Ciência
04/02/2018 às 05:00•4 min de leitura
Caso você não seja católico, umbandista ou corintiano, talvez não saiba que hoje é comemorado o Dia de São Jorge. No entanto, isso não é motivo para não conhecer um pouco melhor a história desse icônico e respeitado santo, não é mesmo?
Conhecido como “Grande Mártir” — e por ser o Santo que matou o dragão! —, Jorge nasceu na Capadócia, na Turquia, no século 3, e lutou como tribuno militar ao lado de soldados romanos a serviço do Imperador Diocleciano perseguindo cristãos.
Contudo, em um dado momento, Jorge se tornou avesso à ideia de lutar por um império opressor — que promovia o massacre dos seguidores do cristianismo —, e decidiu abandonar a carreira militar e se converter à nova religião. Por conta disso, Jorge foi ameaçado, preso e torturado, e ao se negar a renunciar à sua fé e adorar os deuses do império, foi condenado à morte.
Dizem que durante o período em que esteve sob o poder de seus carrascos, Jorge nunca se queixou e suportou a todo o sofrimento ao que foi submetido com coragem e fé inabaláveis — o que teria levado a própria esposa do imperador se converter ao cristianismo. Assim, no dia 23 de abril do ano 303, Jorge foi condenado a ser arrastado por toda a cidade de Lida, na Palestina, e finalmente decapitado.
Eduardo III
No ano de 313, o imperador romano Constantino se converteu ao cristianismo e construiu uma igreja em honra a São Jorge. Um século mais tarde já existiam diversas igrejas em seu nome espalhadas pela Europa, e só no Egito havia por volta de 40 templos dedicados ao mártir.
O culto a São Jorge teve início na Palestina praticamente junto com o próprio cristianismo, e o local onde o mártir foi sepultado se tornou um importante centro de peregrinação durante a época das Cruzadas. Infelizmente, a igreja que abrigava sua tumba foi destruída no século 12 a mando do sultão Saladino.
A festa em sua homenagem foi estabelecida pelo Concílio Regional de Oxford, na Inglaterra, no século 13 e, no século 14, o Rei Eduardo III adotou São Jorge como santo padroeiro do país — tanto que a cruz do mártir forma a bandeira inglesa e faz parte da bandeira do Reino Unido. No início do século 15, o arcebispo de Canterbury decretou que a comemoração deveria ser tão festiva quanto o Natal. Mas a coisa não parou por aí...
São Jorge é santo padroeiro de uma coleção de cidades — como Roma, Gênova e Moscou— e até de regiões inteiras de Portugal, da Espanha, Lituânia, Índia, Egito, Alemanha, Bulgária, Síria e Bélgica, para mencionar algumas. E com respeito ao nosso país, como o Brasil fazia parte do Império Português, nós acabamos “herdando” a devoção a São Jorge.
Mas, além de ser um santo pra lá de internacional, São Jorge também é padroeiro de incontáveis organizações, universidades, instituições e... times de futebol. Você duvida? Então pergunte para a torcida corintiana para você ver! Aliás, hoje também é comemorado o Dia do Torcedor Corintiano.
O mártir é o padroeiro da equipe paulista, e também é ele quem dá o nome à sede social do time e ao bairro no qual ela se encontra — Parque São Jorge. Aliás, o endereço oficial do timão é “Rua São Jorge, nº 777”, e inclusive existe uma capela em homenagem ao santo nas dependências do clube.
De acordo com o pessoal da Joven Pan, existem duas histórias sobre a eleição de São Jorge como padroeiro do Corinthians. Uma delas, seria por conta do endereço da sede do clube, e a outra, mais interessante, estaria relacionada com o clube inglês Corinthian Football Club, que tinha o santo como padroeiro e deu origem ao Sport Club Corinthians Paulista.
Calma, calma... São Jorge não é umbandista, nem praticante de candomblé — mas sua relação com essas religiões é fascinante! Com a chegada dos escravos africanos no Brasil, esses povos encontraram muita resistência para praticar suas próprias religiões e rituais por aqui.
Para contornar essa situação, os escravos começaram a adotar alguns santos da Igreja Católica para poder exercer suas crenças e, isso acabou por criar um sincretismo entre algumas divindades africanas e figuras do catolicismo. Segundo as lendas, os africanos criavam seus altares e colocavam as estátuas dos santos católicos sobre eles, ao passo que guardavam representações de suas divindades sob essas estruturas.
Além disso, muitas vezes os donos das fazendas eram devotos de um santo determinado, e obrigavam seus escravos a adorar o mesmo personagem. Sendo assim, é por isso que é possível encontrar várias diferenças entre o sincretismo de santos e divindades pelo país. Uma delas é São Jorge que, em alguns locais onde a Umbanda e o Candomblé são praticados, ele corresponde a Ogum, o orixá da guerra, muitas vezes invocado para abrir caminhos.
Como você deve ter percebido nas imagens que ilustram esta matéria, São Jorge muitas vezes é retratado usando armadura e montado sobre um cavalo branco. Além disso, ele também aparece empunhando uma lança e matando um dragão. Mas, de onde é que surgiu essa representação?
Segundo a fábula, existia uma caverna nas imediações de um lago próximo à cidade de Silena, na Líbia, de onde um temível dragão saía para atacar as muralhas da localidade — aproveitando para “torrar” um bocado de gente com suas chamas. Como os guerreiros do local não conseguiam se livrar do monstro, o povo, desesperado, começou a sortear pessoas para que elas fossem oferecidas como sacrifícios para que o dragão poupasse o resto da população.
No entanto, um belo dia a filha do Rei foi selecionada como vítima e, enquanto o pai a acompanhava desconsolado até a margem do lago, um valente cavaleiro apareceu. Vindo da Capadócia, Jorge partiu com seu cavalo para cima do dragão e, com sua lança em punho, amansou o assombroso bicho.
Aliviada por ter sobrevivido, a princesa levou o monstro preso a uma corrente até o interior da cidade, enquanto a população apavorada se trancava em suas casas. Foi então que o corajoso cavaleiro assegurou a todos que tinha vindo em nome de Cristo para derrotar o dragão, e que todos deveriam se converter ao cristianismo e ser batizados.
*Publicado em 23/4/2015