Ciência
16/08/2016 às 05:54•2 min de leitura
Quando se conhece a história do irlandês Kieran Behan, pode-se dizer que ele não é uma pessoa de sorte – ou talvez até seja, mas o que chama a atenção mesmo é a sua vontade de participar dos Jogos Olímpicos.
Há 17 anos, Behan ouviu de uma equipe médica que jamais voltaria a andar, em virtude de um tumor que, ao ser removido de sua coxa, acabou danificando alguns nervos da região. “Os médicos disseram ‘você nunca vai andar de novo’ e eu tive que ir a um psiquiatra que disse ‘você tem que aceitar o pior’, mas isso apenas me motivou”, afirmou o atleta, que sempre quis provar aos médicos que eles estavam errados.
Após a remoção do tumor, Behan ficou em uma cadeira de rodas por 15 meses. Na escola, sofria bullying dos colegas, que o chamavam de aleijado. “Aquilo era difícil para mim porque eu já estava fazendo ginástica e eu era baixo e estava fazendo um ‘esporte de garotas’. Então muitas vezes eu sentava perto da janela na cozinha e olhava todas as crianças correndo no parque e jogando futebol”, disse ele, que só queria ser uma “criança normal” de novo.
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Aos 14 anos, ele finalmente conseguiu voltar a andar, mas acabou machucando a cabeça durante um treino de barra. O acidente provocou alguns problemas neurológicos e o tirou dos treinos por mais 3 anos.
Hoje, Behan tem 27 anos e ainda passa por alguns blackouts de vez em quando, mas agora é chamado de “milagre” pela equipe médica que cuida de seu caso.
De volta aos treinos, o jovem irlandês só queria conseguir participar das Olimpíadas e fez de tudo, tudo mesmo, para realizar seu sonho e vir ao Brasil. Com dificuldades financeiras, ele aceitava limpar academias onde treinava e usava construções e objetos do cotidiano para praticar seus saltos.
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Em 2010, conseguiu participar do Campeonato Europeu, mas acabou rompendo o ligamento de seu joelho esquerdo – de novo, ele não se desmotivou: “eu já tinha passado pelo pior e sabia disso; independentemente do que acontecesse, eu poderia sempre me recuperar”, disse ele.
Em 2011, ganhou três medalhas e conseguiu seu espaço na Olimpíada de Londres. Sobre a experiência de ir para a capital inglesa, ele diz que se sentia vivendo um sonho. Agora, na Olimpíada de 2016, Behan conseguiu seu lugar, embora não tenha nem ficado perto do pódio – a vitória, para ele, vai além de receber uma medalha.
Em uma das provas ele machucou o mesmo joelho que já tinha sido rompido, mas se apresentou até o final, mesmo assim. O essencial aqui era valorizar sua participação nesta edição dos Jogos Olímpicos. Como na Irlanda a ginástica não é um esporte muito comum, Behan não conseguiu patrocínio e precisou trabalhar para juntar dinheiro e vir ao Brasil.
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Ao lado do pai, Phil, o atleta trabalhou como pedreiro e realizava tarefas pesadas: “O corpo doía, mas eu precisava continuar acreditando. Era a única maneira de seguir na ginástica e de realizar o sonho de chegar novamente a uma Olimpíada. Fui ao inferno e voltei”, disse ele, em declaração publicada na BBC.
“Tudo o que queria era a chance de cumprir minha rotina de solo sem queda. Passei por muita coisa na vida que me fez pensar se não valia simplesmente ter ido fazer outra coisa. Mas não teria me perdoado se não tivesse tentado”, completou.
Sem dinheiro suficiente para trazer a família junto, Behan veio sozinho ao Rio participar dos Jogos Olímpicos. Infelizmente, saiu da instalação olímpica usando muletas, por causa do joelho machucado. Ainda que preocupado com seu futuro como atleta, o irlandês diz que aprendeu a não se desesperar com más notícias: “Você sempre encontra algo de positivo e qualquer situação”, disse ele, que melhorou 15 postos em sua colocação de 2016 em comparação com o resultado de Londres.