Taxa Selic: como os juros afetam as pessoas comuns?

31/03/2023 às 04:003 min de leitura

De agosto de 2022 até a publicação deste artigo, em março de 2023, a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, estava fixada em 13,75%. 

A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) de manter a taxa nesse nível gerou críticas não só do presidente Lula, mas também de economistas. Joseph Stiglitz, o vencedor do Nobel de Economia em 2001, disse uma taxa de juros alta assim é "uma pena de morte" para o Brasil. 

Mas afinal, o que é a taxa Selic e como isso afeta as pessoas comuns, que não fazem grandes investimentos ou têm financiamentos?

O que é a taxa Selic e por que ela está tão alta?

A taxa básica de juros é chamada, comumente, de taxa Selic — que é uma sigla para Sistema Especial de Liquidação e de Custódia. Ela é definida nas reuniões de um comitê formado pela diretoria do Banco Central, o já citado Copom. O Copom analista a inflação, os indicadores de atividade econômica, o cenário internacional e outros números para definir essa taxa.

Todos os juros no Brasil — financiamentos, empréstimos, investimentos... — são definidos com base na taxa Selic. Se ela sobe, os juros sobem. Se ela desce, a mesma coisa.

No podcast "O Assunto", do G1, o economista Robson Gonçalves explicou que os juros altos são vistos como um "remédio" para a inflação. Conforme eles aumentam, fica menos interessante pegar empréstimos para investir ou fazer compras — mas guardar dinheiro para render juros fica bem melhor. A ideia, com isso, é "frear" a economia, de modo que os preços se ajustem à demanda e a inflação caia. 

A questão é que, como qualquer remédio, os juros têm efeitos colaterais — e a diferença entre o remédio e o veneno é a dose correta. 

Robson também explica que os juros realmente resolvem o problema — quando a inflação é causada pela demanda, com economia aquecida. Esse não é o caso do Brasil, nem de outros países que também estão com inflação acima da média. O cenário de incertezas mundiais é o culpado pela inflação, não uma demanda aquecida. 

Nesse caso, manter a taxa de juros alta deixa apenas os efeitos colaterais, sem solucionar os problemas. É aí que está a analogia de Joseph Stiglitz. 

O Brasil está em um ciclo de alta dos juros desde 2021, quando a inflação estava batendo nos 10% ao ano. A partir disso, a Selic aumentou 12 vezes, até chegar em 13,75%. Agora, a inflação está na casa dos 5%, mas a taxa básica de juros permanece a mesma. 

Nesse cenário, o Brasil tem a taxa de juros reais — a diferença entre a taxa básica de juros e a inflação — mais alta do mundo. Em alguns países, os juros estão até abaixo da inflação. Mesmo assim, o Copom decidiu pelos 13,75% em sucessivas reuniões. Agora, também há a justificativa de que o Banco Central não pode ceder a pressões políticas...

A taxa básica de juros é definida pelo Banco Central (Fonte: GettyImages)A taxa básica de juros é definida pelo Banco Central (Fonte: GettyImages)

Como os juros afetam todos os brasileiros

Essa discussão sobre a taxa Selic é importante para todos os brasileiros — e não só para quem tem investimentos ou para a classe média, que faz financiamentos. De uma maneira ou outra, a alta dos juros afeta todos nós. 

Começando pelo óbvio: os bancos gostam de juros altos, é claro, porque eles lucram mais em qualquer empréstimo. Mas, como conta a jornalista Natuza Nery, até os banqueiros se juntaram ao governo nas críticas ao Copom: os juros altos estão diminuindo muito a busca por crédito.

Muitas pessoas estão deixando de fazer financiamentos, porque você pode esperar para trocar de carro ou comprar uma casa. Já quem faz empréstimo corre o risco de ficar inadimplente — e se tem uma coisa que banqueiro odeia, é inadimplência. 

Como a maioria dos carros são financiados, a taxa de juros já afetou a indústria automotiva: há diversas fábricas parando suas operações, até esvaziar os pátios. É aí que percebemos como a Selic afeta as outras camadas da população, já que se reflete na geração de empregos. Afinal, empresas paradas deixam de contratar — e podem demitir

Além disso, uma taxa Selic alta atrapalha o investimento em programas sociais. Isso porque o governo precisa gastar mais para honrar os juros da dívida pública, sobrando menos recursos para essas outras áreas. 

Só se beneficia da Selic alta quem tem dinheiro aplicado, especialmente em títulos da dívida pública. E nesse contexto de inflação que não é de demanda, com economia lenta, as famílias pobres precisam contrair empréstimos para bancar seus gastos, pagando juros mais altos. Na prática, isso significa tirar dos mais pobres para dar lucro a rentistas. 

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