Artes/cultura
27/10/2018 às 10:00•3 min de leitura
A teoria do Big Bang é a mais aceita sobre a criação do Universo. Ela diz que em algum ponto no passado ele estava muito quente e denso, iniciando uma expansão que dura até hoje e parece estar acelerando cada vez mais.
Novas pesquisas sobre o assunto são feitas com frequência, e agora uma equipe de físicos espanhóis propôs uma possibilidade um tanto quanto diferente, mas ainda assim viável. De acordo com eles, o que observamos como uma expansão, que acelera cada vez mais, talvez seja o tempo ficando mais lento.
A melhor forma de entender a proposição de José Senoville e sua equipe, que trabalham na Universidade do País Basco, na Espanha, é lembrar das suas aulas de Física e do clássico exemplo da ambulância. O Efeito Doppler é quem causa aquela sensação de que, conforme ela se afasta de você, o som fica cada vez mais “lento”.
Isso acontece porque as ondas são influenciadas pelo movimento do veículo, diminuindo sua frequência e alcançando os seus ouvidos de forma diferente. Algo semelhante aconteceria se as leis da física fossem alteradas e a velocidade do tempo, reduzida. As ondas sonoras seriam afetadas pelo efeito, chegando em uma frequência cada vez menor até você.
Esse é o ponto de partida da equipe espanhola. Não existem grandes dúvidas de que o Universo está se expandindo, pois ao analisar a luz emitida por essas formações percebe-se algo semelhante ao que acontece com a ambulância. Galáxias mais distantes de nós apresentam maiores desvios para o vermelho, ou redshift, que as mais próximas, demonstrando que se movem mais rapidamente.
Considerando que o tempo está ficando cada vez mais lento, a luz também chegaria até nós em uma frequência menor. Apesar de estranha, a teoria resolve alguns problemas recorrentes em outras soluções.
Ao mesmo tempo que a consideração de que o tempo está ficando mais lento soluciona alguns problemas, a própria proposição é algo que gera muito debate. A expansão do Universo precisa de um motivo para acontecer, e aí entra a “energia escura”. Supostamente, essa força misteriosa, que nunca foi observada, ocupa 68% do Universo.
O grande diferencial dessa teoria é que, se o tempo está realmente desacelerando, a existência da energia escura se torna dispensável para explicar a sua expansão. Se essa explicação já parece bem nebulosa, prepare-se... Ela fica um pouco mais enrolada.
No estudo, a redução de velocidade do tempo é explicada através da Teoria das Cordas, que considera nosso Universo existindo em uma espécie de membrana, chamada de brana, dentro de um espaço com diversas dimensões. Essa brana também possui uma quantidade particular de dimensões, sendo que vivemos em uma que apresenta três dimensões espaciais e uma temporal. Essa é a nossa realidade, mas outras podem apresentar múltiplas dimensões temporais, ou ela simplesmente pode não existir.
Nosso conhecimento sobre o assunto ainda não é tão profundo; porém, teoricamente outras branas poderiam ter dimensões transformadas umas nas outras. Isso tornaria possível a transformação de tempo em espaço, fato que os cientistas acreditam estar acontecendo na nossa dimensão. Se isso for realmente verdade, nosso Universo estaria parando no tempo até um ponto em que vivêssemos em quatro dimensões espaciais.
Nós já somos submetidos a uma leve desaceleração do tempo, mas o valor é tão pequeno que apenas observando em uma escala de bilhões de anos é possível identificar o fenômeno. Senovilla declarou ao New Scientist que “nossos cálculos nos levam a pensar que a expansão do Universo está acelerando, mas qualquer observação de energia escura pode ser uma evidência de que nossa brana está mudando de tipo e que o tempo está desaparecendo”.
Ainda temos um longo caminho a trilhar na compreensão do Universo; entretanto, cada vez mais as novas tecnologias auxiliam pesquisadores a entenderem melhor a natureza. O fato é que não há razão para se preocupar. Isso porque, além de ainda se tratar apenas de uma teoria, seriam necessários muitos bilhões de anos para que o tempo parasse de vez.
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