Ciência
25/04/2019 às 04:00•3 min de leitura
Veja que coisa mais fascinante – e sinistra! Segundo Owen Jarus, do site Live Science, uma lenda contada há diversas gerações no Alasca pelo povo da cultura Yup'ik, no século 17, dois garotos brincando de atirar dardos teriam, sem querer, dado início a um massacre em um vilarejo que acabou desencadeando uma guerra que se espalhou por toda uma região e envolveu milhares de pessoas.
Dizem que os meninos estavam jogando quando um deles – meio espírito de porco, diga-se de passagem – resolveu lançar um dardo contra o outro e acabou acertando o olho do amigo. O pai do garoto machucado ficou furioso com o acidente, e o pai do que atirou o dardo (que não devia ser flor que se cheire também) sugeriu que 1 dos olhos do filho fosse arrancado como castigo. Tipo aquele papo do “olho por olho…”, só que literalmente, sabe?
(Reprodução / All that is Interesting / Universal History Archive / UI / Getty Images)
Só que, como se a situação toda não fosse sangrenta o suficiente, o pai do menino machucado acabou arrancando os 2 olhos do garoto que atirou o dardo – e aí a coisa toda desandou de vez. O pai do moleque que ficou cego se lançou contra o outro homem, outros membros das famílias de ambos se meteram na briga e todo mundo acabou por começar a arrancar os olhos uns dos outros. Bem, um verdadeiro caos que começou por causa de uma brincadeira que deu errado.
Enfim, o fato é que não demorou até que o vilarejo inteiro se envolvesse em uma imensa carnificina – tanto que, segundo a lenda, uma mulher de uma comunidade vizinha teria visto uma névoa à distância, formada pelo calor do sangue derramado em contato com o solo frio do Alasca. E a situação saiu tão completamente de controle que, logo, toda a região mergulhou em um conflito que ficou conhecido como “Guerras do Arco e Flecha”, durante o qual ocorreram inúmeros massacres.
Disso se passaram mais de 300 anos, mas, eis que um time de arqueólogos estava conduzindo escavações na cidade de Agaligmiut, que estava no epicentro dos conflitos, quando se deparou com um local que teria servido de palco para um dos massacres descritos na lenda. Nesse lugar, os pesquisadores encontraram os corpos de 28 pessoas que pereceram durante a guerra, assim como cerca de 60 mil artefatos que incluem máscaras de madeira, bonecos e estatuetas que eram usados com fins ritualísticos e como brinquedos.
(Destaque / Reprodução / What Next)
Segundo os arqueólogos, alguns dos corpos foram encontrados de bruços, com os membros amarrados com cordas, e tinham orifícios na parte de trás da cabeça que parecem ter sido provocados por ponta de flecha ou lança, indicando que essas pessoas foram executadas. De acordo com Owen, existe uma história de que o povo de Agaligmiut teria organizado um pequeno exército para investir contra um vilarejo vizinho, mas os moradores do local que seria atacado descobriram tudo e mataram os guerreiros inimigos em uma emboscada.
Então, Agaligmiut acabou sendo invadida pelos outros guerreiros, os habitantes – ou as pessoas que não participaram na invasão, ou seja, mulheres, crianças e idosos – foram mortos, e o vilarejo reduzido a cinzas. Pois entre os corpos descobertos, os arqueólogos encontraram apenas o de 1 homem com idade para lutar e os demais eram de mulheres, crianças e pessoas mais velhas.
Mulher e criança da cultura Yup'ik (Reprodução / All that is Interesting / Wikimedia Commons)
Basicamente, o que os pesquisadores descobriram parece confirmar que pelo menos parte da lenda aconteceu de verdade, embora seja impossível confirmar que foi a brincadeira com os dardos que realmente deu início a tudo. Seja como for, os arqueólogos explicaram que os conflitos se deram durante um período conhecido como “Pequena Era do Gelo”, em que o clima mais frio pode ter prejudicado os cultivos e causado escassez de comida, desencadeando tensões na região. Esse, por sinal, seria um motivo mais coerente para iniciar uma guerra do que uma porção de gente enlouquecida arrancando os olhos uns dos outros, você não acha?