Ciência
10/03/2023 às 02:00•2 min de leitura
Uma pesquisa publicada em 2022 no Century Link mostrou que 30% dos norte-americanos joga de 8 a 12 horas de videogame por semana, o que equivale a aproximadamente 1,2 horas por dia. Se a média de 8,6 horas por semana permanecer consistente ao longo de um ano inteiro, o tempo total gasto jogando somaria duas semanas e meia.
Não é novidade para ninguém que, desde a década de 1970, quando mais de cinco empresas surgiram para desenvolver jogos para o mercado em constante expansão, o excesso de videogame pode causar dependência e acarretar outros prejuízos para saúde física e mental.
Em 2014, uma pesquisa feita por um time da Unidade de Pesquisa de Jogos Internacionais, da Nottingham Trent University, publicada no Journal of Cyber Behaviour, Psychology and Learning, mostrou por que jogadores de videogame escutam sons do jogo horas de desligá-lo.
(Fonte: Medical News Today/Reprodução)
Alguma vez, quando você desligou o videogame e “voltou” ao mundo real, continuou ouvindo os sons do jogo? A pesquisadora em psicologia, Angelica Ortiz De Gortari, que lidera o estudo na Nottingham Trent University, disse que os jogadores costumam ouvir sons, como explosões, gritos e disparos, muito depois de já terem desligado o videogame.
Isso é chamado de Fenômeno de Transferência de Jogo (Game Transfer Phenomena, ou GTP), uma série de peculiaridades cognitivas que podem ocorrer após sessões prolongadas na frente de um videogame. Enquanto pesquisas anteriores se concentraram no que as distorções e efeitos visuais causam no cérebro de um jogador depois que ele fecha os olhos, a pesquisa de De Gortari é pioneira em mapear as experiências auditivas de maneira específica.
Para desenvolver a análise, a equipe da pesquisadora visitou fóruns de jogadores e coletou evidências anedóticas de 1.244 jogadores envolvendo experiências de GTP. Dessa forma, concluíram que 12% dos jogadores falaram que, após jogar, por exemplo, Super Mario, continuaram ouvindo ruídos de espadas, bipes eletrônicos e sons de moeda caindo horas depois.
(Fonte: What Culture/Reprodução)
Houve também muitos exemplos de jogadores que escutaram as vozes dos personagens, ou que vozes humanas se distorceram por segundos nas vozes dubladas do jogo. De Gortari percebeu que muitos procuravam o computador ou o console na hora de dormir acreditando que deixaram o jogo ligado.
Gatilhos no mundo real também disparavam os sons no cérebro. “Havia um jogador que, sempre que estava escuro, ouvia o som do sinal de rádio crepitante de Silent Hill, avisando-o de que monstros estavam se aproximando”, disse ela.
(Fonte: El País/Reprodução)
Apesar dessa quantidade de evidência, ainda há muito ceticismo e descrédito ao redor dos efeitos auditivos do GTP, devido à pesquisa ter sido feita a partir de uma base muito pequena de jogadores conversando entre si em fóruns online, onde o exagero é sempre uma possibilidade.
Em defesa, os pesquisadores afirmam que é difícil recriar esses fenômenos auditivos em um experimento controlado devido ao grau de especificidade. Contudo, experiências semelhantes ao GTP são estudadas desde a década de 1990, como foi o caso de uma pesquisa feita pela Universidade da Califórnia sobre o efeito que o Tetris causava no cérebro dos jogadores.
De Gortari reforça que os sons têm um significado e propósito no jogo e que isso afeta diretamente como os jogadores podem responder a eles no mundo real.
(Fonte: Time/Reprodução)
“Eles ouvem o som em suas cabeças ou o exteriorizam. A pesquisa nos fala sobre como o cérebro forma associações e como elas podem ser facilmente confundidas. Isso mostra uma falta de controle sobre as experiências auditivas – elas podem ser perturbadoras, irritantes ou até engraçadas”, observou a pesquisadora.
Um dos objetivos da pesquisa é explicar aos jogadores que ficam “assombrados” pelos sons, enquanto apresenta para o campo científico como essas associações feitas pela mente podem ser úteis, por exemplo, no aprendizado de novos idiomas.