Ciência
01/10/2022 às 13:00•2 min de leitura
Poucas pessoas marcaram seu nome na história do Brasil de forma tão espetacular quanto Celina Guimarães, a professora potiguar falecida há 50 anos que ficou conhecida por ser a primeira eleitora mulher registrada a conseguir votar no país. Entretanto, esse fato emblemático está longe de ser a única coisa que colocou Celina como uma cidadã muito à frente do seu tempo.
Ao longo dos seus 82 anos de vida, ela se posicionou como ativista em seu trabalho, sempre se colocando como uma educadora progressista. Se não fosse o suficiente, ela ainda atuou como juíza de futebol entre 1917 e 1919, sendo provavelmente a primeira mulher a exercer esse cargo — apesar de não existirem registros oficiais que comprovem essa afirmação.
(Fonte: Wikimedia Commons)
A conquista de Celina Guimarães como primeira mulher a votar passou longe de ser apenas uma conquista individual. Tudo começou quando o movimento feminista brasileiro se organizou para traçar estratégias e articulações políticas que resultassem em progresso para as mulheres em todo o país.
Foi a partir do crescimento do movimento e o seu contato com congressistas do Rio Grande do Norte que Celina e diversas outras mulheres potiguares puderam se alistar para servir a causa. Naquela época, os estados brasileiros tinham autonomia em relação à legislação eleitoral e a Constituição não possuía nada efetivo que proibisse as mulheres de votar.
Em 1927, então, uma nova legislação entrou em vigor no Rio Grande do Norte para regulamentar o serviço eleitoral. A "distinção de sexo" havia finalmente caído por terra e o movimento feminista deu entrada em seus primeiros pedidos de alistamento eleitoral. Tempos depois, o juiz de direito Israel Ferreira Nunes assinou um despacho que afirmava que "tendo a requerente satisfeito as exigências da lei para ser eleitora, mando que inclua-se na lista de eleitores".
(Fonte: BBC/Reprodução)
Antes de Celina Guimarães ter recebido uma positiva para seu alistamento eleitoral, muitas mulheres em várias partes do país haviam tentado o mesmo sem sucesso. Conforme publicado pela reportagem da BBC, o debate sobre o voto feminino crescia no Brasil desde 1880 e a necessidade de uma reforma já estava escancarada.
Naquela época, o movimento feminista se articulava com algumas lideranças masculinas para conseguir adesão à sua causa. Por esse motivo, Justino Lamartine de Faria mandou um telegrama solicitando que ficasse claro o direito de voto para ambos os sexos quando o congresso estadual do Rio Grande do Norte preparava uma nova lei eleitoral em 1927.
A primeira votação a contar com a participação feminina foi justamente a eleição complementar que decidiu quem ocuparia a vaga de senador deixada por Lamartine, que havia conquistado o cargo de governador do Rio Grande do Norte. Mesmo com todas as autorizações, a comissão de verificação do Senado que tinha a competência para averiguar o resultado eleitoral decidiu anular os votos das mulheres naquela eleição por serem considerados "inapuráveis".
(Fonte: BBC/Reprodução)
Embora sempre houvessem forças que tentavam frear a inserção de mulheres na sociedade, o voto de Celina Guimarães e de outras potiguares foi o primeiro passo para tudo que ainda aconteceria no Brasil. Em 1914, ela saiu de Natal e foi para Mossoró na companhia de seu marido.
Naquele lugar, assumiu a educação infantil de um grupo escolar e decidiu abolir uma prática que era comum nos colégios: os castigos físicos para punir alunos. Foi assim que, a cada ano que passava, Celina escrevia sua história não só como um símbolo político, mas também educacional e de caráter.