficar louca ou até mesmo suplicar pela morte. O poder de teletransporte ou que parece ser um tipo de onipresença são outras das marcas registradas de Slender Man.
Baixar jogos hoje é bastante fácil – uma miríade de títulos pode ser conferida por meiodeste link, por exemplo. Mas há poucos anos, conseguir um título para computadores era tarefa árdua. E foi este o caso de “Lua Pálida”. Dizem que poucas cópias do jogo foram feitas – as restritas unidades de Lua Pálida teriam sido distribuídas a jogadores selecionados a dedo por seu misterioso programador pela região da Baía de São Francisco (Califórnia, EUA).
Pertencente ao estilo “texto-aventura”, Lua Pálida apresentava aos desbravadores somente telas com textos e solicitava a execução de comandos simples. Ao iniciar o jogo, a seguinte descrição era feita:
— Você está em uma sala escura. A luz do luar brilha através da janela. Há OURO no canto do recinto junto com uma PÁ e uma CORDA. Há uma PORTA para LESTE. Comando?
Diversos jogadores descreveram o game como sem sentido ou como mal programado. Acontece que apenas comandos determinados faziam com que Lua Pálida não travasse o computador, forçando assim sua reinicialização. Ao pegar o ouro, pá e corda, abrir a porta e seguir para leste, conforme instruído pelo próprio jogo, outra provocadora mensagem aparecia.
— Pegue sua recompensa. Lua Pálida sorri para você. Agora, você está em uma floresta. Existem três caminhos: NORTE, OESTE e LESTE. Comando?
Somente a direção NORTE podia ser escolhida pelos jogadores – se qualquer outro comando fosse executado, um bug seria presenciado pelo jogador. Combinações aparentemente desconexas de comandos não fizeram com que a história contada pelo título angariasse muitos fãs – a maioria dos aventureiros simplesmente abandonou a jogatina. Eis que Michael Nevins, após bater 33 fases e reiniciar seu computador sabe-se lá quantas vezes, fez emergir a intrigante mensagem por trás de todo o enigma.
— Lua Pálida sorri abertamente. Não há caminhos. Lua pálida sorri abertamente. O chão é macio. Lua Pálida sorri abertamente. Aqui. Comando?
Ao executar então as ações “cavar buraco”, “descartar ouro” e “tampar buraco” números apareceram:
— Parabéns. 40.24248 — 121.4434.
Mas, afinal, o que estas sequências podem significar? Depois de algum esforço, Nevins descobriu que os números representavam coordenadas de latitude e longitude. Qual tesouro Lua pálida reservara a seu descobridor? Após chegar ao endereço mencionado pelas instruções, o insistente jogador encontrou um monte de terra revirada.
Ao cavar com ânimo rumo ao seu iminente pote de ouro, eis que uma pintura amarelada logo o espanta: Nevins se deparou com a cabeça de uma garotinha loira em estado de decomposição. As autoridades foram alertadas. O restante do corpo não foi encontrado. Ouro algum foi descoberto pelo jogador e o programador de Lua Pálida é até hoje desconhecido.
Atenção: todos os contos pertencentes ao gênero creepypasta são majoritariamente fictícios. Dessa forma, entenda o mito por trás do sucesso de Flappy Bird somente como outra história para puro entretenimento. Fonte oficial alguma confirma tal relato.
O sucesso estrondoso de Flappy Bird quase fez o criador do jogo surtar – em fevereiro, o desenvolvedor do viciante game publicou em seu Twitter que iria remover o game do ar; a declaração foi feita sem nenhuma justificativa. Há quem diga que a Dong Nguyen, desenvolvedora responsável pelo título, é fruto de uma seita satânica de nome “Devil Mate”. Hospedados pelas profundezas da Deep Web (Mariana’s Web), os usuários avançados de internet devem realizar uma série de “tarefas” para atingirem determinado grau de status.
O objetivo? Conseguir fama e dinheiro por meio das misteriosas forças da Devil Mate. Para que o progresso de novos membros seja feito, os rituais exigidos pela seita devem ser todos gravados em vídeo – beber o sangue de uma galinha preta ou comer o coração cru de um porco, por exemplo, são aparentemente algumas das formas de se “evoluir”. E é no nível 26 que este história começa: em um dos fóruns de discussão da seita, o usuário “Gnod” teria de dar o próximo passo rumo à “prosperidade”.
Ao realizar a desconhecida tarefa e alcançar, então, o nível 27 junto à seita Devil Mate, Gnod recebeu um código criptografado. Por ser um usuário avançado, o programador logo se deu conta de quem instruções de um jogo para Android e iOS é que estavam encrustadas no código recebido. Se Gnod realizasse outro ritual e atingisse então o estágio de número 28, seu sucesso seria absoluto: teria sido este o momento de lançamento de Flappy Bird?
É curioso mencionar que, ao contrário, o nick “Gnod” pode ser lido como “Dong” – coincidentemente o título que leva a desenvolvedora do jogo. Por que o desenvolvedor quis retirar Flappy Bird do ar sendo que problema legal algum foi notado? Pressão por parte da família, estresse? Não se sabe se Gnod tem de fato alguma relação com a Dong Nguyen.
Esta história faz parte do catálogo de creepypastas do blog Ah Duvido; a transcrição em primeira pessoa feita a seguir, apesar de ter sido adaptada, resguarda a essência da história.
Há alguns anos, a prima de um de meus amigos ganhou um celular como presente de aniversário. Mãe solteira, a garota trabalhava o dia todo e voltava para casa somente à noite junto à companhia de seu único filho. Como o acessório era visto como “brinquedo” pela criança, nada mais natural que um pouco de diversão às custas do gadget. “Desde que você não faça chamadas ou envie mensagens, pode brincar, filho”, disse a menina.
