Artes/cultura
30/03/2022 às 02:00•3 min de leitura
Além do genocídio, métodos de tortura, eugenia, ambição desenfreada, armamento pesado e um desejo extenso pela destruição sistemática, o governo nazista de Adolf Hitler também ficou conhecido pelo seu histórico em roubos.
Se, provavelmente, existir mais do que apenas conspiração sobre o que há no fundo do Lago Toplitz, o Reich roubou toneladas de barras de ouro de seus inimigos para fortalecer o próprio governo e bancar as invenções que os aniquilaram ou subjugaram. Fora o ouro, eles foram atrás de obras de artes tanto para destruir o patrimônio da humanidade quanto para serem detentores de algo que tinha muito valor.
E como se toda essa riqueza material já não fosse o suficiente, os nazistas também foram atrás de bebês para roubar, por mais absurdo que isso pareça — ainda que não para os padrões deles.
(Fonte: Pictolic/Reprodução)
Esse “programa de erradicação”, como aponta os restos de documentos que sobraram sobre o Reich, teve início em novembro de 1939, assim que a Alemanha invadiu a Polônia após o Incidente de Gleiwitz, que deu início à Segunda Guerra Mundial na Europa. A mando de Hitler, Heinrich Himmler, o líder das tropas da SS, passou um "pente fino" nos territórios ocupados pelos nazistas com o objetivo de encontrar crianças que se encaixassem no perfil de pureza racial que a Lebensborn se basearia — porque foram consideradas "valiosas demais" para serem "desperdiçadas em meio a gente comum", visto que, supostamente, eram de origem germânica só porque eram loiras dos olhos claros.
O plano também era anexar parte da Polônia, expulsar os poloneses nativos que não atendiam o ponto de vista racial do ideal nazista, e povoá-la com alemães étnicos. Esses bebês roubados de seus pais seriam criados como órfãos em instalações educacionais adequadas, ou doadas para alguma família legitimamente ariana nesse “novo mundo” criado por eles, onde no futuro nasceria uma nova sociedade extremamente pura e permeada pelos ideais.
(Fonte: Messy Nessy Chic/Reprodução)
No documento de 40 páginas intitulado "A questão do tratamento da população nos antigos territórios poloneses do ponto de vista racial", é salientado que as crianças não deveriam ter mais do que 8 ou 10 anos, pois essa era a idade limite para que o Terceiro Reich pudesse “realmente mudar sua identidade nacional, que é a última etapa da germanização final”, depois que fossem formalmente repatriadas pela Alemanha. Para isso, não só elas foram separadas de suas famílias, quanto receberam nomes alemães para que melhor se identificassem.
(Fonte: The New York Times/Reprodução)
Estima-se que, durante a campanha de sequestro por toda a Europa ocupada, cerca de 400 mil crianças “infelizes” — como foi notado pelo documento, visto que elas não eram germânicas — foram levadas pelas tropas da SS para o programa Lebensborn, dos quais 200 mil foram da Polônia, mais 30 mil da atual Bielorrúsia, com 20 mil crianças da União Soviética, e outras 10 mil da Europa Ocidental e do Sudeste.
A título de curiosidade, o Reich esperava que esse processo possibilitasse a entrada para um novo plano: a destruição da raça polonesa como etnia em até 20 anos. A princípio, eles se tornariam um grupo de trabalho escravo para todo o tipo de empreendimento nazista, como erguer a Germânia orgulhosa de Hitler, aos poucos sendo dizimados até que deixassem de existir.
E esse tratamento não se restringiria apenas aos poloneses, mas também aos ucranianos, judeus, bielo-russos, gorais, lemcos e cashubes. Isso aconteceria dividindo a população do Oriente europeu em tantas partes e fragmentos até que suas origens desaparecessem nesse processo de "refinação das raças".
(Fonte: The Reader/Reprodução)
Para os judeus, por exemplo, o plano era que fossem extintos através da emigração em larga escala para a África ou alguma outra colônia — visto que as câmaras de gás não seriam o suficiente. Mas tudo o que fosse dito sobre esses povos estava destinado a se aplicar em escala ainda maior aos poloneses, reforçando o ódio do nazismo contra eles.
Ironicamente, o plano escrito por Himmler mencionava que "por mais cruel e trágico que cada caso seja, este método é o mais suave e o melhor para a destruição física de um povo não-germânico".
Até 1945, o ano final da guerra, meio milhão de crianças haviam sido sequestradas. Boa parte delas nunca mais encontraram seus pais, porque ou eles morreram em campos de concentração, ou devido à grande descentralização, deixando um rastro obscuro do que os primórdios do plano nazista causou.