Estilo de vida
03/05/2024 às 16:00•2 min de leituraAtualizado em 03/05/2024 às 16:00
No vasto mundo do oceano, onde a luz mal penetra e os segredos se escondem nas profundezas, existe um ser que desafia todas as nossas expectativas sobre a vida marinha. A incrível Deepstaria, com sua aparência misteriosa e habilidades singulares, cativa biólogos marinhos e amantes da natureza ao redor do globo.
A Deepstaria recebeu esse nome graças ao submarino Deepstar 4000 (Estrela profunda, em tradução livre), projetado por ninguém menos que Jacques Cousteau, o francês que, dentre milhares de habilidades, é conhecido como "pai do mergulho autônomo". Foi a bordo desse submarino que uma expedição avistou a espécie pela primeira vez, em 1960.
Com uma aparência fantasmagórica e comportamento, no mínimo, inusitado, ela é verdadeiramente única entre suas parentes gelatinosas, as águas-vivas. Ao contrário das suas primas mais próximas, que dependem de longos tentáculos para capturar presas, a nossa curiosa espécie adota uma abordagem diferente.
Essa misteriosa criatura, que parece flutuar igual a um saco plástico ao vento — como a clássica cena do filme Beleza Americana —, é uma das mais intrigantes da família das medusas. Com duas espécies descobertas, Deepstaria enigmatica e Deepstaria reticulum, essas águas-vivas pertencem à classe Scyphozoa, grupo conhecido como sendo das "águas-vivas verdadeiras".
Mas por mais que sejam parentes de outras águas-vivas, elas possuem características bem peculiaridades.
Isso porque, enquanto a maioria das águas-vivas possui tentáculos longos e uma estrutura em sino relativamente pequeno, a Deepstaria evoluiu de maneira inversa, com tentáculos bem pequenos e um sino grande — com a habilidade de se abrir igual a um paraquedas.
Essa mudança foi essencial para sua sobrevivência, como é possível notar na maneira que se dá sua caça, na qual ela se transforma em um tipo de cobertor flutuante, envolvendo suas presas para criar uma armadilha letal.
Além disso, é equipada com nematocistos, organelas responsáveis por lançar toxinas que afetam o sistema nervoso central de suas vítimas.
A Deepstaria é uma mestra da metamorfose. Ela pode se comprimir, achatar-se e se expandir na forma e direção que desejar. Essa habilidade única a torna uma das criaturas mais fascinantes das profundezas oceânicas — e difícil de ser encontrada.
Achá-la é complicado, pois habita a Zona Batipelágica (também conhecida como "zona da meia-noite"), nome dado à região oceânica que fica entre 1 mil e 4 mil metros de profundidade, onde reinam a escuridão e a pressão esmagadora, cirando um ambiente intimidador e sombrio. Foi justamente nessa zona onde o submarino da Ocean Gate desapareceu em 2023, enquanto fazia uma viagem aos destroços do Titanic.
E como se não bastasse possuir o dom do disfarce, nossa amiga aquática tem outra habilidade curiosa: servir de casa para outros bichos.
Numa expedição feita com uso de câmeras submarinas, cientistas encontraram a Deepstaria com um intruso em seu corpo. O "morador" era um isópode vermelho, um crustáceo achatado que encontrou um lar dentro da água-viva. De acordo com relatos anteriores, outras espécies já foram encontradas dentro do sino dessas medusas, mostrando que isso não é algo isolado.
Porém, a natureza dessa relação, seja simbiótica ou parasitária, ainda é um mistério para os cientistas. Enquanto o isópode obtém abrigo e possíveis nutrientes do corpo da água-viva, o benefício para ela não está claro. O que ela ganharia com isso? Quem consome quem no final de contas?
Essas e outras perguntas, por enquanto, permanecem sem resposta. Só as próximas pesquisas poderão nos revelar esses segredos.