O garoto logo enfurnou-se em seu quarto e começou então a fuçar no novo celular. Por volta das 23h20, a mãe do menino decidiu que já era hora de dormir. Mas não deu outra: seu filho já estava cochilando e deixara de brincar com o aparelho. A prima deste meu amigo quis então verificar o que o menino tanto fez. Alteração de plano de fundo e personalização de toque de chamada foram algumas das mudanças notadas.
Mas a surpresa estaria por vir: ao acessar a galeria de seu celular, uma foto de seu filho dormindo apareceu; acontece que ele estava em segundo plano e a metade de um rosto ocupava parte da imagem. Alguém entrou sorrateiramente no quarto do menino e tirou a foto? Ou algo sobrenatural aconteceu?
História extraída de postagem feita pelo site Jezebel (tradução adaptada).
Cresci no Novo México, e sempre fui um garoto ativo: fazia caminhadas, escaladas, acampava... Em um dos verões, na época em que eu tinha 19 anos, fui acampar em um local próximo à casa de meus pais – já passei a noite por lá outras vezes, e tudo me parecia muito seguro. De qualquer forma, levei minha câmera para o acampamento de 4 dias e 3 noites. Passei um tempo por lá e, quando retornei, fui checar minhas fotos.
Mas 3 fotos extras que eu definitivamente não tinha tirado apareceram no display: eram fotos que me mostravam dormindo. Três delas, uma tirada em cada noite dormida no acampamento. Meus objetos todos estavam no lugar, nada foi roubado e nada tinha aparentemente acontecido. De todo o modo, aquilo me assustou bastante.
Surgida ao final da década de 1990, a história de Polybius é até hoje um tema bastante controverso. A suposta máquina de jogos Arcade exibia o que parecia ser um game de batalha espacial – especula-se que alguns video games apareceram pelos subúrbios de Oregon (EUA) já em 1981. Mas o que há de tão especial neste arcade? Acontece que, ao engatar uma partida, o jogador começava a ter ilusões e traumas mentais diversos (como amnésia).
Rumores sugerem a possibilidade de que Polybius foi, na verdade, um instrumento desenvolvido por militares – agentes vestidos de preto aparentemente coletavam os dados registrados por este singular video game. Fato é que um exemplar do arcade é exibido pelo “Museu do Game” (viste a página aqui). Até mesmo uma referência ao arcade em um dos episódios de Os Simpsons foi feita (imagem acima).
Lançadas após a primeira metade da década de 1990, as primeiras versões de Pokémon para Game Boy fizeram com que uma lenda até hoje bastante contundente surgisse. Esta creepypasta clássica afirma que jogadores que chegavam até a cidade de Lavender em Pokémon Red/Green manifestavam sintomas físicos preocupantes: dores de cabeça, sangramento de nariz, náusea e instabilidade de humor eram algum efeitos gerados não pela jogabilidade em si, mas sim pela música original da misteriosa localidade. Em casos extremos, até mesmo suicídios eram cometidos pelos jovens treinadores de monstros de bolso.
“O Mistério de Lavender Town”, nome atribuído a este curioso mito, é citado por diversos sites e narrado de várias formas. Não cabe mencionar dados estatísticos em um texto de mera especulação, mas vale salientar que a maioria dos relatores deste creepypasta deixam claro que o efeito provocado pela trilha original do jogo era, na maior parte das vezes, justamente o suicídio. “As frequências nessa canção são bem diferentes; elas se misturam de uma forma especial. Mas falta alguma coisa. Acho que há algum efeito de mixagem que nunca seria ouvido em um Game Boy devido às suas limitações”, disse um suposto jogador, segundo informa o site Passagem Secreta.
O jovem responsável por fazer tal constatação teria sido encontrado morto alguns dias depois – os fones de ouvido ainda estariam acoplados às orelhas do rapaz. Um amigo do jogador, após acessar o computador do falecido, descobriu um arquivo WAV e, ao analisá-lo às custas de um espectrograma (que traduz frequências de sons em imagens), algo sinistro foi notado – assista ao vídeo abaixo e veja o que o terceiro minuto reserva a seus olhos...
Dizem que, após o suposto surto de suicídios durante a época de lançamento do game, todas as cópias do título foram removidas do mercado – a trilha de Lavender Town teria sido modificada. Acontece que, também conforme se especula, a versão original da música contém frequências audíveis somente a jovens (tons binaurais, que podem causar determinadas alterações de percepção, foram aparentemente identificados na primeira versão da trilha).
Ainda conforme bem esclarece o site Passagem Certa, a trilha que exibe as imagens de fantasmas foi deliberadamente alterada pelo criador do tal mito. “Assim como ondas sonoras podem ser representadas por imagens e gráficos de equações, o caminho inverso pode ser também feito (...). Isso quer dizer que um som por ser criado a partir de uma imagem de forma com que ela seja reproduzida por um espectrograma”, explica Rafael Fernandes, redator do respectivo site responsável por colocar este clássico creepypasta por terra. Ainda com a pulga atrás da orelha? Pois então assista ao vídeo abaixo e veja o que Fernandes fez ao inserir uma icônica imagem sobre um dos temas musicais de Super Mario Bros.
O que o sujeito responsável por dar vida a este conto fez? Em suma, isto:
Você conhece mais contos relacionados, de alguma forma, à tecnologia que pertencem ao gênero creepypasta? Um jogo inspirado por uma “lenda urbana”, uma sequência de comandos malucos executados em um sistema operacional qualquer que culmine em uma tragédia. Deixe sugestões no espaço para comentários e participe de nossas produções!
Via TecMundo