Estilo de vida
24/10/2022 às 08:00•3 min de leitura
É comum cruzarmos na internet com a afirmação de que Adolf Hitler – provavelmente o mais conhecido genocida da humanidade – foi indicado para o Prêmio Nobel da Paz. É verdade. Mas a história é muito mais complexa do que pode parecer. Contamos este caso neste texto!
(Fonte: Wikimedia Commons)
Hitler foi realmente nomeado em 1939, pelo político sueco Erik Gottfrid Christian Brandt. As nomeações para o Nobel só podem ser feitas por pessoas com certo prestígio. Estão inclusos aqui professores universitários, vencedores anteriores do prêmio e membros de diversos governos.
Brandt fazia parte do Parlamento sueco e fazia parte do comitê. No entanto, sua indicação pretendia ser uma espécie de piada. Ele pertencia ao Partido Social Democrata de centro-esquerda e se declarava anti-fascista. Portanto, ao nomear Hitler para o prêmio, ele pretendia fazer uma ironia e um protesto contra seus colegas políticos que também estavam apresentavam apresentando indicações para o então primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain.
Chamberlain havia assumido o cargo em 1937. Nesta época, Hitler já construía as forças armadas nazistas. O primeiro ministro tentava apaziguar Hitler e tentar evitar conflitos com a Alemanha. Em 1938, o Acordo de Munique foi assinado pela Alemanha, Reino Unido, França e Itália. Ele permitia que a Alemanha anexasse ao seu território a região de Sudetos, no oeste da Tchecoslováquia, sob a condição de que Hitler não fizesse mais exigências por territórios na Europa.
O primeiro-ministro celebrou o acordo e declarou que havia garantido a "paz para o nosso tempo". Por consequência, 12 membros do parlamento sueco o indicaram para o Prêmio Nobel da Paz.
Obviamente, a paz estava bem longe de ser atingida, e nem todos os membros do Parlamento apoiaram esta indicação. Incluía-se aqui Erik Gottfrid Christian Brandt.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Nem todo mundo sacou a ironia na indicação de Hitler. Porém, se analisarmos o texto da carta que o indica perante o Comitê Nobel Norueguês, o deboche está bem explícito.
A carta diz assim: "Por meio deste, humildemente sugiro que o Prêmio da Paz de 1939 seja concedido ao chanceler alemão e Führer Adolf Hitler, um homem que, na opinião de milhões de pessoas, é um homem que mais do que ninguém no mundo mereceu essa recompensa altamente respeitada. Documentos autênticos revelam que, em setembro de 1938, a paz mundial estava em grande perigo, e era apenas uma questão de horas para que uma nova guerra europeia pudesse estourar. O homem, que durante esse período perigoso salvou nossa parte do mundo dessa terrível catástrofe, era certamente um grande líder para o povo alemão. No momento crítico, ele voluntariamente não deixou as armas falarem, embora tivesse o poder de iniciar uma guerra mundial.
Por seu amor ardente pela paz, documentado anteriormente em seu famoso livro Mein Kampf – ao lado da Bíblia, talvez a melhor e mais popular literatura de paz do mundo – juntamente com sua conquista pacífica (a anexação da Áustria), Adolf Hitler evitou o uso de força, libertando seus compatriotas nos Sudetos e tornando sua pátria grande e poderosa. Provavelmente, se não for molestado pelos belicistas, Hitler pacificará a Europa e possivelmente o mundo inteiro.
Infelizmente ainda há um grande número de pessoas que não conseguem ver a grandeza da luta de Adolf Hitler pela paz. Com base nesse fato, eu não teria encontrado tempo para nomear Hitler como candidato ao Prêmio Nobel da Paz se não fosse por vários parlamentares suecos que nomearam outro candidato, a saber, o primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain. Esta nomeação parece ser mal pensada. Embora seja verdade que Chamberlain, através de sua generosa compreensão da luta de Hitler pela pacificação, tenha contribuído para salvar a paz mundial, a última decisão foi de Hitler e não de Chamberlain! Devemos agradecer, em primeiro lugar, a Hitler e a ninguém mais, pela paz que ainda prevalece na maior parte da Europa; e este homem é também a esperança de paz no futuro.
Como Chamberlain obviamente pode reivindicar sua parte na pacificação, ele poderia ter uma parte menor do Prêmio da Paz. Mas o mais correto a fazer é não colocar outro nome ao lado do de Adolf Hitler e assim lançar uma sombra sobre ele. Adolf Hitler é, sem dúvida, o autêntico lutador pela paz dado por Deus, e milhões de pessoas em todo o mundo depositam suas esperanças nele como o Príncipe da Paz na Terra."
A piada não foi bem recebida na época. Os antifascistas suecos ficaram indignados e denunciaram Brandt como um “louco, desajeitado e um traidor dos valores da classe trabalhadora”. Ele sofreu ameaças e teve palestras canceladas.
Brandt, na verdade, também criticava o próprio partido por não aceitar refugiados judeus alemães na Suécia, e foi um dos primeiros a falar sobre os campos de extermínio alemães na Polônia. Mas provavelmente ele jamais esperaria que sua piada fosse mal interpretada por tantas décadas.