Ciência
23/06/2017 às 05:00•4 min de leitura
Seres humanos são mamíferos e, por isso, ao longo da gestação, a mulher começa a se preparar para produzir o alimento que nutrirá seu filho durante os primeiros anos de vida. É pela ingestão do leite materno, que é rico em vitaminas, nutrientes e anticorpos, que um bebê recém-nascido vai crescer e se desenvolver, ganhar peso, saúde e vitalidade.
O leite materno é tão importante e tão completo que a recomendação é que a criança seja amamentada até os dois anos ou mais e que, nos seis primeiros meses, ele seja seu único alimento. Não há necessidade de dar chás, sucos ou qualquer outro tipo de comida antes desse período. Após o sexto mês, o bebê deve começar a receber outros alimentos saudáveis e continuar sendo amamentado.
Algumas mães acreditam, por algum motivo, que produzem “leite fraco”, especialmente quando seus filhos não estão ganhando peso como deveriam. Nesses casos, é importante garantir que a criança esteja conseguindo sugar todo o leite e chegar até o fim da mamada, que é quando o leite fica mais espesso, mais gorduroso. Às vezes, a mulher não percebe que o bebê não está conseguindo mamar certinho e acaba achando que seu leite não é suficiente para ele – dica: não existe leite fraco!
Vale lembrar que, além de garantir que o bebê cresça com saúde, o ato de amamentar estreita os laços entre mãe e filho, o que é fundamental. Durante a sucção, a mãe produz dois hormônios: a prolactina, essencial para que ela tenha leite; e a ocitocina, que é um dos agentes responsáveis pela criação de laço afetivo entre mãe e bebê.
Amamentar, embora algumas mulheres tenham receio, não deve causar dor nem medo. No início, podem existir dificuldades, mas, com o apoio de toda a família, amigos e profissionais de saúde, a mãe vai aprendendo a deixar o bebê na melhor posição para que ele pegue no peito de modo que consiga sugar bem sem a machucar. O ideal é que a criança sugue o seio na região da aréola e não no bico, para evitar as rachaduras.
O leite materno ajuda no desenvolvimento do sistema imunológico da criança, evita que ela tenha muitas doenças e diminui drasticamente as chances de morte na infância. A doença mais frequente entre bebês que não são alimentados com leite materno é a diarreia – o leite da mãe faz com que a criança seja 17 vezes mais protegida contra essa doença, por conter o anticorpo IGA, responsável por proteger a mucosa intestinal do bebê.
Crianças que recebem o leite materno também apresentam menos doenças pulmonares e dos ouvidos. A longo prazo, são pessoas que crescem com menos chances de desenvolver alguns tipos de câncer, obesidade e diabetes, de acordo com a especialista Keiko Teruya, que falou sobre o assunto com o Dr. Dráuzio Varella.
Os bebês prematuros e de baixo peso, que necessitam ficar internados em unidades neonatais, precisam do leite materno para sua saúde e melhor recuperação. Às vezes, esses bebês não conseguem receber o leite da sua própria mãe. Nesses casos, a criança recebe leite do Banco de Leite Humano, onde o leite de mães doadoras passa por um rigoroso controle de qualidade e pasteurização para ser oferecido posteriormente aos bebês internados.
Infelizmente, ainda é pequeno o número de doadoras. Por isso é fundamental que as mulheres que amamentam, assim como os profissionais que trabalham em hospitais e centros de saúde, de um modo geral, entendam a importância da doação.
O Ministério da Saúde trabalha há muito tempo para que as pessoas tenham consciência a respeito da importância do aleitamento materno e para que mulheres que estejam em período de lactação se tornem doadoras de leite, independente da quantidade que conseguirem doar – cada pequena porção já faz a diferença.
Para descobrir como doar, basta consultar o site da Rede Global de Bancos de Leite Humano – lá, é possível se informar a respeito de Bancos de Leite Humano e postos de coleta que estejam perto de onde você mora.
A leitora Maria Cristina, que tem três filhos, contou à redação que foi doadora de leite desde que teve seu primeiro filho, há 17 anos. Na ocasião, ela foi instruída por funcionárias do hospital onde deu à luz e aprendeu a amamentar. Depois de alguns dias, recebeu uma ligação do mesmo hospital: os funcionários queriam saber se ela gostaria de ser doadora.
O problema foi que Maria Cristina teve mastite, que é quando as mamas ficam inflamadas pelo fato de o leite não ser totalmente esgotado a cada mamada. Ela recebeu de seu médico a orientação para tomar injeções e medicamentos para não produzir mais leite, mas se lembrou de sua mãe contando sobre a satisfação de amamentar os próprios filhos e, mesmo com muita dor, optou por não interromper a lactação.
Maria conta que, com muita paciência e apoio, conseguia amamentar o filho e coletar o leite que doou durante oito meses. Ela sabia que, assim como seu filho, outras crianças receberiam o leite materno, que é essencial para a sobrevivência de bebês, especialmente os prematuros e de baixo peso (menos de 2,5 kg).
Assim como Maria Cristina, toda mulher que amamenta pode doar leite, desde que esteja saudável e não faça uso de medicamentos que interfiram na amamentação.
Só para você ter ideia, em 2016, as mulheres que doaram seu leite contribuíram para o desenvolvimento de 165 mil crianças recém-nascidas. Ao todo, o Brasil contou com a solidariedade de 171 mil doadoras, coletando um total de 182 mil litros de leite materno.
Com esses dados incríveis não é de se espantar que nosso país tenha a maior Rede de Bancos de Leite Humano do mundo e que, por isso, seja considerado uma referência internacional no assunto. Em todo o país, temos 221 bancos de leite humano e 187 postos de coleta.
Ainda que esses números sejam altamente comemorativos, infelizmente eles não dão conta de toda a necessidade de leite materno e conseguem suprir apenas 60% da demanda para os bebês recém-nascidos internados nas UTIs neonatais do país. Ou seja: 40% desses bebês internados ainda precisam da solidariedade das mulheres que estão amamentando.
Como bem lembrou Maria Cristina, que tem experiência de sobra no assunto: é preciso que as mulheres entendam que a produção de leite depende do esvaziamento da mama – ou seja: quanto mais a mulher amamenta e coleta o leite que sobrou depois da mamada do filho, mais leite ela produz.
Cada pote de leite encaminhado à doação pode alimentar até 10 bebês recém-nascidos por dia, o que ajuda a garantir que essas crianças cresçam com saúde, ficando protegidas de infecções, diarreias e alergias.
Vale lembrar também que o leite coletado passa por análise antes de ser distribuído às crianças que necessitam. Às vezes, por exemplo, o leite congelado é descongelado e, depois disso, volta para o congelador – pode não parecer, mas esse processo prejudica a qualidade do leite, então ele não é recomendado.
O recado aqui é para quem está amamentando ou conhece alguém que esteja: incentive a doação de leite materno sempre que puder! Esse gesto salva vidas! Informe-se no banco de leite humano mais próximo.
Aproveitando o assunto, resolvemos preparar um vídeo com algumas curiosidades sobre a vida dos mamíferos, para descontrair e aprender algumas coisas bacanas. Assista e depois nos conte o que achou: