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21/09/2016 às 05:43•3 min de leitura
O que faz do ser humano ser, de fato, humano? A pergunta é confusa, porém desperta um senso crítico interessante no que tange ao estilo de vida que algumas pessoas levam principalmente o americano Erik Sprague, conhecido como Lizardman, ou Homem-Lagarto.
Dificilmente pessoas não torcem o pescoço ao verem um indivíduo com 70% do corpo tatuado de escamas verdes e língua bifurcada, porém para Erik essa rotina é normal. Casado, com 41 anos e consciente de sua situação, Lizardman diz ainda continuar suas transformações para alcançar o corpo coberto por completo.
No peito de Erik, lê-se freak (“aberração”)
Em seu peito, a palavra freak (“aberração”) carrega o principal objetivo do transformista: causar espanto. Quando entrevistado, Erik diz que começou suas mudanças estéticas em 1994 e desde então nunca mais parou. Ainda afirma que sua família sempre lhe deu suporte para seu próprio projeto e que desde pequeno pintava seu corpo todo.
Lizardman suscita questionamentos básicos como: por que a transformação? Por que lagarto?
Para responder à primeira pergunta precisa-se viajar até a Inglaterra do início do século XX, onde morou o austríaco Ludwig Wittgenstein.
O filósofo aborda em sua obra que as percepções humanas sobre o que é visto não passam de uma comparação feita inconscientemente. Uma das mais famosas teses do austríaco é a da “seeing-as” (vendo como), a qual aborda a questão de se ver uma imagem como o objeto; no caso quando se olha para uma imagem, relaciona-se esta a algum objeto já visto antes, devido às suas características estéticas.
A melhor forma de se explicar o “seeing-as” é pela famosa foto do pato-coelho, como se pode observar abaixo:
Coelho ou pato? O que muda é a interpretação
Inicialmente, é possível ver a imagem como um pato, ou como um coelho. A mudança no aspecto da imagem dá-se pela mudança na interpretação adotada pelo indivíduo que vê a foto, uma vez que esta continua sendo a mesma.
Para o filósofo Wittgestein, o que enxergamos não passa de uma comparação feita inconscientemente. Ilustração: Claire Castelano/Comunicação Visual – Jornalismo Júnior
Dentro do que Wittgenstein defendeu, o homem-lagarto construiu seu próprio projeto de modificação corporal. Fascinante e ao mesmo tempo ousado, Erik mudou características comuns a todos os seres humanos para não ser percebido como, de fato, humano pela sua estética. O homem-lagarto usou a teoria do famoso filósofo para modificar a interpretação do que é ser percebido como humano.
O tema réptil foi escolhido, pois é possível ser feito um trabalho de corpo todo e pelo fato de os répteis simbolizarem o poder, desde as histórias do Éden aos dragões.
Em exclusiva entrevista para o Jornalismo Júnior, Erik afirma não ter mudado seu estilo de vida depois de suas transformações e que, além disso, nada mudou em seu estilo de pensar com a drástica mudança corporal.
O homem-lagarto tem seu corpo inteiramente tatuado, com estimativa de 650-700 horas de sessões no tatuador e perto de 250 mil dólares em gastos com toda a transformação. De todas feitas, a mais dolorosa foi o implante, sem anestesia, de cinco bolas de teflon sobre os supercílios para darem o aspecto de relevo, típico de lagartos.
O Lizardman gastou cerca de 250 mil dólares com modificações no corpo
Erik, quando questionado sobre um possível arrependimento no futuro, afirma que se arrepender é natural para todas as pessoas, porém, até o momento, continua satisfeito com todas as mudanças feitas.
Atualmente, Lizardman atua como artista e realiza apresentações por todo o território americano. Suas performances consistem em uma mistura de stand-up e acrobacias de circo, como, por exemplo, manipulação de fogo e suspensões, as quais podem causar dor e incômodo, porém Erik afirma ter se preparado para as apresentações arriscadas. Além da carreira de entretenimento, o homem-lagarto participa de uma banda chamada Lizard Skynard.
* Este texto foi escrito por Barbara Cavalcanti, que faz parte da equipe de Jornalismo Júnior da USP