Estilo de vida
18/09/2024 às 06:00•2 min de leituraAtualizado em 18/09/2024 às 06:00
Todo ano, durante o inverno e a primavera, tubarões-brancos que normalmente vivem próximos à costa da Califórnia, embarcam em uma jornada de milhares de quilômetros para um ponto remoto no meio do Oceano Pacífico, entre Baja Califórnia e o Havaí. Conhecido como White Shark Café, esse local misterioso intriga cientistas há anos, já que foi por muito tempo considerado um "deserto" oceânico, com pouca vida marinha. Então, por que esses gigantes do mar se reúnem ali?
A primeira descoberta sobre essa migração ocorreu no final dos anos 1990, quando a professora Barbara Block, da Estação Marinha Hopkins da Universidade de Stanford, começou a acompanhar os tubarões-brancos utilizando tags eletrônicas. Entre 1999 e 2000, Block e sua equipe marcaram seis tubarões na costa da Califórnia e rastrearam seus movimentos por seis meses.
O resultado foi surpreendente: quatro dos tubarões nadaram rumo ao sudoeste, em direção ao Havaí, e passaram longos períodos em uma área remota do oceano. Foi nesse momento que os cientistas perceberam que, diferente do que se pensava, os tubarões-brancos do Pacífico Norte passam muito tempo longe da costa.
O enigma só cresceu com o tempo. Se as águas da Califórnia oferecem um verdadeiro banquete de focas e outros mamíferos marinhos para os tubarões, por que viajar para uma área aparentemente sem vida? Em 2018, uma equipe de pesquisadores, liderada novamente por Block, decidiu acompanhar de perto esses animais em sua jornada.
Vinte tubarões foram marcados com tags via satélite, e a equipe conseguiu recuperar 10 desses dispositivos, que revelaram dados detalhados sobre os padrões de mergulho e as condições ambientais do White Shark Café. Contrariando a ideia de um "deserto oceânico", o local se mostrou um verdadeiro oásis subaquático.
Os pesquisadores encontraram uma rica camada de algas microscópicas e uma diversidade impressionante de peixes de profundidade e lulas, como Block explicou: "Encontramos uma grande diversidade de peixes e lulas de águas profundas, que, junto com observações feitas por veículos operados remotamente e sequenciamento de DNA, demonstram uma fonte de alimento viável para sustentar grandes organismos pelágicos, como tubarões e atuns." Esses achados indicam que o Café oferece um cardápio atraente, o que poderia explicar a migração dos tubarões para essa área.
Mas a alimentação não é a única explicação para os hábitos dos tubarões no White Shark Café. Os padrões de mergulho observados, especialmente entre os machos, levantaram outra hipótese intrigante: a reprodução.
Em abril, os machos aumentam significativamente sua atividade de mergulho, descendo até 140 vezes por dia. No entanto, as fêmeas não mostram o mesmo comportamento, o que deixou os cientistas intrigados. Poderia essa diferença estar relacionada ao comportamento de acasalamento?
Apesar dessas descobertas, muitas questões permanecem sem resposta. Por que os tubarões optam por essa região em vez de permanecer em áreas com alimentos abundantes? O White Shark Café seria também um ponto de encontro para a reprodução? Para os pesquisadores, essas são perguntas que só serão respondidas com mais estudos, mas uma coisa é certa: o Café está longe de ser apenas um ponto vazio no mapa do oceano.