Ciência
12/12/2019 às 15:00•2 min de leitura
Na sepultura 312, quadra L, do Cemitério Municipal Nossa Senhora Aparecida, na cidade mineira de Juiz de Fora, está sepultado um dos maiores segredos da Ditadura Militar brasileira.
Lá, entre túmulos e as tradicionais jaqueiras em flor, uma cruz sem nome passaria despercebida, não fosse a tenacidade de uma repórter do jornal local, a Tribuna de Minas. Foi nesse periódico, no ano 2000, que a jornalista e escritora Daniela Arbex iniciou uma reportagem investigativa sobre a morte do guerrilheiro gaúcho Milton Soares de Castro, o suposto ocupante daquele jazigo.
A primeira guerrilha armada do Brasil pós-1964 ocorreu três anos após a eclosão do regime militar, na serra do Caparaó, divisa entre os estados de Minas Gerais e Espírito Santo, onde o Movimento Nacional Revolucionário arregimentou um grupo de militares cassados do Exército brasileiro.
Entre os antigos soldados e oficiais, apenas um civil se destacava: o operário metalúrgico Milton Soares de Castro, da cidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul, que decidiu acompanhar um grupo de estrategistas até a serra, onde executariam o mapeamento do local para futuras operações.
A expedição foi surpreendida pela Polícia do Exército que, em 1° de abril de 1967, invadiu o acampamento e ordenou a prisão de todos, levando-os para a Penitenciária Estadual de Linhares, em Juiz de Fora.
A chegada à penitenciária foi tensa. Depoimentos obtidos com outros presos relatam uma discussão violenta entre Milton e o então major Ralph Grunewald Filho, chefe do IPM (Inquérito Policial Militar) da guerrilha do Caparaó.
Foi esse militar que iniciou o depoimento do guerrilheiro gaúcho, na noite do dia 27 de abril, na 4ª Divisão de Infantaria. Em seu livro, Daniela Arbex relata que o major iniciou o interrogatório num tom ríspido. O depoente, após assinar um documento de duas páginas, foi encaminhado à solitária num cubículo onde, na manhã seguinte, foi encontrado morto.
Milton estava com o lençol de sua cama enrolado em volta do pescoço. O laudo registrou como causa mortis enforcamento devido a tentativa de suicídio. Segundo os legistas, foram observados alguns hematomas no corpo, principalmente na região dos joelhos.
A notícia da morte causou impacto e revolta entre os presos. A cela foi lacrada e os companheiros de Milton começaram a contestar a tese de suicídio. Um deles, Gregório Mendonça afirmou que havia visto o corpo do colega envolto num lençol quando foi posto na cela.
As principais dúvidas que surgiram foram: como teria sido possível que um homem com mais de 1,80 m se enforcasse numa torneira de menos de 1,20 m de altura? O lençol, de pouco mais de 40 cm, seria suficiente para ser improvisado como forca?
Mesmo após a conclusão da repórter, de que o corpo de Milton estaria naquela obscura sepultura, os parentes dele jamais aprovaram um pedido de exumação dos restos mortais.
A Comissão Nacional da Verdade ainda considera o preso como desaparecido político até os dias de hoje.