Ciência
04/10/2017 às 02:00•5 min de leitura
É provável que você nunca tenha parado para pensar sobre exatamente qual o motivo de, digamos, cobrirmos a boca com a mão quando bocejamos, ou de apertarmos as mãos quando encontramos alguém novo. Temos esses hábitos porque, enquanto crescíamos, algum adulto nos mandou agir assim, mesmo antes de sermos capazes de entender quão arbitrários esses atos são.
Acontece que, na verdade, a origem dessas ações tão comuns no nosso cotidiano vão de histórias bastante estranhas até tradições pra lá de sinistras. Por esse motivo, confira a seguir 5 atos do dia a dia que têm um passado baseado em violência e medo.
Os apertos de mão são uma relíquia de uma era em que todo mundo vivia imerso na paranoia de que poderia ser assassinado a qualquer momento por toda e qualquer pessoa que visse – talvez até mais do que hoje em dia. No passado, estender a mão vazia era mais do que um gesto amigável – era uma indicação de que a pessoa não estava com uma pedra afiada, faca ou miniatura de catapulta acoplada ao punho, pronta para usar em você.
Conforme a história progredia, a prática foi se tornando mais e mais complicada, de forma a atender aos medos crescentes. Quando os romanos se reuniam, por exemplo, eles se atracavam uns aos braços dos outros até a altura dos cotovelos para sentir se havia adagas ocultas nas mangas.
Na maioria dos casos, os apertos de mão eram feitos com a direita justamente por ser o lado mais provável de conter qualquer armamento. Em algumas culturas, no entanto, isso se devia ao fato da esquerda ser a mão que usavam para limpar os traseiros na era pré-papel higiênico. Melhorando a tradição romana, os europeus medievais adicionaram um chacoalhão vigoroso ao aperto, de forma que desalojasse qualquer surpresa bem amarrada.
Fonte da imagem: Reprodução/E-Commerce News
Na época da Roma antiga, na qual boa parte dos nossos costumes surgiu, o trânsito costumava seguir pela esquerda. O motivo por trás disso é que nunca se sabe quando vamos encontrar alguma figura suspeita no caminho e, como a maior parte das pessoas é destra, andar à esquerda te deixa com espaço de sobra para decapitações descomplicadas.
A ideia é simples: se você estivesse passando pelo lado direito e tentasse atacar com sua espada seu novo conhecido ou inimigo do lado esquerdo, acabaria perdido no acostamento com um cavalo sem cabeça. Por esse motivo, as pessoas ficavam do lado esquerdo para estarem melhor preparadas em caso de luta – ou se um cumprimento amigável fosse oferecido. O hábito ficou tão arraigado que até foi tornado lei pelo Papa Bonifácio, em 1300.
Fonte da imagem: Reprodução/Cidade Olímpica
Mas então por que mudamos de lado? Diz a lenda que foram Napoleão e Hitler quem originaram a alteração, mas embora eles tenham de fato contribuído para difundir a prática, ela já tinha acontecido em grande parte antes do século XIX – e, novamente, está relacionada à natureza violenta de nossa espécie nas estradas.
Com a introdução das armas de fogo, não fazia mais sentido que os destros ficarem à esquerda, pois teriam que realizar algumas torções dignas de mestres de yoga para mirarem apropriadamente seus rifles em um transeunte. Ao invés disso, os viajantes passaram a prender suas espingardas na esquerda e a viajar na direita, de forma a estarem melhor preparados para atirar.
Adicione a isso o fato da má-projetada carroça Conestoga forçar seu condutor a se sentar no cavalo traseiro do lado esquerdo para poder utilizar apropriadamente o chicote na direita, e veremos que o sentido em que dirigimos surgiu dos nossos desejos de balear pessoas e bater em animais mais eficientemente.
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Culturas islâmicas antigas viam o bocejo como um convite aberto para que Satanás deslizasse para dentro de seu corpo, presumivelmente com as intenções mais malévolas possíveis, como usar sua úvula como saco de pancadas enquanto cutuca seu pâncreas com a cauda pontuda. Enquanto isso, os indianos consideravam o ato mais como uma via de mão dupla: não apenas permitia que bhuts (espíritos) entrassem, como também deixava um pouco da sua alma sair.
Por sorte, os seres humanos vieram equipados com práticos bloqueadores de Satanás, espíritos e alma na ponta de cada braço. Mas isso não ajudava muito os infantes de dedos grudentos, então os médicos da antiguidade instruíam as mães a cobrirem os bocejos dos filhos com as próprias mãos para impedir que suas alminhas saíssem totalmente.
