Estilo de vida
08/02/2019 às 10:00•3 min de leitura
Você deve se recordar das aulas de História, quando aprendeu sobre a epidemia de peste bubônica (também conhecida como peste negra) que matou milhões de pessoas na Europa e dizimou cerca de um terço da população do Velho Continente, certo? E deve se lembrar de ter visto imagens dos médicos que foram alistados para ajudar os moribundos e tentar conter a propagação da doença, não é mesmo? Sim, estamos falando das figuras sombrias, que circulavam com casacões longos, luvas e aquelas máscaras grotescas que pareciam ter um bico sinistro...
(Reprodução/Wikimedia Commons/Anagoria)
Esse acima, caro leitor, era o uniforme usado pelos chamados “médicos da peste” – pessoas sem muito (ou nenhum) treinamento ou com pouca experiência que foram contratados pelas cidades para circular pelas áreas afetadas pela epidemia. Na prática, mais do que tratar doentes, seu principal papel era, basicamente, contabilizar o número de mortos.
(Reprodução/Wikimedia Commons/Domínio Público)
Mas, de acordo com Daniel Rennie, do site All That It Is Interesting, embora a epidemia de peste negra tenha atingido seu ápice em meados do século 14, outros surtos letais ocorreram ao longo do tempo na Europa, e essas vestimentas que estamos acostumados a ver nos livros de História só foram criadas no início do século 17. Mais especificamente, o uniforme foi inventado por Charles de l’Orme, médico do Rei Luís VIII, da França.
Segundo Daniel, a indumentária deveria funcionar mais ou menos como aquelas roupas que os cientistas de hoje em dia usam para se proteger de agentes biológicos. Entretanto, o uniforme estava longe de ser eficiente na missão de proteger os médicos do contágio da doença.
Na época, os europeus não sabiam o que, exatamente, transmitia a peste negra, e a teoria mais popular no século 17 era a de que o contágio acontecia por meio do ar pestilento das cidades. Assim, l’Orme propôs que os médicos usassem uma máscara com um longo nariz em formato de bico que deveria ser preenchido com ervas aromáticas, como a mirra e a cânfora, por exemplo, e que se protegessem com um sobretudo de couro.
Debaixo do casaco, os médicos usavam calças justas e uma blusa de manga curta, botas e luvas – todas feitas de couro de cabra. Só que l’Orme acreditava que as fibras das peças podiam capturar a doença do ar e transmiti-la aos médicos; então, as peças tinham que ser enceradas com uma camada de gordura de animal para que tudo fosse impermeabilizado.
(Reprodução/Wikimedia Commons/Domínio Público)
Para finalizar, o uniforme contava, ainda, com óculos, um gorro e um chapéu preto – que servia de indicação de que o sujeito realmente era um médico da peste –, assim como uma espécie de bengala que ajudava com a comunicação e no exame dos doentes, bem como para afastar os infectados mais agressivos.
O problema é que, como hoje sabemos, a peste não é causada por agentes presentes no ar, mas pela bactéria Yersinia pestis, transmitida por meio das picadas de pulgas de ratos e outros roedores. Pois a máscara grotesca usada pelos antigos médicos tinha furos para que houvesse ventilação, e muitos acabaram pegando a doença e morrendo mesmo usando toda aquela parafernália.
Você deve saber que ainda ocorrem surtos de peste bubônica no mundo, certo? Por sorte, já existe tratamento para a doença – por meio de diversos antibióticos. Mas, e no passado, como é que os médicos faziam para tentar frear os sintomas e evitar a morte dos contagiados?
Conforme mencionamos anteriormente, em sua grande maioria, os médicos da peste não eram qualificados para tratar doentes. Assim, segundo Daniel, as técnicas que eles aplicavam podiam ser extremamente bizarras e até terrivelmente dolorosas.
(Reprodução/Wikimedia Commons/Domínio Público)
Um dos tratamentos, por exemplo, consistia em cobrir os bulbos purulentos com fezes humanas, o que provavelmente contribuía para piorar o quadro do doente, enquanto outro envolvia submeter o moribundo a sangrias. Também havia os que lancetavam os cistos cheios de pus para drená-los, o que deveria ser bem doído; e outra alternativa era cobrir o infectado em mercúrio e esquentar seu corpo, o que muitas vezes resultava em bolhas e queimaduras! Graças aos céus pelos avanços na Ciência e na Medicina, não é mesmo?