Ciência
13/11/2017 às 12:24•4 min de leitura
Em 2000, obtive minha primeira vitória: depois de quatro anos, terminava o curso Técnico em Eletrônica, feito no CEFET junto com o Ensino Médio, e já “estava pronto” para o mercado de trabalho. Eu tinha 18 anos, mas a única certeza era de que a área de Exatas não seria o foco da minha vida, mas ainda não sabia como me “livrar” disso.
Foi então que tive que prestar o ENEM. O Exame Nacional do Ensino Médio foi criado em 1998 para avaliar o desempenho dos alunos nessa fase da vida. Na época, não servia, na prática, para muita coisa, já que as universidades ainda estavam começando a analisar as portas que o exame abriria.
Assim, eu fiz a segunda edição do ENEM – aquela ainda “raiz” –, mesmo sem um propósito específico. No Ensino Técnico do CEFET, eu tive apenas um ano de História, um de Filosofia e um de Biologia, e essas disciplinas tinham sido cursadas no começo do curso, em 1997. Então, cheguei meio perdido no dia das provas e acabei acertando 70%.
Diego versão teen: da época do Ensino Médio-Técnico em Eletrônica, apenas lembro que é bom não colocar o dedo na tomada
Desde então, sempre pensei em prestar o exame novamente. Só que os anos foram passando, a faculdade veio e acabou, e os conhecimentos aprendidos no Ensino Médio foram ficando cada vez mais para trás. Mesmo assim, a pulguinha sempre picava na hora das inscrições para o ENEM, mas ou eu perdia o prazo ou desistia de me inscrever.
Outro detalhe que me impedia era a pressão que a vida adulta começa a exercer sobre mim. No meu primeiro ENEM, aos 18 anos, eu não pensava muito no que iria ser o meu futuro. Então, fazer as provas era mais parte de um ritual do que uma vontade. Hoje em dia eu me cobro mais, e o medo de prestar o exame e ir mal sempre me incomodava.
Assim, passaram-se 17 anos e chegamos a 2017. Prestei atenção no prazo, fiz a inscrição e me joguei com a cara e a coragem. Obviamente não iria estudar, por falta de tempo e de vontade de me preparar para as provas. Queria apenas ver “qual é”. E, bem, as coisas mudaram, hein?
Tentar de novo
Neste ano, 6,1 milhões de pessoas se inscreveram para o ENEM. Destas, cerca de 870 mil – 1 em cada 7 – possuem mais de 30 anos. E eu, no alto dos meus 35, fiz parte dessa estatística. Nos últimos dois domingos, voltei à escola para testar conhecimentos que, para mim, estavam perdidos em um passado longínquo em meu cérebro.
No primeiro dia de provas, sobre Linguagens e Humanas, achei as questões bastante extensas e cansativas. Ainda que soubesse que essa era uma característica do ENEM nos dias de hoje, as provas são muito mais complexas do que quando as fiz em 2000. A parte boa é que a maioria das questões necessitava mais da interpretação, então foi possível obter um resultado melhor do que eu esperava – 70% de acerto, de acordo com gabaritos extraoficiais.
A Redação trouxe um tema interessantíssimo: o desafio da inclusão de surdos no ensino tradicional. Essa sempre foi uma disciplina que costumo ir bem, principalmente em vestibulares e concursos, mas, ainda assim, tratava-se de um tema fora de meu conhecimento, ainda que fosse possível raciocinar. E essa é a alma de uma redação: colocar os pensamentos em ordem e ter base para os argumentos apresentados.
Ensino de libras: a acessibilidade ao alcance das mãos
Porém, ontem o bicho pegou: na parte de Ciências da Natureza, que englobam Física, Química e Biologia, a memória não ajudou. Muitas questões eu nem sequer me lembrava de algum dia ter estudado na vida! Nunca fui bom nessas matérias, por isso a taxa de acerto de 35-40% foi acima do que imaginava.
Por fim, a temida prova de Matemática foi menos cruel do que eu imaginava. Sempre tive facilidade com cálculos, o problema foi me lembrar de uma fórmula ou outra. Ainda assim, acredito que o resultado de 70-75% de acerto bem bom, já que praticamente igualei ao meu primeiro ENEM, feito há quase duas décadas.
Outra coisa que mudou – e MUITO – nesses 17 anos, foi o #ShowDosAtrasados: poxa, galera, vamos superar essa “piada”, né? No colégio em que fiz as provas, dava para ver que muita gente estava ali na frente apenas para rir da desgraça alheia. Eu, que sempre fui atrasado em tudo, até me programei para chegar bem cedo e evitar memes com minha fuça, mas muitas pessoas que perdem a prova têm justificativas para isso. Vamos ser mais solidários?
Mudar faz parte
Quando as pessoas descobriam que eu iria prestar o ENEM, as perguntas eram sempre as mesmas: “Por quê? Pra quê? Vai voltar para a faculdade?”. Sinceramente, não sei. A ideia inicial era apenas me testar. Se alguma faculdade se abrir por conta disso, estarei no lucro.
Caso não aconteça, seguirei minha vida na área de comunicação – algo que não penso em largar, mesmo que acabe começando uma nova graduação em 2018. Hoje estou satisfeito com meu resultado e feliz de ter me posto à prova depois de tantos anos.
E acho que a vida é assim mesmo: tentativas, acertos e erros. Foi um erro ter ido para a área de Exatas – no meu caso, que fique bem claro –, mas consertei isso largando Engenharia (sim, teve isso no começo dos anos 2000) e indo para Jornalismo. Agora, eu posso ampliar esse conhecimento em outras áreas. Caso não aconteça ano que vem, tudo bem, já que ainda terei muitas megacuriosidades para compartilhar com vocês!
Da época do TCC, em 2009: passaria por tudo isso novamente
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OBS.: Não tirei nenhuma foto minha prestando o ENEM, pois desliguei o celular assim que cheguei ao local de provas. E eu só pensei na ideia de compartilhar esta experiência hoje. Além disso, nem daria para tirar fotos na sala de aula, né? Então, a matéria está ilustrada de forma genérica.