Artes/cultura
23/01/2024 às 07:00•2 min de leitura
A missão Peregrine, lançada pela NASA na segunda-feira (8), partiu rumo à Lua transportando diversos instrumentos científicos e também uma carga polêmica. Trata-se de restos mortais para serem “enterrados” na superfície do satélite natural, em parceria com as empresas Elysium Space e Celestis.
O material inclui restos cremados, mechas de cabelo e amostras de DNA de figuras famosas, como o ex-presidente dos Estados Unidos John F. Kennedy e o escritor Arthur C. Clarke. No entanto, um problema na aeronave, detectado poucas horas depois da decolagem, pode impedir a chegada da carga funerária à Lua.
Caso não haja solução para a falha, os restos mortais ficarão perdidos no espaço. Porém, essa não é a primeira tentativa de levar material funerário para o satélite natural — a anterior foi bem sucedida e já existe alguém “enterrado” por lá.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Estamos falando do conceituado geólogo americano Eugene Merle Shoemaker, o primeiro humano "enterrado" na Lua, e único, até o momento. Parte das cinzas do seu corpo cremado foi levada ao satélite natural em janeiro de 1998, a bordo da missão Lunar Prospector da NASA.
Nascido em Los Angeles (EUA) em 1928, Eugene Shoemaker se formou no Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) em 1949 e logo se interessou pelas crateras lunares. No início dos anos 1960, começou a se dedicar à astrogeologia e, posteriormente, esteve na seleção e treinamento da missão Apollo.
Ele treinou os astronautas em relação à geologia lunar e crateras de impacto e liderou a busca por água nos polos lunares da NASA. Também integrou as missões Voyager e Clementine, se tornando o primeiro diretor do Programa de Pesquisa em Astrogeologia do Serviço Geológico dos EUA.
(Fonte: Wikimedia Commons)
A carreira dele incluiu a descoberta de 32 cometas e 1.125 asteroides, muitos deles em parceria com a astrônoma Carolyn S. Shoemaker, sua esposa. Um destes trabalho foi a descoberta do cometa Shoemaker Levy-9, que colidiu com Júpiter em julho de 1994.
O professor de Geologia e Ciências Planetárias morreu no dia 18 de julho de 1997, em um acidente de carro na Austrália. Ele estava no país pesquisando crateras de impacto.
Depositar os restos mortais de Shoemaker na superfície lunar foi uma forma de homenagear o engenheiro que tinha o sonho de se tornar astronauta e ir até lá na missão Apollo — um problema de saúde o impediu de seguir a carreira. A ideia veio da planetóloga Carolyn C. Porco, que trabalhava com ele, e foi adotada pela agência espacial americana.
As cinzas de Eugene Shoemaker na Lua foram transportadas em uma pequena cápsula de policarbonato selada a vácuo. O invólucro do recipiente contém imagens do cometa Hale-Bopp, o último observado por ele e sua esposa, e um trecho da obra Romeu e Julieta, de William Shakespeare.