Ciência
24/04/2018 às 08:00•3 min de leitura
Não se sabe exatamente o que ocorreu com os Neandertais; a única ligação entre eles e o homem moderno, o Homo sapiens, é um mesmo ancestral em comum, que existiu há aproximadamente 800 mil anos. As poucas informações que existem sobre nossos parentes foram obtidas através de fósseis.
Após esse registro do ancestral em comum, cada linhagem seguiu um caminho geográfico diferente. Os Homo sapiens se concentraram na região onde hoje é a África, enquanto os Neandertais se deslocaram para a Eurásia, onde ao longo dos anos passaram por condições naturais extremas, devido às baixas temperaturas de eras glaciais. Eles desapareceram há 40 mil anos, e até hoje não conseguimos descobrir o motivo.
Modelos 3D, criados em computadores, já foram gerados com a intenção de reproduzir a aparência que um dia eles tiveram e, comparando com nossa fisionomia atual, eles são bem diferentes. O que mais chama a atenção são sobrancelhas grandes, nariz grande e largo, junto com rostos longos que se projetam para frente.
De acordo com uma nova pesquisa, publicada nos “Proceedings of the Royal Society B”, essas características foram adquiridas por motivos específicos, e sua estrutura facial se alterou para que a vida num ambiente frio fosse mais suportável.
Inicialmente, existiam três teorias explicando as diferenças. A primeira afirmava que a estrutura do crânio favorecia o uso dos dentes, tanto como ferramentas quanto para se alimentarem de grandes animais. Essa hipótese sempre foi levada muito a sério, pois fósseis mostram que os dentes deles eram extremamente fortes.
Outra teoria dizia que eles possuíam grandes cavidades nasais para que conseguissem aquecer rapidamente o ar frio, antes que ele entrasse no sistema respiratório. Ela sempre foi controversa, pois o tamanho das vias aéreas pode estar relacionado também com grandes demandas respiratórias, causadas por um considerável esforço.
A terceira, e última, aponta que as grandes passagens de ar possibilitavam o uso de um tipo de “respiração turbo”, permitindo que eles inspirassem grandes quantidades de ar quando necessário. Essa condição também ajudaria a manter o corpo aquecido, pois se estima que eles gastavam aproximadamente 4 mil calorias por dia, contra as 2,5 mil de que necessitamos atualmente, em média.
Modelo 3D do crânio Neandertal utilizado no estudo
Para a pesquisa foram construídos modelos tridimensionais de um Homo sapiens, um Neandertal e de uma linhagem semelhante aos dois (sendo possivelmente a ancestral de ambos), o Homo heidelbergensis. Esse último foi incluído para que fossem analisadas as características herdadas pelas duas linhagens principais.
Esses foram os primeiros modelos 3D que consideraram tanto as características externas quanto as internas, e isso possibilitou uma análise mais profunda. Em relação à mordida, foram identificadas poucas diferenças, e surpreendentemente humanos modernos possuem uma mordida mais potente do que a dos extintos Neandertais, derrubando a teoria do uso dos dentes.
Tensão no crânio durante a mordida de um Neandertal
Já em relação à respiração ficamos para trás, e de forma indiscutível. Neandertais e sapiens respiram melhor do que seu ancestral H. heidelbergensis, sugerindo que houve evolução para uma melhor adaptação respiratória a climas secos ou frios. Stephen Wroe, líder da equipe de pesquisas, disse que “onde os Neandertais realmente se destacam é na capacidade respiratória, sendo duas vezes mais eficazes que nós”. Isso apoia o argumento de que eles possuíam um estilo de vida com alto consumo de energia.
Comparação de temperaturas ao exalar ar
Essas conclusões foram obtidas através de modelos computacionais, por isso os resultados ainda podem ser melhorados. Essa pesquisa foi baseada em fósseis considerados com poucas informações; através de novas descobertas, será possível aprimorar os modelos e obter dados mais precisos.
Apesar de possuírem uma aparência bem diferente, os Neandertais eram muito semelhantes a nós em termos de comportamento. Embora pareçam brutos, existem registros de que possuíam dietas flexíveis, utilizavam adornos, e 20 mil anos antes do Homo sapiens eles já desenhavam nas paredes de cavernas.