Artes/cultura
16/06/2018 às 10:01•2 min de leitura
Você consegue imaginar como era ser mulher na Europa do século XVIII? Em plena movimentação pré-Revolução Francesa, com todos os outros países em torno se revolvendo por causa da necessidade de mudanças sociais, políticas e econômicas, os direitos delas eram apenas uma das pautas em discussão.
Na Inglaterra, por exemplo, o acesso ao voto só foi concedido às moças em 1918, depois de uma luta que durou décadas. Mais de 100 anos antes, no entanto, já havia quem falasse de assuntos como comportamento, educação e relacionamentos, questionando a forma como mulheres eram tratadas e vistas na sociedade.
Uma dessas pessoas era a britânica Mary Wollstonecraft, que, não à toa, era mãe de uma das pouquíssimas escritoras femininas de sucesso da época: Mary Shelley, a autora de “Frankenstein”.
Mary, a mãe, teve uma história de vida bastante peculiar: nascida em 1759, ela cresceu com um pai violento e não teve instrução formal, sendo autodidata em todas as áreas nas quais tinha interesse. Aos 19, fugiu de casa e foi trabalhar como empregada doméstica; apenas 5 anos depois, ela fundou seu próprio colégio na comunidade de Newington Green, onde começou a sua militância pela educação compartilhada.
Acontece que, na época, meninos e meninas eram ensinados em separado, e a maioria destas nem frequentava escolas; elas eram direcionadas para a administração do lar e, portanto, muitas famílias achavam imprudente e desnecessário que se expusessem em tais ambientes.
Essa pauta entrou na vida de Mary Wollstonecraft junto a questões como o abolicionismo e o amor livre — ela era contra a união monogâmica tradicional. Ao final da década de 1780, a britânica se apaixonou pelo suíço Henry Fuseli, que já era casado. Ela propôs à esposa do pintor que compartilhassem o marido — o que, claro, a mulher não aceitou.
Em 1792, durante uma viagem para a França, ela conheceu e se interessou por Gilbert Imlay, com quem teve uma filha: Fanny Imlay. O encanto não durou muito, e o diplomata a abandonou alguns anos depois, o que levou a moça a duas tentativas de suicídio.
Com o passar do tempo, ela — então viúva, mãe solitária de uma criança pequena, dona de uma agitada vida amorosa — se aproximou do filósofo inglês William Godwin. Eles iniciaram um relacionamento nos moldes sonhados por ela, baseado na afeição e no companheirismo, mas decidiram juntar os trapos oficialmente quando a moça engravidou mais uma vez — de Mary Wollstonecraft Godwin, que, mais tarde, adotou o sobrenome do marido e virou Mary Shelley.
Infelizmente, logo após o parto, Mary sofreu uma septicemia e faleceu, aos 38 anos, em 1797, sem poder conviver por muito tempo com a filha ou ver os frutos de seu livro: “Reivindicação dos Direitos da Mulher”, uma coletânea de reflexões críticas e cartas a importantes autores da época — como o próprio Jean-Jacques Rousseau —, questionando posturas extremamente sexistas e a visão de frágil e indefesa atribuída às damas em suas obras.
Fortaleça a mente feminina, expandindo-a, e haverá um fim à obediência cega.
Cento e cinquenta anos antes da publicação de “O Segundo Sexo”, da francesa Simone de Beauvoir, Wollstonecraft já lançava ideias avançadas para o seu tempo e expunha conflitos sociais assustadoramente contemporâneos, ainda que escritos em 1792.
A libertação por meio da educação, a necessidade de instrução para igualar as mulheres aos homens sem servidão e o direito delas de serem as únicas protagonistas de suas próprias vidas — especialmente em relação ao amor — eram pontos centrais em sua obra e conduziram sua curta passagem pela Terra.
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