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Já na Europa, cobrir a boca era uma ação menos espiritual, e mais uma necessidade física. Com a peste bubônica atacando descontroladamente pelo continente, soltar seu maxilar e mandar pra dentro uma boa dose da sujeira do próximo era visto como uma forma certeira de ver suas partes íntimas apodrecerem. Na época, se tornou comum não apenas cobrir a abertura durante um bocejo, mas também fazer uma cruz na frente para espantar a doença.
Similarmente, o costume de dizer “deus te abençoe” quando alguém espirra também tem origem na praga. E ato de espirrar era uma das formas mais gritantes de identificar os infectados, e como na época isso era praticamente uma sentença de morte, o Papa Gregório instruiu que a população a abençoar todo mundo que espirrasse. Certamente, qualquer pessoa que sofresse de alergias prontamente passou a ter bem menos amigos.
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Embora no Brasil sejamos considerados maiores de idade a partir dos 18 anos, há muitos países no mundo em que uma pessoa só é realmente considerada adulta após os 21. E o motivo é simples: a mil anos atrás, essa era a idade em que você finalmente poderia se tornar um cavaleiro salvador de donzelas.
Na Idade Média, guerrear basicamente se resumia a um gutural “eu mais forte, você mais morto”, portanto as unidades de maior status eram os cavaleiros com armaduras pesadas. E já que vestes feitas completamente de metal tem a tendência de ser bastante reforçadas, acreditava-se que somente quem já tivesse passado pelo seu vigésimo primeiro aniversário teria força suficiente para utilizá-las.
Além disso, a idade de 21 anos era considerada adicionalmente especial por conta de uma crença, baseada em escritos aristotélicos, de que o número sete tinha propriedades divinas. Dessa forma, os garotos só podiam se tornar ajudantes aos 7 anos, escudeiros aos 14 e cavaleiros aos 21.
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Se há uma coisa que é completamente preenchida por aparentes clichês e tradições atordoantemente sem sentido, são as cerimônias de casamento comuns. Desde escolher padrinhos e madrinhas até arremessar a cinta-liga da noiva a uma horda de homens ensandecidos, o processo todo passa a sensação de ser desnecessário, mas inofensivo.
Hoje em dia, o propósito do padrinho tem muito a ver com ajudar o noivo a superar a insegurança pré-casamento. Durante a Idade Média, no entanto, o papel do escolhido tinha muito mais relação com a ansiedade da noiva, já que era o padrinho que ajudava a sequestrá-la.
Os Godos germânicos tinham um costume que ditava que um homem deve casar com uma mulher que vivesse em sua própria comunidade, o que inevitavelmente levava a uma escassez de prospectos aceitáveis. E como estamos falando da Idade das Trevas, então é claro que isso tinha que resultar em pilhar as vilas vizinhas – o que certamente não é trabalho para um homem só.
Com o passar do tempo, o padrinho evoluiu de parceiro de sequestro para o papel mais amigável de guarda-costas da noiva. A sua função seria proteger o casal apaixonado de familiares descontentes ou de competidores que desejam uma última chance com a donzela.
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As contrapartes dos padrinhos não tem uma origem menos sinistra. Na Roma antiga, a lei exigia que uma cerimônia de casamento consistisse de 10 testemunhas. Mas ao contrário de hoje em dia, essas dez garotas cometiam a mancada suprema de se vestirem igual à noiva – tudo para confundir espíritos malignos.
Os romanos acreditavam que essas forças espirituais seriam capazes de arruinar a cerimônia de casamento e de amaldiçoar o casal com má-sorte pelo resto de suas vidas. Dessa forma, ao utilizar suas melhores amigas como isca para seres malévolos, as noivas deram início à tradição de maltratar suas colegas mais próximas.
Fonte da imagem: Reprodução/Os Vencedores e Outros Clássicos
Por volta do século XIV, os convidados de um casamento tinham o hábito de carregar os noivos direto para o quarto após o final da cerimônia, para que eles pudessem então consumar a relação na frente de todos. Ficar com uma parte do vestido da noiva no caminho para o show pornô ao vivo era considerado como sinal de boa sorte, o que obviamente acabava em vestes totalmente dilaceradas.
Para evitar a selvageria, as noivas eventualmente passaram a arremessar as cintas-ligas para que os convidados duelassem por elas, e aproveitavam a deixa para fugir para o quarto com seus maridos – igualzinho aos ladrões de desenhos animados que tacam um osso para distrair os cães de guarda, com exceção do fato de estarem se protegendo dos instintos pervertidos de seus amigos e familiares.
Fonte da imagem: Reprodução/Vestidas pra Casar
Sabe de algum outro costume que tem uma origem sombria, violenta ou misteriosa? Deixe sua opinião nos comentários.
*Publicado em 27/09/2013