Ciência
11/09/2018 às 12:02•3 min de leitura
Você imaginaria que patos de borracha poderiam nos ensinar lições sobre o meio ambiente? Através da única capacidade que possuem, boiar sob a água, eles mostram a dimensão do descarte irregular de dejetos nos oceanos.
Por mais que atualmente possam ser tratados como lixo, caíram no mar de forma acidental e serviram como um ótimo exemplo do poder de pequenas atitudes que consideramos inofensivas.
A saga dos pequenos patos de plástico começou em 1992, quando foram embarcados em um container que saiu de Hong Kong com destino aos Estados Unidos. O experimento involuntário começou com a queda acidental da caixa de transporte no mar, liberando cerca de 28 mil patos de plástico no meio do oceano Índico. Fabricados com um tipo de plástico que leva 500 anos para se decompor na natureza, acabaram sendo levados pelas correntes marítimas para os mais diversos – e inesperados – locais do mundo.
Nos primeiros anos após o acidente, os bichinhos começaram a aparecer em praias de locais banhados pelo oceano Índico, como Chile, Alaska e Havaí. O que não se imaginava era que, 26 anos após o fatídico episódio, esses pequenos objetos ainda estariam flutuando e surgindo ao redor do mundo.
Como os patinhos não possuem sistema de propulsão ou vontades próprias, a única maneira para que se desloquem é através das correntes marítimas, fato que despertou o interesse de alguns cientistas. Eles passaram a rastrear o aparecimento dos animais de plástico com o intuito de determinar pontos de acúmulo de lixo nos oceanos, compreendendo de forma mais clara como se encaminham materiais levados pelas correntezas.
A última aparição registrada de um pato amarelo aconteceu há 10 anos, em uma praia da costa leste dos EUA, mas os pesquisadores acreditam que boa parte do carregamento original ainda está vagando sem rumo na região onde foram lançados ao mar, dando voltas sem parar.
Um dos pesquisadores que analisaram o trajeto dos objetos, o inglês Curtis Ebbesmeyer, explicou que "eles foram feitos para não afundar e com um tipo de plástico que pode durar 500 anos para se deteriorar no mar". Com a repercussão do caso, o jornalista inglês Donovan Hohn resolveu escrever um livro chamado "Moby Duck", explicando o fato e mostrando os motivos para que os pequenos brinquedos chegassem até mesmo às ilhas britânicas.
O fôlego dos patinhos foi tão grande por uma coincidência. Duas correntes oceânicas se encontram no local onde ocorreu o acidente, fazendo com que a distribuição fosse globalizada.
Uma das correntes se chama Giro Subártico e, até a presença dos patinhos, os cientistas não tinham informações sobre quanto tempo um objeto à deriva levaria para fechar um ciclo completo em sua abrangência, que passa por América, Ásia e Estreito de Bering. Eles descobriram que o tempo aproximado é de 3 anos e que essa ligação torna possível o deslocamento de objetos pela força das correntes até o oceano Atlântico, passando por cima da América do Norte, para aparecer também na costa leste dos EUA e na Europa.
Algumas pessoas pareciam realmente dispostas a buscar os pequenos animais da carga perdida, e o fato não passou despercebido pela antiga dona dos patinhos. Como forma de ganhar publicidade para sua marca, a loja de artigos infantis The First Years começou a oferecer 100 dólares para cada brinquedo devolvido, o que só aumentou a procura pelos patinhos.
Recentemente, para mostrar como tudo aquilo funcionou e também ganhar audiência, o respeitado naturalista inglês David Attenborough lançou 250 patinhos no litoral da Costa Rica, como parte de um programa que produziu para a BBC. A ideia era acompanhar os objetos, como aconteceu com os lançados ao mar pelo acidente, mas ele foi duramente criticado por poluir mais ainda os oceanos.
A equipe se explicou em seguida, dizendo que após alguns dias todos os patinhos foram recolhidos. Mesmo assim, o ressurgimento do assunto traz à tona a questão ambiental, pois objetos lançados ao mar, em qualquer lugar do mundo, possuem potencial de acabar em outra praia completamente inesperada, transformando nossas águas em depósitos de plástico.
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